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Estamos aqui
prestando homenagem aos patriotas portugueses que, numa conjuntura
particularmente difícil, quando pela Europa avançava a maré negra
do fascismo, se lançaram corajosamente na luta contra a ditadura
salazarista e por isso foram lançados para o campo de concentração
do Tarrafal - um campo de concentração criado e preparado segundo
os modelos nazis que nessa época se estendiam já como uma praga
sinistra sobre a Alemanha de Hitler.
Não foi em
câmaras de az que foram assassinados os patriotas cujos restos
mortais
aqui se
encontram. A hipocrisia que caracterizou o salazarismo também aqui
se demonstrou. É que no Tarrafal, quando para lá fora lançadas as
primeiras levas de antifascistas portugueses, havia um assassino
silencioso, que podia executar as funções das câmarâs de gaz
nazis. Esse executante silencioso era o mosquito anofeles, que
espalhando o paludismo em pessoas depauperadas pelos trabalhos
forçados e sem tratamento, rapidamente levava à morte. A maior
parte dos que estão neste mausoléu foram mortos pelas biliosas,
devidas a sucessivos ataques de paludismo sem tratamento (só estou
aqui para passar certidões de óbito - dizia o médico do campo).
O Tarrafal é uma
expressão concreta do hipócrita cinismo da ditadura de Salazar. Mas
é mais do que isso. É também um símbolo do que foi essa versão
do fascismo.
Temos aqui,
nestas romagens ao Mausoléu dos tarrafalistas, falado naquilo que o
Tarrafal significa para o povo português. Mas o espectro do Tarrafal
não ensombra só a história do povo português. Não podemos
esquecer que em 1962 o Tarrafal foi reaberto - para então nele
serem lançados patriotas dos movimentos de libertação das colónias
portuguesas.
Também lá
estão, no cemitério do Tarrafal, junto das campas onde estiveram
sepultados os corpos dos portugueses que agora aqui estão, as campas
dos patriotas caboverdianos, guineenses e angolanos que ali morreram
também.
E é necessário
lembrarmos aqui: O campo de Concentração do Tarrafal só foi
definitivamente encerrado no dia 1º de Maio de 1974. Cinco dias
depois da nossa revolução do 25 de Abril, que pôs fim aos 48 anos
de ditadura fascista e colonialista instaurada por Salazar e
continuada por Caetano.
Nesse dia, numa
grande manifestação popular, milhares de caboverdianos
concentraram-se em frente aos portões do Campo de Concentração e
não arredaram pé sem obrigarem à abertura dos portões e à
libertação de todos os presos ali detidos.
A presença dos
40 portugueses nessa comemoração, numa iniciativa organizada pela
URAP, constituiu sem dúvida uma grande prova não só da memória
viva que o Tarrafal tem entre o povo português como também unidade
entre o povo português e os povos das colónias portuguesas, unidos
na luta comum contra a ditadura fascista e colonialista e Salazar e
Caetano.
Por essa mesma
ocasião a Fundação Amílcar Cabral, do o apoio do Presidente de
Cabo Verde, organizou um Simpósio Internacional sobre o Tarrafal.
A URAP esteve lá,
a convite da Fundação. Participaram no Simpósio ministros de Cabo
Verde, Guiné e Angola, em representação dos seus governos.
Lamentavelmente, o Estado português não teve presença nessa
iniciativa.
Uma das
principais conclusões do Simpósio foi o apelo par fazer do
Tarrafal, como Património Mundial, um Memorial da Luta dos Povos
pela Liberdade.
A URAP, no
Simpósio, apoiou calorosamente esse apelo.
O Tarrafal, com
efeito, não é apenas um símbolo da luta do povo português contra
o fascismo. É também uma expressão da luta comum pela liberdade,
contra o fascismo e o colonialismo, que uniu os povos de Portugal,
Angola, Guiné e Cabo Verde. Incluir o Tarrafal no mapa dos espaços
de Património Mundial como Memorial da Luta pela Liberdade é um
objectivo que se enquadra tanto na nossa luta contra o fascismo como
na herança comum de luta contra o colonialismo que uniu os povos de
Portugal e das colónias portuguesas.
A Assembleia
Geral da URAP realizada a 27 de Fevereiro aprovou uma Moção
atribuindo à direcção da URAP a responsabilidade de tomar as
iniciativas que julgar convenientes para que o Tarrafal tenha essa
consagração e para que o Estado português, agindo de acordo com o
regime democrático instituído com o 25 de Abril, tenha participação
activa nesse propósito.
A URAP
garante-vos que fará tudo o que esteja ao seu alcance com esse
objectivo.
A nossa acção e
a nossa luta são parte indispensável da luta pela liberdade e a
democracia, num mundo em que as concepções e perigos do fascismo
pretendem renascer.
É um apelo à
vossa participação e apoio que também aqui deixamos.
Tarrafais
- nunca mais!