Um novo livro da URAP, “Lutaram pela Liberdade – Breve história da luta de Alenquer contra a ditadura (1926-1974): os presos políticos” foi lançado, dia 25 de Abril, na Câmara Municipal de Alenquer.
Integrado na colecção "Páginas de Memória", o livro refere-se à luta contra a ditadura no concelho de Alenquer e aos presos políticos, naturais deste concelho ou aí residentes na altura da sua prisão, que passaram pelas cadeias políticas do fascismo.
A apresentação do livro, que foi elaborado por Carlos Ademar, Carlos Areal, José Lourenço, Maria José Porém, Palmira Areal, Rosália Galvão e Vladimiro Matos, contou com a presença de membros da direcção da URAP e do Município de Alenquer.
“Era um tempo obscuro, com uma educação posta ao serviço de uma ideologia que nos tolhia o pensamento, sem liberdade, criatividade ou questionamento”!, disse Carlos Areal, da URAP, na sua intervenção.
“Era um tempo sem direitos e carregado de deveres, em que a medicina não chegava aos lugares mais remotos, os rapazes eram arrancados das suas vidas para uma guerra colonial sangrenta e os mais elementares direitos eram negados às mulheres, a quem se impunham funções familiares numa sociedade profundamente patriarcal. Aos trabalhadores pagava-se pouco e exigia-se muito, sem liberdade sindical ou qualquer vislumbre de poder reivindicativo”, acrescentou.
Em seguida, o orador falou da censura, do Portugal “isolado, atrasado e infeliz”, para enaltecer “os que resistiam e lutavam, com enormes sacrifícios pessoais, fintando as armadilhas do regime, fugindo às artimanhas de uma polícia política que perseguia, prendia e torturava”.
Numa intervenção pincelada com aspectos da sua vida pessoal, Carlos Areal refere como soube do 25 de Abril, ainda estudante, e lembrou como «a professora explicou aos seus alunos o significado da palavra “Democracia”».
No Portugal de Abril havia então “da música à educação, da participação cívica à intervenção política, da liberdade de associação ao direito de reunião, do Serviço Nacional de Saúde à alegria de uma nova Constituição, da paz conseguida à conquista pela igualdade entre os povos e à sua libertação do jugo colonialista”, garantiu.
Depois de afirmar que “construímos os nossos sonhos com o ritmo dos três Dês: Democratizar, Descolonizar e Desenvolver. (…), Carlos Areal lembrou que nas vésperas do 50º aniversário da Revolução dos Cravos, chegam arrepios de ideias que querem destruir o Estado Social, colocar em causa a universalidade do acesso à saúde e à educação, enfraquecer a soberania do nosso país em matérias económicas, deturpar o acesso à habitação como conquista de Abril plasmada na nossa Constituição, ignorar a igualdade nos planos salarial, étnico ou social, enfraquecer o tecido cultural por se considerar um bem dispensável, deixar sair de ânimo leve os jovens mais qualificados”.
“Que a memória dos que lutaram nunca se apague. Que as novas gerações saibam o que por aqui vivemos durante 48 anos. Que nunca dêem a democracia por garantida para que por ela lutem todos os dias (…).
Foi para isso que se fez Abril, o mês que vamos todos construindo um pouco, todos os dias”, disse para terminar.