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Trocar experiências e avançar
Decorreu , em Sines, o Encontro Regional de Setúbal dos núcleos da URAP neste distrito, a 20 de Setembro, nas instalações da Sociedade Musical e que contou com o apoio da Câmara Municipal, reuniu centena e meia de activistas vindos de Almada, Barreiro, Grândola, Moita, Palmela, Seixal, Setúbal e Sines, todos do distrito de Setúbal, e ainda do núcleo de Santa Iria da Azóia, no concelho de Loures.
A mesa que presidiu aos trabalhos era constituída pelos companheiros Durval Ferreira, do núcleo de Sines; Américo Leal, coordenador do núcleo de Setúbal, que apresentou a mesa e dirigiu os trabalhos; Aurélio Santos, coordenador nacional da URAP; António Correia, presidente da Junta de Freguesia de Sines; e Manuel Coelho, presidente da Câmara Municipal de Sines. Esteve ausente, por motivos familiares, o companheiro Mário Araújo, do núcleo de Almada.
Experiências e actividades
Américo Leal agradeceu a forma calorosa como a URAP tinha sido recebida, em anterior encontro, no município sineeense, pela autarquia, pela Sociedade Musical e por muitos outros companheiros, e que justificou voltar a realizar nesta mesma localidade este Encontro.
Depois de reafirmar o papel imprescindível da URAP na defesa da Paz e da Democracia, afirmou que "o Encontro Regional dos núcleos da URAP é, a nosso ver, a oportunidade de proceder à troca de experiências sobre as suas actividades, as suas iniciativas, as suas dificuldades e como as vencer, tendo como objectivo o reforço orgânico dos núcleos e das suas actividades em torno dos grandes objectivos como são a defesa da Paz, da Democracia e da Liberdade no nosso País e no mundo".
Após saudar o recém-criado núcleo de Palmela, Américo Leal apresentou uma descrição circunstanciada da actividade do núcleo de Setúbal no último ano e meio e que apesar das dificuldades conseguiram realizar o que estava agendado para 2008. Manter a sede do núcleo aberta nos dias de semana, realizar sessões e exposições em escolas, visitas de estudo, intervenção na rádio local e assinatura de protocolos com a Câmara Municipal e 4 Juntas de Freguesia bem como com a Escola Superior de Educação de Setúbal, foram algumas das actividades desenvolvidas no ano que está prestes a findar, tendo sido já aprovado o plano de actividades para 2009.
Manuel Coelho, presidente da Câmara Municipal de Sines, agradeceu a presença da URAP, reconhecendo "o vosso exemplo, pois muitos de vós atravessaram o período negro da nossa história" e lembrando que "Sines é uma terra de lutas e de lutas exemplares como foi o caso da greve dos corticeiros, de que brevemente se comemora o centenário". É uma terra solidária com a luta de outros povos, daí o "nosso apoio à URAP".
Outros companheiros, no período da manhã, exprimiram as suas próprias experiências pessoais, muitas delas ligadas às difíceis condições de vida dos trabalhadores e do povo durante o fascismo e à aurora do 25 de Abril. Foi o caso da companheira Lucinda, do núcleo do Seixal, que reivindicou "o reconhecimento público dos direitos e da autoridade moral dos combatentes da resistência antifascista" e ainda de Fernando Santos, do Alto do Seixalinho, de Perpétua Ramalho, da Amora, e de Rafael Rodrigues, do Pinhal Novo.
Luís Figueiredo, de Santa Iria da Azóia, intervindo em nome do núcleo local, fundado em 2006 e com 42 membros, enunciou alguma da sua actividade - a qual não teria sido possível sem o apoio da Junta de Freguesia, lembrou - como a realização de exposições, visitas de estudo ao fluviário de Mora e ao Museu do Neo-Realismo e a produção de dois comunicados, sendo um deles sobre a guerra do Iraque e outro sobre o recente Encontro Internacional promovido pela URAP em Setúbal.
Defender a democracia e a paz
Luís Amaro, de Grândola, lembrou as ameaças à Paz provocadas pela continuação das políticas imperialistas promovidas e protagonizadas pelo imperialismo norte-americano e o que isso significa em termos do ressurgimento de ideários fascistas, de que o racismo e a xenofobia são um dos aspectos.
Da mesma forma, Francisco Lobo, do núcleo de Setúbal, membro da Direcção Nacional da URAP e director deste nosso boletim, chamou a atenção para "um aspecto que me parece importante ter presente": a criminalidade a que a comunicação social tem dado expansão e que provoca a insegurança a muitos cidadãos os quais reagem com expressões como "no tempo do Salazar isto não acontecia" e indo mesmo mais longe, ao advogarem o regresso de um regime idêntico.
Francisco Lobo reiterou o papel da URAP na denuncia desta situação e esclarecendo as pessoas sobre a responsabilidade desta situação - o capitalismo.
