O Auditório Beatriz Costa, em Mafra, encheu-se no sábado, dia 8 de Outubro, para uma sessão organizada pela URAP destinada a apresentar a lista dos 174 presos e perseguidos políticos, naturais ou residentes no concelho no período de 1926 a 1974.
A mesa foi presidida por Eugénio Ruivo, do núcleo de Mafra da URAP, que abriu a sessão, e era constituída ainda por António Felgueiras, em representação da Câmara Municipal de Mafra; Aida Rechena, directora do Museu Nacional Resistência e Liberdade, de Peniche; Luís Farinha, investigador/docente na FCSH/Universidade Nova de Lisboa e ex-director do Museu do Aljube; e José Pedro Soares, coordenador da URAP.
Aida Rechena referiu, na sua intervenção, a importância da constituição do museu na Fortaleza de Peniche, a inaugurar no 50º aniversário do 25 de Abril, salientando que entretanto se tem vindo a desenvolver no local um trabalho profícuo no esclarecimento sobre o fascismo e os presos políticos encarcerados no forte, nomeadamente junto da comunidade escolar e grupos organizados.
Luís Farinha, cooperante na investigação do acervo histórico que a URAP tem realizado no concelho de Mafra, falou do trabalho já efectuado e da sua contínua elaboração e afinamento, bem como das acções que a URAP Mafra tem vindo a fazer junto das escolas do concelho e que urge continuar. Salientou a importância desta acção para a preservação da Memória Histórica da população do concelho de Mafra, alertando para que "nada está garantido" se não soubermos defender os ideais e valores de Abril.
O vereador da Educação e Cultura, António Felgueiras, que se encontrava em representação do presidente da Câmara, Hélder Sousa Silva, saudou o trabalho da URAP de listagem dos antifascistas e presos políticos do concelho, e reafirmou o interesse e o apoio da câmara na sua continuidade.
José Pedro Soares, ex-preso político libertado a 27 Abril de 1974 do Forte de Peniche e ex-deputado do PCP na Assembleia Constituinte, encerrou a sessão, lembrando os vários aspectos da actividade da URAP em todo o país, enfatizando o que se está a desenvolver no concelho de Mafra. Recordou o encontro que a URAP teve, a 3 de Outubro, com o presidente da Câmara de Mafra e com o vereador da Educação e Cultura, no qual foi entregue a lista com os 174 nomes dos presos e perseguidos durante o regime fascista.
A sessão foi iniciada com a projecção de fotografias dos presos e perseguidos políticos do concelho de Mafra (1926-1974). Em seguida, o poeta José Manuel Fanha disse um poema sobre presos políticos da autoria de David Mourão Ferreira.
Entre as cerca de 80 pessoas presentes destacamos o Coronel Hélder Neto, em representação da Associação 25 Abril, que lembrou a importância deste tipo de acções junto das novas gerações, e o papel cívico da Associação 25 Abril na preservação da Memória; a escritora Hélia Correia, ex-presa politica e natural do concelho de Mafra; vários professores de todos os agrupamentos escolares do concelho de Mafra; José Feliciano Costa, presidente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa; Graça Dias, responsável da zona Oeste do SPGL; Jaime Rocha, do Grupo de Estudos para as questões Sociais do PCP; João Aniceto, dirigente do Partido Comunista Português Mafra; Cátia Almeida, da Coligação Democrática Unitária; Carlos Carvalho, ex-dirigente da CGTP, que teve responsabilidades na organização sindical em Mafra no pós 25 Abril; e muitos familiares de ex-presos políticos.
Dentro da sala, constituíram-se duas mesas com ex-presos políticos ou familiares e perseguidos pelo regime fascista. Numa das mesas encontravam-se José Alberto Franco, natural da Ericeira, estudante e ex-preso político; André Teixeira, neto do ex-preso político José Filipe Teixeira, de Mafra, guarda livros; Mário Borges, sobrinho do ex-preso político José Borges da Silva, professor do Ensino Primário em Mafra; João Fonte Caracol, filho do ex-preso político Mário Luís Caracol, guarda livros em Mafra; José Manuel Fanha, em representação do ex-preso político e cantor Samuel Leonor Lopes Quedas, natural da Malveira.
Noutra mesa sentaram-se Margarida Vicente, filha do Coronel de Cavalaria Luís Vicente da Silva, ex-militar na EPIMafra, ex-militar do MFA, da Associação 25 Abril, e ex-vereador da APU na CMM em 1988; Graça Dias, dirigente do SPGL, com trabalho na URAP Mafra junto das escolas do concelho, durante as sessões sobre o 48º Aniversário do 25 Abril; Raquel Portugal, neta do ex-preso político António Portugal da Silva Freire, natural de Mafra e filho do coronel Freire da EPIMafra; Francisco Manuel Fernandes, membro da CDE antes de Abril, com trabalho nos concelhos do Oeste e filho do ex-preso político Pedro Fernandes, de Torres Vedras, libertado da cadeia do Forte de Caxias, no dia 27 Abril; Joaquim Brandão Osório de Castro, residente no concelho de Mafra, ex-operador da RTP e ex-preso político libertado da cadeia do Forte de Caxias no dia 27 Abril.
No exterior do Auditório Beatriz Costa podia ver-se um painel com a listagem os 174 presos perseguidos e políticos durante o período da ditadura fascista no concelho Mafra, entre 1926-1974, fotografias de Mafra depois do 25 de Abril e da inauguração de uma Pedra, em 2014, na sequência de uma Homenagem aos Presos e perseguidos antifascistas promovida pelo MUDAM, com apoio da URAP.
Finalmente, foi reafirmado o propósito da construção em Mafra de um Memorial que registe os nomes de todos os antifascistas de diversas tendências políticas, entre os quais estão democratas sem partido, republicanos, anarquistas, socialistas, comunistas, católicos progressistas e outros, sem rótulo partidário, que resistiram à opressão ditatorial, numa escultura a ser inaugurada no âmbito das comemorações do 50º Aniversário do 25 Abril de 1974.