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A URAP não podia deixar de estar presente nas exéquias de JOAQUIM TEIXEIRA, combatente tarrafalista contra o fascismo.

Ao recordar Joaquim Teixeira, grande combatente pela Liberdade, Democracia e Socialismo, salientamos o seu empenhamento revolucionário, que dedicou o melhor da sua vida à luta contra o fascismo, a sua coragem ímpar, no enfrentar as prisões e as torturas a que foi submetido pelo hediondo regime fascista.

Afirmamos aqui, em sua memória, que não pouparemos esforços na denúncia do foi o horror do fascismo e na defesa da Liberdade alcançada com o 25 de Abril/74, a fim de que "FASCISMO NUNCA MAIS".

Pela Liberdade
Pela Democracia
Pelo 25 de Abril                          

O Conselho Directivo

 

«

À memória de Joaquim de Sousa Teixeira,
Marinheiro insubmisso da revolta de 1936

No cemitério do Alto de São João representações do PCP, da URAP e da Associação de Sargentos da Armada prestaram sábado passado uma última homenagem a Joaquim de Sousa Teixeira, que foi deportado para o Tarrafal na primeira leva de presos políticos para ali enviados.

Joaquim Teixeira era um jovem grumete da Armada quando participou na revolta de 1936 dos marinheiros dos navios Dão, Afonso de Albuquerque e Bartolomeu Dias contra a ditadura de Salazar. Julgado pelo iníquo Tribunal Militar Especial, foi condenado a 16 anos de prisão e fez parte daqueles que aí sofreram o período mais violento da repressão fascista, quando os trabalhos forçados, a má alimentação, a doença, ceifavam mais cruelmente vidas, justificando a designação do Tarrafal como «Campo da Morte Lenta».

Tendo adoecido gravemente, Joaquim Teixeira foi transferido sob prisão para o Hospital de S. José, onde lhe foi extraído um rim.

«Como todo o prisioneiro que se preza - dizia ele numa entrevista à Revista da Armada publicada após o 25 de Abril - não me saía da cabeça a ideia de me evadir». E assim fez, numa tarde de Agosto de 1948, tendo passado a viver de forma clandestina, com falsa identidade, para escapar à vigilância da PIDE.

Prestando homenagem à memória de Joaquim Teixeira, como se disse por ocasião do seu funeral, estamos também recordando aqueles que no Tarrafal e em todo o País, não se resignaram à ditadura fascista numa época em que Salazar afirmava: «o Século XX será fascista.» Não cruzaram os braços ante o que agora se designa como «os ventos da História».

Com a sua luta, semearam os cravos que floresceram no 25 de Abril. Para que Tarrafal - nunca mais! »

Aurélio Santos,

Jornal Avante, 9 de Abril de 2009

                                                              

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Aveiro, 20 de Março de 2009

Aos democratas e antifascistas
Aos Órgãos de Comunicação Social

Caros Amigos. Exmºs Senhores.

Vimos, desta forma dar nota pública da constituição do NÚCLEO de AVEIRO da URAP - União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, que se constitui formalmente a fim de prosseguir na região as actividades consignadas nos seus Estatutos (Publicados no Diário da República nº 129 - 3ª série de 02.06.1976), particularmente a divulgação de ideais e património de intervenção antifascistas.

Esta iniciativa surge num momento em que se acumulam elementos de desvirtuamento e ataque aos ideais e direitos democráticos, conquistados em 25 de Abril, e em que assistimos atónitos a operações mediático-comerciais ou de organizações neo-fascistas, que promovem o branqueamento sistemático da ditadura fascista e colonialista, da desgraça que ela comportou para o nosso país e os povos das ex-colónias e dos seus principais responsáveis e torcionários.

O Núcleo de Aveiro da URAP, constituído pelos antifascistas que abaixo assinam esta nota, inicia imediatamente a sua actividade, promovendo a 27 de Março, na Biblioteca Municipal de Aveiro, uma homenagem pública a Mário Sacramento, na ocasião do quadragésimo aniversário da sua morte.

