A URAP esteve junto ao Monumento de homenagem aos Libertadores e aos Libertados, dia 9 de Dezembro, junto à estação da CP de Caxias, para evocar a fuga de oito membros do PCP da Cadeia de Caxias, dia 4 de Dezembro de 1961, que constituiu uma enorme humilhação para a ditadura fascista de Salazar.
José Pedro Soares, coordenador da URAP e ex-preso político, saudou os 60 antifascistas presentes e agradeceu à Câmara Municipal de Oeiras o apoio logístico uma vez mais prestado para a realização da iniciativa.
Depois de referir que a URAP considera indispensável continuar a homenagear os que foram protagonistas da fuga de Caxias para regressarem de imediato à luta contra o fascismo, deu a palavra a Domingos Abrantes, o único elemento ainda vivo dos oito fugitivos.
Domingos Abrantes elogiou, na sua intervenção, o sacrifício, coragem e determinação do seu camarada António Tereso, que a PIDE considerava “rachado”, na preparação da fuga, e sublinhou a humilhação que constituiu para o governo fascista aquela fuga e o alento que deu a todos os que lutavam contra a ditadura fascista.
O orador destacou a importância que teve a continuação da luta para que finalmente se alcançasse a liberdade e a democracia com o 25 de Abril de 1974, e a necessidade de os democratas na actualidade estarem vigilantes e prosseguirem a luta contra as políticas de direita e as ameaças que um pouco por toda a parte representam as forças de extrema-direita, que ocupam lugares de destaque na governação de muitos países da própria Europa.
Duarte Martinho, do Conselho Nacional da URAP, falou em seguida para salientar que “a liberdade foi (e é) conquistada, não foi (nem é) concedida”.
Após lembrar Adriano Correia de Oliveira que cantou “mesmo no tempo mais triste, em tempos de servidão, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”; citou Urbano Tavares Rodrigues que “em entrevista à RTP em Outubro de 1974, afirmou que tinha resistido à tortura essencialmente por dois motivos: o primeiro, companheirismo (uma mesma luta); o segundo mas não menos importante, respeito por si próprio”.
Depois de louvar os resistentes e a luta pela democracia; de citar a Constituição da República; e de fazer uma análise nacional e internacional da actualidade, Duarte Martinho disse: “nasci bem depois do 25 de Abril de 1974; nasci em 1997 mas - e isto importa - num país em que, fruto da vossa luta - não tive de experienciar a repressão fascista. Como eu, tantos! Não é pouca coisa. A liberdade política que temos hoje permite-nos prosseguir a luta pelos outros direitos conquistados em Abril com outra dinâmica”.
Para encerrar o evento, assistiu-se a um momento cultural com os Amigos de Abril que cantaram canções de intervenção.
Para além de Domingos Abrantes, fugiram de Caxias José Magro, Francisco Miguel, António Gervásio, Guilherme Costa Carvalho, Ilídio Esteves, Rolando Verdial e António Tereso, dirigentes do PCP que aguardavam em Caxias a transferência para a Fortaleza de Peniche.
Os protagonistas aproveitaram a confiança que AntónioTereso, mecânico, gozava junto dos guardas da cadeia, que julgavam tê-lo “rachado”, e delinearam um plano de fuga que passava pela utilização de um automóvel blindado pertencente a Salazar cujo arranjo lhe estava confiado.
Tereso, ao volante do carro blindado, atravessou de marcha atrás o túnel que ligava o pátio principal (com acesso ao exterior), onde uma dezena de presos encenava um jogo de bola durante o “recreio”. Quando o carro chegou ao pátio interior, os presos rodearam a viatura e, ao grito de “Golo!”, entraram para o Chrysler, arrancando a grande velocidade pelo túnel e rebentando o portão exterior.