Intervenção
na Sessão de Homenagem a António Dias Lourenço nos 56 anos da sua
fuga da Prisão de Peniche (1954-2010)
Estamos
aqui hoje reunidos para evocar a memória de António Dias Lourenço,
falecido muito recentemente, e para o fazer iremos projectar a
curta-metragem O
Segredo,
de Edgar Feldman, premiada no Festival Internacional de Cinema
Documental de Lisboa, DocLisboa,
em 2008.
Parece-nos
ser uma homenagem interessante em que teremos as palavras do próprio
Dias Lourenço relatando os pormenores da sua audaciosa e corajosa
fuga do dia 18 de Dezembro de 1954, exactamente há 56 anos.
Juntamente
com esta projecção, gostava também de chamar a atenção para a
exposição presente nesta sala que evoca exactamente o percurso de
vida de António Dias Lourenço, dando realce aos momentos mais
marcantes da sua vida dedicada inteiramente à luta pela melhoria das
condições de vida do povo e do país, numa luta custosa com muito
sofrimento e com muitos obstáculos.
Mas, e penso que tal
deve ser destacado, uma luta inspiradora para os dias que vivemos
actualmente, sobretudo para as novas gerações, num tempo marcado
por muitas transformações e em que muitos dos direitos conquistados
arduamente já foram destruídos ou estão profundamente ameaçados.
E é por isso que estes exemplos de destacados membros da resistência
antifascista em Portugal nunca perecerão e estarão sempre junto a
nós e a acompanhar-nos nas muitas lutas que nos aguardam no amanhã.
Parece
apropriada a acepção de que uma imagem vale mais que mil palavras,
sobretudo tendo em conta que pela voz de António Dias Lourenço
nesta curta-metragem podemos ter um pequeno testemunho das muitas
histórias e episódios que ele próprio relatou e como só ele sabia
fazer, já em liberdade, após a Revolução de Abril. Verificamos
também que as lutas que compuseram a resistência antifascista
tiveram sequência e foram empreendidas por várias gerações de
portugueses, já que aqueles que iniciaram a resistência
antifascista logo após o golpe de 28 de Maio de 1926 em muitos casos
não puderam testemunhar o que foi a madrugada libertadora de Abril e
o processo que se seguiu à Revolução de 25 de Abril de 1974.
Porém, em casos
como o de Dias Lourenço, em que o melhor das suas vidas foi dado
para a resistência e luta ao fascismo estes resistentes
antifascistas ainda puderam dar um enorme contributo para a
construção de um Portugal de liberdade, democracia, paz, justiça
social, cooperação e de amizade com outros povos. Esse contributo
inestimável, pleno de energia, combatividade, conhecimento e
criatividade de António Dias Lourenço foi dado praticamente até ao
fim da sua vida.
18 de Dezembro de 2010