Aristides de Sousa Mendes, antigo Cônsul-Geral de Portugal em Bordéus, recebe hoje, 19 de Outubro, em Lisboa, honras de Panteão Nacional, com o descerramento de uma placa simbólica numa das salas, em vez da transladação do corpo, a fim de ser respeitada a vontade do próprio, que desejava ficar junto da família na sua terra natal, Carregal do Sal, Viseu.
Numa cerimónia com início às 11:00, que contará com a presença do Presidente da República, do primeiro-ministro e do presidente da Assembleia da República, bem como de membros da família de Aristides de Sousa Mendes, Portugal vai prestar homenagem ao diplomata que concedeu milhares de vistos a judeus e outros refugiados, à revelia de Salazar, no início da II Guerra Mundial.
Marcelo Rebelo de Sousa e Eduardo Ferro Rodrigues farão os discursos evocativos e, no final da cerimónia, assinarão o Auto de Honras de Panteão Nacional. Haverá ainda uma actuação do coro do Teatro Nacional São Carlos e a passagem de um filme alusivo à figura de Sousa Mendes.
A placa simbólica ficará na Sala 2, onde se encontram sepultados o general Humberto Delgado, a poetisa Sophia de Mello Breyner, o escritor Aquilino Ribeiro e o futebolista Eusébio da Silva Ferreira. Será a primeira homenagem do género feita pelo Parlamento no Panteão.
Aristides de Sousa Mendes, que morreu em 1954, perseguido por Salazar e pelo regime fascista só recebeu o devido reconhecimento pela sua bravura e humanismo após o 25 de Abril de 1974.
Em simultâneo, têm-se realizado eventos para assinalar o acto em Bordéus, nomeadamente uma missa na catedral em honra do antigo Cônsul, celebrada pelo arcebispo de Bordéus, e uma cerimónia de evocação da memória de Aristides de Sousa Mendes na Grande Sinagoga local por iniciativa do Consistório Israelita e do rabi da cidade.
Também a Câmara Municipal de Bordéus se associou à homenagem, tendo promovido uma recepção nos salões nobres do município e reinaugurado uma rua com o nome “Aristides de Sousa Mendes".
Em Cenon, cidade dos arredores de Bordéus, será exibido o documentário "A Herança de Aristides", e a ministra francesa delegada para a Memória e Antigos Combatentes, Geneviève Darrieussecq, preside a uma cerimónia junto ao busto de Aristides, em Bordéus. Segue-se uma recepção oferecida pelo presidente do Conselho Regional da Nova Aquitânia.
Em Julho passado, por iniciativa da Associação Lusa Portugueses por Israel (ALPI), a Assembleia da República inaugurou um busto do diplomata que, como Cônsul-Geral em Bordéus, em 1940, atribuiu milhares de vistos a refugiados perseguidos pelo regime nazi, que invadiu e ocupou a França em Maio desse ano, permitindo-lhes entrar em Portugal.