Nessa sessão usarão da palavra, entre outros: Aurélio Santos, Coordenador Nacional da URAP; Carlos Candal, advogado; Jorge Sarabando, publicista; Jorge Seabra, médico.

Em breve serão divulgados outros elementos de informação sobre esta iniciativa e sobre a actividade do Núcleo de Aveiro da URAP.

Atenciosamente, saudações democráticas.

(Américo Freitas)

(António J. Coelho Lemos)

(António Luis Almeida)

(António Regala)

(Carlos Jerónimo)

(José Amaro)

(Manuela Seabra)

(Manuel Reis)

(Rosa Gadanho)

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Nota de imprensa

Contra a instalação de "hotel de charme" no tribunal dos plenários fascistas

A URAP pede esclarecimentos ao governo        

Perante notícias publicadas na imprensa sobre projectos de venda do edifício da Boa Hora onde funcionou durante a ditadura fascista o Tribunal Plenário que julgava os presos políticos, a URAP enviou em 3 de Fevereiro cartas ao Primeiro-ministro e ao Ministro da Justiça requerendo um esclarecimento urgente por parte do governo sobre essa questão.

Sublinhando que «desde há cerca de século e meio o Tribunal da Boa Hora é monumento vivo do que foi parte essencial da história judicial portuguesa, com especial relevo para a actividade do Tribunal Plenário onde foram julgados e condenados muitos antifascistas cujo único crime foi o da luta pela liberdade e pela democracia».

Cartas idênticas foram enviadas ao Presidente da Assembleia da República e ao Presidente da Comissão de direitos, liberdades e garantias.

Assembleia Geral da URAP reclama transformação da Boa-Hora em Museu

Na Assembleia Geral da URAP de prestação de contas e eleição dos corpos sociais de 7 de Fevereiro foi aprovada uma Moção na qual se diz que considerando a relevância nacional do edifício da Boa Hora, nomeadamente por nele ter funcionado o Tribunal Plenário durante o regime fascista, «a sua alienação com destino anódino, significará subjectiva e objectivamente uma operação de branqueamento, ou mesmo de apagamento, de parte relevante da nossa recente história política».

Na Moção a URAP, reiterando o conteúdo dos requerimentos enviados pelo Conselho Directivo ao Primeiro-ministro e ao Ministro da Justiça, lembra solenemente ao Governo «a função primordial que lhe compete na salvaguarda do património nacional», recomenda a preservação do edifício da Boa-Hora e a sua transformação em Museu, «símbolo, como é seu direito, da memória e da história do Povo Português e contributo para o conhecimento de futuras gerações.».

URAP em sessão promovida pela Comissão de Juristas pela Cidadania

 Intervindo em nome da URAP na sessão promovida por essa Comissão dia 9 de Fevereiro na sala do Tribunal Plenário, Aurélio Santos, dando conhecimento da Moção aprovada na Assembleia Geral da URAP e afirmando o apoio ao abaixo assinado que essa Comissão está recolhendo contra a alienação do edifício, sublinhou: que «muitos de nós, membros da URAP, que lutámos para que fosse livre o terreno que hoje pisamos, passámos por aquela sala como réus, advogados e testemunhas nos julgamentos iníquos do fascismo, e seria para nós inaceitável que ela seja transformada em salão de «charme» para bailes de clientelas de luxo.

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Plano de actividades para 2009-2010
aprovado na Assembleia Geral de 7 de Fevereiro de 2009

A história recente comprova a importância da existência de uma organização como a URAP, que tem desempenhado um importante papel, lutando contra branqueamento do fascismo, valorizando a luta e intervenção antifascista, denunciando as atitudes e actos fascistas ou fascizantes e intervindo pela defesa das conquistas democráticas de Abril. Neste contexto, o reforço da nossa organização e da sua capacidade para desenvolver mais actividades deverão constituir uma preocupação constante.

Neste sentido o Conselho Directivo propõe um conjunto de objectivos para os próximos dois anos (2009-2010), com vista a dar continuidade ao trabalho desenvolvido.

Decidimos apresentar esse plano em cinco temáticas: organização, actividades, informação, museu da resistência em Peniche e relação com a Federação Internacional da Resistência (FIR) e outras organizações internacionais.

 

  • 1. Organização
  • Convocar dentro de um ano uma Assembleia-Geral da URAP para eleição de um Conselho Nacional, composto por personalidades com participação destacada na história da URAP e na luta antifascista.
  • Realizar uma Assembleia-Geral Extraordinária (início de 2010), para preparação de uma alteração dos estatutos vigentes, no sentido de dar dignidade estatutária ao Conselho Nacional, concretizando a resolução aprovada na Assembleia-Geral de 13 de Julho de 1985 (que já tinha decidido a criação de um Conselho Nacional). Por outro lado, a alteração aos estatutos vigentes também pretende assegurar condições mais eficazes às estruturas e meios de acção da URAP.
  • Criar uma Comissão Coordenadora dos Núcleos da URAP para estimular a coordenação e a troca de experiências entre os núcleos.
  • Apoiar os núcleos existentes e ajudar a criar outros.
  • Promover a actividade própria dos núcleos.
  • Continuar com os trabalhos de actualização do ficheiro.
  • Melhorar a situação financeira da URAP, melhorando a recolha e actualização da quotização, promovendo iniciativas, angariando donativos e fazendo parcerias com outras organizações e instituições.
  • Lançar uma Campanha de Fundos em tomo dos 35 anos da URAP (aquando da comemoração dos 34 anos da sua fundação).
  • Desenvolver esforços para que a URAP obtenha o estatuto de Organização de Utilidade Pública.

 

2. Actividades

  • Alargar a promoção pela URAP de iniciativas de carácter unitário que contribuam para o conhecimento e divulgação da luta contra a ditadura fascista e a valorização e defesa dos direitos e conquistas da democracia.
  • Assegurar a participação da URAP em iniciativas onde possa defender o carácter democrático e unitário da luta antifascista, tanto no plano histórico como na actualidade.
  • Realizar um Encontro de jovens antifascistas novos sócios URAP e continuar a promover a integração na URAP de jovens antifascistas.
  • Desenvolver actividades promovidas por jovens, que contribuam para desenvolver entre as gerações nascidas já depois do 25 de Abril o conhecimento do que foi a luta contra a ditadura fascista e o valor das conquistas democráticas.
  • Promover em Maio próximo uma visita guiada ao Campo de Concentração do Tarrafal, prestando homenagem aos antifascistas portugueses e aos patriotas africanos ali condenados pelo regime fascista e colonial português.
  • Continuar a promover anualmente no Alto de S. João a romagem ao Mausoléu dos antifascistas mortos no Tarrafal.
  • Procurar as condições para continuar a ter um espaço da URAP na Festa do Avante!
  • Promover excursões a localidades que se destacaram na resistência ao fascismo;
  • Continuar a integrar a Comissão Promotora das comemorações populares do 25 de Abril em Lisboa, procurando alargar essa participação a outros pontos do país.
  • Participar no desfile do l.º de Maio.
  • Promover ciclos de debates em escolas básicas, secundárias e de ensino superior em torno do 25 de Abril e da luta antifascista.
  • No âmbito das comemorações do 35º aniversário do 25 de Abril, editar um Jornal sobre a resistência antifascista dirigido aos jovens.
  • Lançar uma recolha de assinaturas, aquando da comemoração dos 35 anos do 25 de Abril, com vista a aprovar na Assembleia da República uma resolução que valorize a luta e a resistência contra o fascismo em Portugal durante o período entre 1928 e 1974.
  • Desenvolver esforços no sentido de recomendar veementemente ao Governo a preservação do edifício do Tribunal da Boa-Hora e da sua transformação em Museu - símbolo, como é seu direito, da memória e da história do Povo Português e contributo para o conhecimento de futuras gerações.
  • Continuar a dinamizar a luta contra a criação do "museu Salazar" em Santa Comba Dão (Luta que conta com o papel destacado do núcleo da URAP em Santa Comba Dão).
  • Participar com outras organizações na promoção de jornadas em defesa da paz, contra a guerra e pela soberania dos povos.
  • Participar nas comemorações do Centenário da Proclamação da República.
  • Dinamizar e participar em iniciativas que assinalem os 70 anos do início da Segunda Guerra Mundial (no ano de 2009) e os 65 anos do final da Segunda Guerra Mundial (2010).

 

 

3.Informação

  • Continuar a publicar trimestralmente o Boletim da URAP.
  • Melhorar e manter actualizado o sítio da URAP na Internet (www.urap.pt).
  • Editar documentos sobre a situação política nacional e sobre problemas específicos.
  • Tomar posição regularmente, fazendo chegar as notas de imprensa da URAP aos órgãos de Comunicação Social (local e nacional).
  • Tomar posição pública sobre acontecimentos que ponham em causa os direitos e as conquistas de Abril.
  • Procurar assegurar à URAP o direito a Tempo de Antena.

 

4. Museu da Resistência em Peniche

  • Aprofundar a concretização do protocolo assinado entre a URAP e a Câmara Municipal de Peniche.
  • Promover visitas de núcleos da URAP a Peniche, divulgando a exposição que está actualmente patente (75 anos da abertura da Fortaleza de Peniche como prisão política).
  • Continuar a recolher materiais e documentação acerca dos presos de Peniche, sobre a repressão fascista em geral e sobre a luta antifascista, para criação de um Centro de Documentação da Luta Antifascista.
  • Desenvolver esforços que possibilitem a revalorização e requalificação da Fortaleza de Peniche e do museu da resistência.

 

 

5. Relação com FIR e outras organizações internacionais

  • Reforçar as relações e os laços de solidariedade com a FIR (Federação Internacional da Resistência).
  • Participar, mediante as condições financeiras a URAP, em iniciativas internacionais promovidas pela FIR ou outras organizações internacionais de carácter antifascista.
  • Participar no Simpósio internacional sobre o Tarrafal organizado em Abril próximo pela Fundação Amílcar Cabral.
  • Promover a difusão dos temas tratados no Encontro Internacional organizado em 2008 pela URAP e pelo Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia / Esquerda Nórdica Verde.
  • Promover debates acerca do Campo de Concentração do Tarrafal, tendo em conta as informações a recolher aquando da excursão que se realizará em Maio ao Tarrafal e com a participação no Simpósio Internacional sobre o Tarrafal promovido pela Fundação Amílcar Cabral (também no mês de Maio).
  • Apoiar iniciativas que no plano internacional denunciem o fascismo, o racismo e a opressão e defendam a paz, a democracia, a independência nacional e os direitos humanos.

 

Lisboa, 7 de Fevereiro de 2009

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Intervenção de Aurélio Santos, coordenador da URAP,
na Assembleia Geral de 7 de Fevereiro de 2009

No decurso da nossa Assembleia apreciamos muitos aspectos da actividade que a URAP tem vindo a realizar, bem como alguns projectos de actividade para os próximos dois anos.

Muitas foram as questões discutidas e as conclusões a que chegámos. Gostaria de frisar algumas a meu ver também importantes.

 

Estamos atravessando uma época na qual se assiste à aplicação, por regimes democráticos, de políticas idênticas às que levaram à implantação de regimes fascistas.

O que temos pela frente agora é que tais políticas se apresentam e aplicam reivindicando um estatuto democrático.

À diferença da demagogia e manipulação fascistas, impostas por um eficaz e omnipresente aparelho de propaganda que encontrava, nas suas falhas ou deslizes, ajuda de um ainda mais eficaz e omnipresente aparelho de repressão, as medidas actuais apresentam-se como inseridas num normal funcionamento das instituições democráticas. E a procura da cobertura e aparência democráticas tem a acompanhá-la uma prática sistematicamente antidemocrática de abafar a voz, ridicularizar ou mesmo caluniadas críticas que naturalmente são levadas a cabo, quando não conseguem, pela sua dimensão e visibilidade, tudo fazem para as silenciar.

O facto é que as políticas a que se convencionou chamar neoliberais, os processos e métodos para as pôr em prática, com os seus efeitos devastadores sobre a sociedade, criaram factores de perigosidade impossíveis de ignorar e que põem em risco a própria democracia.

Que a história não se repete, sabemos nós. Mas as experiências da história não podem ignorar-se, sob pena de condução obrigatória a graves erros de análise acerca do tempo presente ou de impotência para a construção de um futuro de progresso e de paz da humanidade.

Temos e devemos ter em conta a experiência dos anos 20-30 do século passado, com implantação de regimes fascistas em vários países e das suas ameaças e planos para impor o seu domínio ao mundo.

Era o tempo em que Salazar proclamava: o século XX será fascista, e se fazia fotografar com o retrato de Mussolini sobre a secretária...

Sabemos, até por nossa experiência, que uma conflitualidade social complexa, extremada por uma situação económica sem saída aparente é facilitante de uma aspiração de ordem e disciplina sociais cuja saída urgente, errónea pode ser demagogicamente aproveitável pelas camadas mais reaccionárias da sociedade, que se afadigam para apresentar o «salvador da pátria». E ele aparece, glorificado como poder benfeitor, com o nome de Hitler ou Mussolini, Franco ou Salazar, mas sempre personificando uma ditadura disposta a manter-se com processos terroristas.

Foi esse o desembocar histórico do fascismo.

Podemos ter dificuldade em compreender como é que povos que têm, na sua memória colectiva, a experiência historicamente recente de tais regimes, aparecem entidades que, dizendo-se democráticas, insistem numa prática política cujo desenvolvimento corre o risco de fazer perigar a própria democracia.

Os raciocínios dispendidos e as análises sobre tal situação são muitos e variados.

O elenco é longo, mas todas estas argumentações têm a atravessá-las uma globalização selvagem, isto é, a selvajaria da economia dita neo-liberal.

Aceitando-a ou opondo-se a ela pela luta, o certo é que já bateu à porta de todos os habitantes do planeta: uns porque dela tiram parte choruda da riqueza fabulosa que o homem é hoje capaz de produzir; outros porque são suas vítimas directas; e outros ainda porque não aceitam ou não compreendem que estão simplesmente em lista de espera para se juntarem, forçosa e forçadamente, ao exército dos já sacrificados.

Estamos hoje num mundo adverso, às vezes sormamente, à liberdade, ao progresso, ao bem-estar. As esperanças de futuro andam minadas pelas ameaças super-potentes de uma globalização condicionadora, que agrava à escala planetária factores de crise económica e social.

A violência da exploração, da injustiça social, corrói a democracia, retira-lhe o apego das pessoas, porque a democracia não é acompanhada por uma democracia social e económica, dando-se prioridade à concentração do luc, consequências e medidas a que isso obriga.

A instabilidade e o medo à instabilidade, a insegurança laboral, a polarização da pobreza e da riqueza, a planetária na distribuição dos recursos e rendimentos, a deslocação de milhões de pessoas a quem são negadas condições de sobrevivência, uma política de guerras e de dominação, criam angustiantes factores de destabilização. À sombra do combate ao terrorismo e do medo à violência que acompanha os factores de desagregação social, desrespeitam-se e liquidam-se liberdades.

Neste quadro agravam-se as incidências sociais duma política económica que mantém e retoma conceitos ideológicos e valores políticos que o fascismo lançou, enquanto se apagam valores e instituições que estavam credibilizados com a vitória da democracia.

Não será com aprofundados estudos e relatórios sobre a vertente de intenções psicológicas do poder que se encontrarão explicações objectivas dos factos que actualmente são causa das nossas fundadas preocupações. Nem se trata aqui de qualquer «processo de intenções».

A pergunta sobre a memória colectiva tem respostas de aparência simples, com justificações que quotidianamente nos bombardeiam para alicerçar teses tão complicadas quanto fúteis e que se resumem a um ponto final, repetido vezes sem conta: tudo vai bem e o que se diz é inventado pelos profissionais da inveja, impulsionados pelos conhecidos oráculos da catástrofe... O que não é fácil desmontar, dado que tais argumentações se apresentam como puras conclusões lógicas, irrefutáveis.

Assim pretendem, por manipulação política do presente, falsear a incómoda memória colectiva, procurando criar um afastamento sociológico do passado, tentando apagá-la, ou distorcê-la, ou invocando-a como impossibilidade histórica e passadista.

Este recurso à demagogia manipuladora tem ao seu dispor, nos nossos dias, como nunca antes, os mais sofisticados e apurados meios de convencimento, para impõe a ideia de que existe uma intocável normalidade democrática e de que a política aplicada é um facto, exigindo apenas, como garantia indispensável para se manter, a boa vontade da compreensão e do apoio populares.

Protelando ou recusando mudanças necessárias, senão inadiáveis, a actuação do Estado vai adelgaçando a silhueta da democracia, reduzindo-a a um esqueleto jurídico-político desacompanhado do complemento social democraticamente imprescindível e no qual a participação dos cidadãos é requisitada periodicamente para uma votação sem riscos, isto é, sem a ameaça de exigências populares e a garantia da continuidade do poder. Este resultado que tenta evidenciar-se com a expressão "eleições livres e democráticas", ignora ou refuta que os democraticamente eleitos são representantes de partidos que se revezam alternadamente no poder, partidos aos quais, os detentores do poder real, o poder económico, exige como garantia incondicional o seguimento de uma prática governativa, também ela alternada conforme souberem, mas que não atinja o essencial dos grandes interesses económicos constituídos.

Estabelecido este estado de coisas a nível de uma posse governativa sob fiança, poderia parecer que (embora com inegável monotonia) ele seria o mais sólido garante de uma profunda aspiração dos povos: a estabilidade democrática. Há quem o defenda, mas com exibição de um defeituoso calcanhar de Aquiles: para que se verifique a existência de uma estabilidade democrática é essencial uma base social de apoio à democracia.

A democracia é uma criação política das pessoas e para as pessoas, isto é, exige na sua defesa e manutenção a participação livre e efectiva dos cidadãos. Sem que tal se verifique não se poderá afirmar que um regime é estável. Mas a democracia moderna, cuja construção se deve a séculos de elaboração dos povos na defesa de aspirações possíveis, justas, já realizadas e historicamente legitimadas, corre o risco de auto-negação se da sua vivência e destino afasta a realização activamente participada de tais aspirações.

Limitando-se docilmente a reduzir os direitos políticos a uma votação pendular, sem garantia do exercício de direitos sociais, defronta outro perigo inevitável: o do seu próprio descrédito.

A grande exigência do tempo presente é a luta pela democracia. É necessário reabilitá-la, assegurar-lhe o crédito das populações, associar o exercício dos direitos políticos ao prosseguimento e garantia dos direitos sociais.

