O III Encontro pela Paz decorreu, dia 28 de Outubro, no Pavilhão Municipal de Vila Nova de Gaia, com a participação da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), terminando com a aprovação do Apelo à Defesa da Paz nos 50 anos de Abril, pela paz todos não somos demais!
Teresa Lopes e Carlos Mateus, ambos do Conselho Directivo, foram os oradores da URAP no encontro, que reuniu cerca de 800 pessoas.
A sessão de abertura do III Encontro pela Paz prestou solidariedade aos palestinianos vítimas de numa guerra que está a dizimar a população da Faixa de Gaza - materializada nas intervenções dos oradores e no porte dos tradicionais lenços brancos e pretos da Palestina -, contou com as intervenções de Eduardo Victor Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, e Ilda Figueiredo, presidente do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), que propôs o encontro.
Carlos Mateus realçou a participação da URAP no “encontro com cerca de 300 sócios e amigos inscritos e vindos de todo o país (…) tomando posição inequívoca contra o militarismo e a permanente corrida aos armamentos, pela solidariedade entre os povos e a resolução pacífica dos conflitos, pela dignidade e respeito pela vida humana”.
Teresa Lopes, que falou na sessão da manhã do encontro, denominada Paz e Desarmamento, após caracterizar a URAP como “uma associação que tem como objecto a história e a memória da luta e resistência dos portugueses contra a opressão, pela liberdade e a democracia, contra o esquecimento e o branqueamento do fascismo e seus crimes (…)”, lembrou que foi o 25 de Abril de 1974 que permitiu a paz nas colónias portuguesas após 13 anos de luta dos movimentos de libertação de Angola, Guiné- Bissau, Moçambique e Timor.
“Uma guerra que mobilizou um milhão de soldados (apenas 3% pertencentes aos quadros militares), ceifou a vida de mais de 8 000 jovens portugueses e quantos outros milhares de africanos, para além dos 30 mil que ficaram estropiados física e psicologicamente”, disse.
Depois de citar os primeis dois pontos do Art.º7 (Relações Internacionais) da Constituição da República Portuguesa e de recordar que o governo se recusa a assinar o Tratado de Proibição das Armas Nucleares, Teresa Lopes sublinhou que “Portugal rege-se nas relações internacionais pelos princípios da independência nacional, do respeito dos direitos humanos (…)” e que “preconiza a abolição do imperialismo, do colonialismo e de quaisquer outras formas de agressão, domínio e exploração nas relações entre os povos, bem como o desarmamento geral, simultâneo e controlado (…)”.
Referindo-se ao actual conflito que grassa no Médio Oriente, Teresa Lopes disse que “a URAP manifesta a sua solidariedade para com as vítimas inocentes da Palestina e de Israel e reclama à comunidade internacional para obrigar o governo da extrema-direita de Israel a parar com o genocídio e a cumprir as resoluções das Nações Unidas que exigem a criação do Estado da Palestina com as fronteiras de 1967 e a capital em Jerusalém Oriental, o fim dos colonatos israelitas e o retorno dos refugiados”.
Carlos Mateus fez um breve relato do trabalho da URAP, destacando a “criação do Museu Resistência e Liberdade, na Fortaleza de Peniche, (…) cuja inauguração está prevista para o dia 27 de Abril de 2024”; as diligências para a “transformação da antiga sede da PIDE no Porto, na Rua do Heroísmo, em museu (…)”; a intervenção “na denúncia dos perigos que para a democracia representa a ascensão, desde logo em Portugal e na União Europeia, de forças neofascistas e de extrema-direita, xenófobas, racistas e belicistas, (…) e mais recentemente com o inqualificável prosseguimento da escalada genocida do povo palestiniano”.
O orador anunciou a conferência que a URAP vai realizar no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, em Lisboa, onde conta com a presença do secretário-geral e do presidente da Federação Internacional dos Resistentes (FIR), e de organizações de resistência de diversos países entre as quais portuguesas.
Após as sessões da tarde - Cultura e Educação para a Paz e Solidariedade e Cooperação -, foi aprovado o Apelo à Defesa da Paz que salienta “a oportunidade e a importância do encontro, num momento tão complexo da situação internacional” e chama à “convergência de vontades para a acção em defesa da paz, considerando-a essencial à vida humana e uma condição indispensável para a liberdade, a soberania, a democracia, os direitos, o progresso social e o bem-estar dos povos – para a construção de um mundo melhor para toda a Humanidade”.
O documento reconhece que “o espírito e os princípios da Carta das Nações Unidas e do direito internacional são a base fundamental para o fim do militarismo, da escalada armamentista e da guerra, assim como para defender e promover a paz e o desenvolvimento de relações mais equitativas entre os povos de todo o mundo” para afirmar a necessidade da “promoção de uma cultura de paz e de solidariedade entre os povos, dando particular atenção aos povos vítimas de ingerência, de agressão e de opressão, incluindo os migrantes e os refugiados, e desenvolvendo uma acção de incentivo à paz e à cooperação em alternativa à guerra e à rivalidade nas relações internacionais”.
Realça igualmente a “importância à educação para a paz, nomeadamente junto das novas gerações”, a “premência do fim das armas de destruição em massa, nomeadamente de todas as armas nucleares” e a oportunidade da sua defesa durante as sessões comemorativas dos 50 anos da Revolução de Abril.
Os diversos oradores do encontro centraram as intervenções sobre a dramática situação internacional e propuseram acções concretas de esclarecimento e solidariedade através de debates, sessões, concertos, exposições, edições. Ao mesmo tempo, frisaram que o conceito de paz é mais do que a mera ausência de guerra, defendendo uma paz com justiça e não com submissão.
O encontro de Vila Nova de Gaia segue-se a um primeiro encontro em Loures, em 20 de Outubro de 2018, e em Setúbal, em 5 de Junho de 2021. Para além do CPPC, organizaram e participaram representantes da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto; da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP-IN); da Federação Nacional dos Professores; da Juventude Operária Católica; do Movimento Democrático de Mulheres; do Movimento dos Municípios pela Paz; do Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz do Médio Oriente; da Obra Católica Portuguesa de Migrações; da Câmara Municipal de Setúbal; da Câmara Municipal de Évora (coordenadora em Portugal de Mayors of Peace); da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia; e da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP).