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Margarida Tengarrinha
Um sério alerta contra os perigos da guerra
Nos dias 28 e 29 do passado mês de Setembro realizou-se em Lisboa a Conferência Europeia em Defesa da Paz, ao mesmo tempo que em Évora decorria a Reunião dos Ministros da Defesa da União Europeia.
É significativo que, enquanto toda a comunicação social deu um relevo estrondoso à reunião de Évora, de contornos claramente belicistas, tivesse mantido um silêncio absoluto sobre a Conferência Europeia pela Paz.
Este bloqueio generalizado da comunicação social a uma realização tão importante, promovida pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação, pelo Conselho Mundial da Paz e pelo Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica do Parlamento Europeu, fez-nos recordar os velhos tempos em que a palavra Paz era considerada subversiva e uma verdadeira caça às bruxas era desencadeada contra os partidários da Paz.
A Conferência de Lisboa teve como lema "Desmilitarizar a Europa, Defender a Paz".
Estiveram presentes várias dezenas de activistas de 20 organizações e movimentos da Paz de 14 países: Alemanha, Bélgica, Chipre, Dinamarca, Espanha, França, Grécia, Geórgia, Polónia, República Checa, Sérvia, Suiça, Turquia e Portugal.
O Conselho Mundial da Paz foi representado pelo seu Secretário-geral Athanasios Pafilis e pelo Secretário-executivo Iraklis Tsavdaridis.
Intervieram também deputados do Parlamento Europeu oriundos de Portugal, Grécia, Espanha, Alemanha e República Checa.
Dezenas de prestigiadas e representativas organizações nacionais e internacionais participaram nos trabalhos, entre elas a Federação Democrática Internacional das Mulheres (FDIM), a Federação Internacional dos Trabalhadores Científicos e a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP).
Durante dois dias de intensos trabalhos os participantes informaram, debateram e abordaram com profundidade não só o incremento da militarização da União Europeia, intimamente associada à NATO e a projectada instalação de bases dos EUA na Polónia e República Checa, mas também as crescentes ameaças à paz e segurança globais, em consequência da militarização das relações internacionais e da multiplicação das agressões imperialistas em todo o mundo.
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Uma das declarações da Conferência acentua: "As relações internacionais estão a ser crescentemente militarizadas, com a União Europeia a adoptar, cada vez mais frequentemente, posições agressivas nas suas relações internacionais e no que diz respeito à resolução de conflitos emergentes, situações que perduram, ou guerras latentes. A cooperação cúmplice da União Europeia com a NATO, que é uma aliança agressiva de jurisdição mundial auto-assumida, é tão perigosa para a paz no mundo como a perigosa e auto-destrutiva política europeia para os seus povos". Em conclusão, os participantes exigiram a dissolução da NATO.
Foram também condenadas as intervenções militares activas das forças da União Europeia nos Balcãs, na Ásia Central, no Médio Oriente e, mais recentemente, no Chade.
Ao condenarem duramente o rumo militarista da construção europeia, os movimentos da paz presentes realçaram ainda que, após a rejeição, por parte dos povos francês e holandês, do Tratado Constitucional Europeu, o novo tratado reformador visa recuperar o caminho de concentração do poder de decisão política contra as soberanias nacionais e o reforço do poderio militar tendente a ser projectado na arena internacional.
Pelo representante da URAP, Aurélio Santos, foi afirmado que as crescentes ameaças à segurança e à paz se articulam com graves limitações aos direitos cívicos, sociais e laborais impostos aos povos da Europa e que esta ofensiva contra as liberdades democráticas abre o caminho à expressão e acção de doutrinas nazi-fascistas e de grupos xenófobos e nazis emergentes em vários países europeus, estranhos aos sentimentos e interesses dos movimentos sociais e populares.
Foi expressa na Conferência a solidariedade para com os povos agredidos ou vítimas de qualquer força de agressão. Foi reafirmado de forma especial o apoio ao povo da ex-Jugoslávia, que enfrenta as consequências da ingerência e agressão imperialistas e aos povos da Polónia e da República Checa, que rejeitam a instalação de bases dos EUA para "Escudos de Defesa Anti-Míssil" nos seus países.
Na opinião dos participantes na Conferência, a história das recentes guerras coloniais, a guerra do Vietname, as guerras ainda mais recentes no Afeganistão, no Iraque e no Líbano e o actual genocídio na Palestina provam que o poderio militar nunca conseguiu, nem conseguirá submeter povos e fazê-los abdicar dos seus direitos inalienáveis e legítimos de resistir aos agressores.
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Na declaração final os participantes afirmam: "É nossa obrigação pacífica renunciar à actual corrida aos armamentos e lutar pela desmilitarização e pelo desarmamento na Europa, procurando criar relações políticas equitativas entre as nações, sem ameaças militares e dominação imperialista, Este objectivo pressupõe um continente livre de bases militares estrangeiras e fora de qualquer aliança militar."
A opinião geral dos representantes das organizações presentes, é que os Movimentos da Paz europeus saíram reforçados desta Conferência, de enorme importância para o melhor conhecimento das situações, definição de objectivos comuns, coordenação das acções futuras e maior confiança nos êxitos da luta pela Paz na Europa e no Mundo.
Pode ler-se aqui a intervenção de Aurélio Santos na Conferência Europeia em Defesa da Paz