O esvaziamento da democracia, a substituição da garantia dos direitos sociais, nacionais, culturais, por ideias, projectos e soluções demagógicas que se sucedem impunemente, a manipulação cada vez mais afrontosa da opinião pública, a arrogância face a opiniões dissonantes, a desculpabilidade perante a má gestão de recursos públicos, a protecção jurídica e política dos grandes interesses em detrimento das aspirações de vastas camadas populares, fazem com que este poder apareça com indisfarçável despudor como mandatário de outro mais poderoso, afinal aquele perante o qual verdadeiramente responde um poder político sem base social de apoio, muito previsivelmente sob a forma do o chamado «poder forte». Não é certamente por acaso que os revivalismos que se registam com uma frequência inquietante coincidem com o regresso à cena política de estruturas e grupos sociais e económicas que no salazarismo encontraram o instrumento para impôr impiedosamente os seus interesses e o seu domínio, mantido de forma ditatorial, pois que de outra forma o povo português não o suportaria.

 

A desilusão de aspirações frustradas, o desalento perante as dificuldades de intervenção em defesa de interesses legítimos, o desânimo subsequente à não verificação de mudança pelo exercício do direito residual de voto, podem levar a uma combatividade acrescida de defesa de direitos alienados em boa-fé eleitoral. Mas, dependendo das circunstâncias de momento e do grau de consciência social, podem também levar a uma indiferença alheada e conformada que tende a confundir todas as propostas quando nenhuma delas tem resultados reais. Ou ainda conduzir camadas socialmente mais isoladas ao recurso a formas de solução desesperadas, quando inseridas em situação de satisfação premente de necessidades.

Em Portugal, as tentativas de branqueamento do fascismo ombreiam com as da sua reabilitação.

Em teses com cambiantes variáveis, há quem defenda, simplificando a questão, que o regime fascista não existiu. Outros põem em dúvida o grau ditatorial do regime de Salazar e Caetano. Outros ainda como única contribuição para a compreensão da história atribuem a responsabilidade de todos os males portugueses à revolução de Abril, por incrível que pareça, Algumas destas teses são hoje, embora com disfarces dúbios, aproveitadas pelo poder constituído na sua argumentação.

 

Fascismo, nunca mais?

Não podemos entender isso como garantia de que «o fascismo não voltará».

Não voltará certamente nas formas que as assumiu nos anos 20/30 do século passado. A sociedade não é a mesma, as estruturas são diferentes.

Mas o fascismo não é um fenómeno histórico de uma determinada conjuntura.

Tem caracter universal, com raízes sociais e económicas que aparecem como resposta desesperada numa uma economia em queda, de uma classe que pretende impor pela força a manutenção do seu domínio e dos seus interesses.

Da experiência histórica que o fascismo nos deixou há um aspecto que não devemos esquecer: os crimes do fascismo não se deveram apenas à crueldade dos que os praticaram. Foram parte integrante de uma politica que só pelo terror podia ser imposta. Reduzir o fascismo, como alguns pretendem, apenas à visão odiosa dos crimes que cometeu, em Portugal e no mundo, é apagar outro aspecto odioso do fascismo, o da política que aplicou, de miséria, injustiça, obscurantismo, escravização e guerra.

É neste quadro que dizemos, convictamente, que o antifascismo se mantém como exigência actual.

Mais ainda porque há hoje em Portugal uma nova geração que não conheceu felizmente o peso da repressão política, das prisões e torturas, da censura, da miséria, da emigração massiva e das guerras impostas pelo fascismo. Não viveu, felizmente, a abominação das concepções da ideologia fascista ma sua versão salazarista que a ditadura quis impôr ao nosso povo, matraqueando-a nas escolas e martelando-a na comunicação social amordaçada.

Não podemos deixar que o apagamento do que foi a ditadura, e a reabilitação dos seus responsáveis e da sua política, ao ressurgimento de ideologias fascistas e de práticas políticas nelas inspiradas, em contraponto com a desvalorização e degradação da democracia.

Por tudo isto uma organização como a URAP tem o direito e o dever de manter uma presença activa e reconhecida na sociedade portuguesa.

