Actividade > Notícias
Decorreu durante o dia 21/06/2008 - Sábado, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal, o Encontro Internacional subordinado ao tema: "A democracia face ao branqueamento e reabilitação do fascismo". A organização da iniciativa resultou de uma parceria entre o Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica (GUE/NGL) e a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP).
Entre as 15 e as 18 horas decorreu uma sessão de trabalho que contou com intervenções de deputados no Parlamento Europeu: Ilda Figueiredo e Pedro Guerreiro - Deputados do PCP; Marco Rizzo - Deputado do Partido dos Comunistas Italianos; Konstantinos Droutas - Deputado do Partido Comunista Grego, no Parlamento Europeu. Os deputados descreveram a situação existente no seu país e criticaram as políticas seguidas pela União Europeia (UE), particularmente as medidas que, nos últimos tempos, pretendem equiparar o comunismo ao fascismo, procedendo assim a uma inqualificável deturpação da história, comparando os que resistiram e lutaram pela liberdade com os que ameaçaram a humanidade com as suas concepções ditatoriais e criminosas.
Por outro lado a EU acolhe no seu seio países que têm vindo a desenvolver políticas que criminalizam as forças da resistência, como o exemplo da República Checa, que recentemente ilegalizou a KSM (União da Juventude Comunista da República Checa). A este respeito, o deputado Grego anunciou que o Parlamento Grego aprovou recentemente, por grande maioria, um voto de repúdio à ilegalização da KSM.
Em nome da URAP realizaram-se três intervenções. Uma sobre o papel da juventude na luta contra o branqueamento do fascismo, e outra sobre a caracterização do regime fascista em Portugal, por último, em nome do Conselho Directivo da URAP, Aurélio Santos, destacou que: "É bom não esquecer que o ascenso do fascismo na Europa, após a Primeira Guerra Mundial, se fez no quadro de grandes crises sociais e políticas. O balanço dessa época, que levou ao desencadeamento da 2ª Guerra Mundial, ainda está por fazer. Mas no mundo de hoje encontramos traços igualmente inquietantes", defendeu ainda que: "Os crimes do fascismo não se deveram apenas à crueldade dos que os praticaram. Foram parte integrante de uma política que só pelo terror podia ser imposta".
Relativamente ao momento que actualmente vivemos, o Coordenador da URAP adiantou que: "Na Europa actual assiste-se à aplicação, por parte de regimes democráticos, a políticas idênticas às que levaram à implantação de regimes fascistas. O seu elenco é longo, mas todas elas têm a atravessá-las uma expressão que dá a volta ao mundo: a globalização selvagem, isto é, a selvajaria da economia que convencionou chamar-se a si própria neoliberal. O que temos pela frente agora é que tais políticas se apresentam e aplicam reivindicando um estatuto democrático, isto é, procurando sempre ao menos apresentar-se como democráticas. Vivemos hoje num mundo em que a liberdade, o progresso, o bem-estar social, as esperanças de futuro andam minados pelas ameaças de uma globalização que agrava à escala planetária factores de crise económica e social. A violência da exploração, da injustiça social, corrói a democracia, retira-lhe o apego das pessoas, porque ela não é acompanhada de uma democracia económica e social, dando-se prioridade à concentração dos lucros, com as medidas a que isso obriga e as consequências a que inevitavelmente leva."
Neste sentido, Aurélio Santos defendeu que: "Não podemos deixar que o apagamento do que foram as ditaduras fascistas, a reabilitação dos seus responsáveis, o ressurgimento de ideologias fascistas e de práticas políticas nelas inspiradas, tenham como contraponto a desvalorização e degradação da democracia. Temos como preocupações principais o reforço da participação da URAP na defesa da democracia, com a sua projecção na sociedade portuguesa, o desenvolvimento de iniciativas que reforcem os sentimentos antifascistas do povo português. A nossa União considera que nesta luta não podem estar apenas empenhados os que viveram e conheceram a ditadura fascista. A participação das novas gerações é essencial. Procuramos integrar a todos os níveis nas estruturas da nossa União os jovens".
Também presente no encontro, Michel Vanderborght - Presidente da Federação Internacional de Resistentes (FIR), informou os presentes do trabalho desenvolvido pela sua organização, assim como da luta desenvolvida no seu país, a Bélgica. Alertou também para o Encontro Internacional que partidos de extrema-direita de toda a Europa pretendem realizar brevemente em Colónia, Alemanha. Na altura, referiu que o mesmo encontro esteve planeado para Portugal e não se realizou devido à pressão das organizações antifascistas, que tudo fizeram para que Portugal não se transformasse num local de encontro de organizações fascistas na Europa. Anunciou um conjunto de acções para impedir esta reunião na Alemanha.
Nesta sessão interveio também um Vereador da Câmara Municipal de Setúbal - Eusébio Candeias, e a Presidente da Assembleia Municipal de Setúbal - Odete Santos, que destacaram a pertinência de realizar uma iniciativa com estas características em Portugal, sublinhando que Setúbal foi a escolha ideal para realizar o encontro, tendo em conta que é também uma cidade da resistência, onde se realizaram grandes lutas contra o fascismo e a exploração.
Na sessão pública, realizada entre as 21 e as 23H30, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal, participaram dezenas de convidados. Foram abordados os temas discutidos durante a tarde, tendo realizado intervenções, os deputados presentes, o Presidente da FIR, Aurélio Santos, Coordenador da URAP, Odete Santos, Presidente da Assembleia Municipal de Setúbal e Maria das Dores Meira, Presidente da Câmara Municipal de Setúbal.
No dia 22 de Junho - Domingo, os deputados europeus e os convidados presentes no Encontro Internacional realizaram uma visita ao Forte de Peniche, onde puderam conhecer o Museu da Resistência, tomando contacto com a prisão política que durante décadas (1934-1974) cerceou a liberdade a milhares de resistentes antifascistas e lutadores pela liberdade. No museu foram recebidos pelo Vice-Presidente da Câmara Municipal de Peniche, Jorge Amador.