A preocupação de assegurar a continuidade da acção da URAP levou Alberto Pereira, do núcleo de Setúbal, a propor a alteração da designação da URAP - em vez de ser União de Resistentes Anti-Fascistas passaria a ser União dos Resistentes e dos Anti-Fascistas Portugueses, de modo a integrar mais facilmente os jovens, e apelou a uma maior responsabilização destes.
E assim se chegou a outro momento de convívio - o da caldeirada, confeccionada pelo núcleo de Sines e por outros amigos, debaixo da orientação do companheiro Durval Ferreira.
Cantar a liberdade
Depois de almoço, a mesa deu a palavra a alguns poetas populares que exercitaram os seus dotes debaixo do mote da Democracia e da Liberdade.
A exiguidade do espaço que temos disponível para este artigo não nos permite a transcrição de algumas das quadras, mas o anúncio dos seus autores é possível - Henrique Mateus, de Setúbal; Rafael Rodrigues, do Pinhal Novo; e Lenine, do Barreiro.
Depois deste intermezzo literário, seguiram-se outras intervenções conforme nos aproximávamos do fim dos trabalhos. Foi o caso de Belchior, do Seixal; de Raul Costa, de Grândola, que, emocionado, não hesitou em afirmar que "apesar dos meus oitenta anos a minha disposição para a luta é como se tivesse vinte"; ou ainda de Durval Ferreira, do núcleo de Sines.
O companheiro Jorge Silva, presidente da Junta de Freguesia do Vale da Amoreira, no concelho da Moita, depois de enumerar as dificuldades com que se debate a autarquia, nomeadamente com a integração de jovens, demonstrou que com trabalho é possível avançar no bom caminho. Alguns dos trabalhos feitos pelos jovens desta freguesia foram oferecidos à autarquia sineense e à URAP.
Vítor Zacarias, membro da Direcção Nacional da URAP, disse, à laia de conclusão: "Temos feito alguns encontros e com este quisemos fazer um ponto da situação e ver em que medida, politicamente, a nossa luta está a ser concretizada, sendo através da audição dos vários núcleos que é possível saber o que se passa. Este foi o grande objectivo."
Pegando na proposta de alteração do nome da URAP feita por Alberto Pereira, Vítor Zacarias disse que "a URAP não é a União dos Resistentes mas sim a União de Resistentes, sejam eles antigos ou modernos, tenham eles 50, 80 ou 20 anos".
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Aurélio Santos
«Confiamos no futuro»
Para encerrar o Encontro, Américo Leal deu a palavra a Aurélio Santos, coordenador do Conselho Directivo da URAP. Publicamos em seguida alguns excertos da sua intervenção.
"Haverá quem diga que num regime democrático como aquele que foi criado em Portugal com a Revolução de Abril, uma organização de resistência antifascista como a URAP já não seria necessária.
Nada mais errado do que julgar assim. Seria grave erro pensar que o 25 de Abril pôs em definitivo Portugal ao abrigo de regimes autoritários ou ditatoriais que restabeleçam métodos e políticas que o fascismo impôs a Portugal durante a ditadura de Salazar e Marcelo Caetano."
"A URAP foi criada pelos antifascistas que durante a ditadura formaram a Comissão de Socorro aos Presos Políticos - organização que com grande coragem afrontava o regime no coração da sua política repressiva. Mas a URAP não é uma organização de sobreviventes que lutaram contra a da ditadura fascista. É uma organização aberta a todos os que querem hoje defender a democracia, querem lutar para que em Portugal não voltem métodos e políticas como as que a ditadura fascista impôs ao povo português."
"Associando-se a todas as forças democráticas e progressistas de Portugal, a URAP desenvolve por todo o País inúmeras iniciativas, envolvendo quem se revê na defesa dos valores da liberdade e na denúncia das tentativas de branqueamento do fascismo. Na continuação natural da luta antifascista, temos actualmente duas preocupações fundamentais na nossa actividade: por um lado, combater as campanhas em curso de branqueamento da ditadura fascista, de esquecimento das lutas e daqueles que mais contribuíram para o combate antifascista; por outro lado, defender os ideais de democracia e liberdade que fazem parte do nosso património histórico, combatendo todas as formas de perversão e degradação da democracia. (...)"
"Não desligamos os métodos do fascismo da política praticada pelos governos fascistas. E também não reduzimos a condenação do regime fascista aos seus métodos de violência, repressão e terror. Esses métodos não se deveram apenas à crueldade dos que os praticaram. Eram necessários para impor a política de exploração que o regime praticava. (...)"
"Apesar dos perigos e dificuldades que agora se vivem - confiamos no futuro. Confiamos na juventude, na força dos trabalhadores, nos povos, na pessoa humana, no crescimento da consciência de que a humanidade precisa de paz e de um desenvolvimento mais harmonioso, mais justo e mais humano, em todo o planeta Terra."