por Vítor Dias
Muito influenciados pelo rufar dos tambores da guerra, os últimos meses marcam na vida nacional um período onde avultam as manifestações de intolerância, de desrespeito por opiniões diferentes ou divergentes, de discriminação política e gritante sectarismo.
Trata-se de um fenómeno que ensombra e vicia o debate democrático, impede uma leal confrontação de atitudes e posições sobre graves problemas e acontecimentos, tendendo a uma radicalização e agressividade tanto mais emotivas quanto desprovidas de racionalidade e serenidade.
Com um universo mediático e seus comentadores, salvo honrosas mas caluniadas excepções, fazendo campanha militante por uma das partes que travam uma guerra trágica e indesejável, passou a ser um espectáculo quotidiano a deturpação, falsificação e caricatura de posições alheias, sempre repetidas apesar de claros desmentidos e inequívocos esclarecimentos.
E, numa ofensa directa a todos os antifascistas, chega a haver protagonistas que sugerem ilegalizações, assim repescando desavergonhadamente preconceitos e formas de actuar que os portugueses em boa hora sepultaram com o 25 de Abril.
Neste panorama assume também um papel de relevo a criação e exploração de «casos» que, apesar de nascerem com uma fraquíssima consistência, logo desembocam em acusações de enorme gravidade e em reprováveis sentenças condenatórias no tribunal da opinião pública.
Diante de tudo isto e muito mais, que nos dias de hoje se apresenta como uma avalanche imparável e que representa um grave e poderoso entorse na convivência democrática, impõem-se como exigências maiores do tempo que passa o amor à verdade e a resistência à mentira, a firme defesa do pluralismo e o combate às práticas discriminatórias, uma forte revalorização do espírito crítico e um firme rejeição de um consumismo mediático voltado para a manipulação de consciências.
Confiamos plenamente que os cidadãos que se reclamam dos valores do antifascismo e coerentemente dos mais generosos valores do 25 de Abril saberão, nestes tempos desafiantes, amargos e tempestuosos, dizer presente neste combate cívico pela verdade que é urgente e crucial.
editorial do boletim da URAP nº. 169 de 2022