 

Quanto a algumas das questões aqui apresentadas sobre as actividades da URAP:

Creio que é justo destacar, em primeiro lugar, o esforço de todos os membros dos organismos sociais para a continuação e o reforço da actividade da URAP.

Sem esse esforço, realizado na base de uma grande solidariedade e de uma intensa cooperação, não poderíamos ter o quadro de actividades aqui apresentado.

Uma referência especial é devida aos nossos companheiros que deixam agora de participar nos corpos sociais: a Maria Luísa Tito de Morais, presidente desta Assembleia-Geral, o Álvaro Dias, a Maria das Dores Cabrita, a Maria Artur Botequilha.

Também eles foram parte da presença activa da URAP e da sua prestigiada imagem na sociedade portuguesa. Mais do que eventuais dificuldades suas para manter o grau de contribuição que a nossa actividade exige, a sua saída deve-se à necessidade de manter e desenvolver essa actividade integrando nos organismos sociais da URAP jovens antifascistas.

A URAP não é apenas uma organização der sobreviventes que lutaram conta a ditadura fascista. Há lugar nela, também, para jovens que, como nós, querem militar activamente pelos objectivos que constituem a razão de ser da URAP. Creio que esse é o caso do David Pereira e da Maria Pêgo, que, tal como a Ana Pato, o Paulo Marques e a Susana Luís fazem parte duma geração que nasceu já depois do 25 de Abril. A eles associamos também o Levi Baptista, número 3 entre os sócios da URAP, que mantém a juventude com que deu valiosa contribuição para a defesa dos presos políticos levados a Tribunal e para a legalização da URAP após o 25 de Abril.

Uma das nossas preocupações principais tem sido integrar na luta contra o fascismo novas gerações. Daí a criação de uma nova área da nossa intervenção: os Núcleos de Juventude Anti Fascista. É uma das áreas de trabalho em que teremos de nos empenhar mais activamente.

Simultaneamente a URAP tem de encontrar formas de valorizar o seu grande património histórico daqueles que corajosa e empenhadamente participaram na luta contra a ditadura fascista.

É nesse sentido que pensámos retomar uma resolução da Assembleia-Geral da URAP de 1885, para criação de um Conselho Nacional, com a devida dignidade estatutária, não só de com antigos dirigentes da URAP como de outros cidadãos com reconhecida participação na luta contra o fascismo e pela democracia.

O plano de actividades que aqui apresentámos não pode ser levado à prática somente pelos elementos dos corpos sociais que elegemos.

O apoio dos nossos associados é indispensável. E, numa organização descentralizada como a URAP, isso só é possível com a iniciativa e actividade dos nossos Núcleos. Para estimular essa actividade propomo-nos criar uma Comissão Coordenadora, em moldes a estudar pelos novos órgãos dirigentes.

 

Companheiros e amigos,

 

Não é fácil assumir responsabilidades na URAP no quadro que actualmente se apresenta de insidiosas campanhas de desvalorização da democracia e apagamento do que foi a luta antifascista. 

À sobra da proclamação da crise agravam-se as legislações laborais e liquidam-se direitos sociais, num grave retrocesso da própria concepção de democracia e de carácter intimidatório e repressivo contra organizações democráticas.

Creio poder afirmar, interpretando todos os outros membros dos corpos sociais eleitos, que daremos todo o nosso esforço para assegurar o desempenho das funções para que fomos eleitos.

A nossa intervenção não se limitará à denúncia das falsificações da história e à defesa dos valores e realizações da democracia, para cada povo e para todo o mundo.

De acordo com a tradição e as raízes históricas da URAP é também nosso promover, participar e contribuir, activa e audaciosamente, para dar expressão às aspirações de todos os que, por formas e motivações diferentes, se identifiquem com os valores do antifascismo e da democracia.

Para que seja real o lema que proclamamos na nossa palavra de ordem:

 

Fascismo nunca mais!

 

7 de Fevereiro de 2009

Aurélio Santos

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