Para que a memória não se apague e para que as novas gerações continuem a defender Abril, dirigentes da URAP, sobretudo ex-presos políticos, mulheres e homens resistentes da luta antifascista, deslocam-se às escolas para, em colaboração com professores, departamentos, agrupamentos, associações de pais e de estudantes conversar sobre a Revolução dos Cravos.
Os oradores falam das cadeias da ditadura, da falta de liberdade de expressão e associação, da censura, das condições de trabalho, da miséria, da fome, do papel da mulher na sociedade de então. Contam o que se passou a 25 de Abril de 1974, quando o MFA derrubou o regime fascista. Dizem como se construiu depois um Portugal livre e democrático e alertam para o perigo que representam, na actualidade, as forças reaccionárias.
Várias foram as sessões já realizadas e noticiadas e estão outras ainda por realizar, num trabalho de contacto com as novas gerações que chega a milhares de crianças e jovens.
Entre outras, contam-se as palestras em diversas escolas das freguesias do concelho de Mafra, distrito de Lisboa, com a participação de centenas de alunos de diferentes ciclos de ensino falando sobre o que foi a ditadura fascista e a aquisição da liberdade.
É com grande admiração que muitos alunos, de diversos ciclos de ensino, tomam conhecimento que, durante a ditadura, a maioria das crianças e jovens não tinha acesso ao ensino, que muitos começavam a trabalhar desde cedo, a partir das 5h30, com os pais na agricultura, sendo o acesso à escola e à universidade para uma minoria. A mulher estava confinada ao lar, e as que trabalhavam recebiam um salário muito inferior ao dos homens. Não havia sindicatos livres, nem direito à greve.
Grande parte das crianças na província comia "sopas de cavalo cansado”, não se podia pisar a relva, um grupo de mais de três pessoas era considerado um ajuntamento e portanto proibido, não podia haver provas desportivas na via pública, assim como quem fosse apanhado a falar contra o governo estava sujeito a ser preso.
Havia censura - para os escritores, poetas e jornalistas a censura era implacável, sendo aplicados cortes nos textos -, um partido único, as mulheres não podiam votar, uma guerra colonial. Os opositores ao regime fascista eram presos pela PIDE e sujeitos a torturas físicas e psicológicas. Milhares de antifascistas foram parar às prisões, com centenas de anos privados da liberdade, fosse em Angra do Heroísmo, Aljube, Caxias, Peniche, Porto, Campo de Concentração do Tarrafal (em Cabo Verde), Campo de Concentração na Machava, em Moçambique, entre outros.
Na Abrigada, município de Alenquer, Lisboa, as comemorações da Revolução dos Cravos decorreram entre 20 a 28 de Abril, sobre o lema: "Evocação da Revolução do 25 de Abril: a Liberdade está a passar por aqui!".
O Agrupamento de Escola de Abrigada organizou Oficinas do Diálogo sobre a liberdade, censura, razões para uma revolução, o papel da mulher pela igualdade, e resistência antifascista. Para esta oficina foram convidados a falar Marília Villaverde Cabral, vice-presidente da Assembleia Geral da URAP; Comandante Manuel Begonha, militar de Abril; Ortelinda Graça, presidente da Junta de Freguesia do Couço; Madeira Lopes, director da revista Seara Nova; Carlos Cruz, ex- padre católico, preso pela PIDE. A iniciativa contou também com os testemunhos dos resistentes antifascistas Joaquim Bichana, Luísa Ramos e Teresa Furtado
Diariamente, entre 20 a 28 de Abril, esteve aberta a Oficina do Cravo na Biblioteca Escolar, onde cada aluno construiu um cravo vermelho, utilizando materiais reutilizados e recicláveis, para oferecer a um amigo. Todas as salas do Agrupamento dos Jardim de Infância e do 1° ciclo receberam um professor vestido como militar de Abril. As professoras e educadoras construíram o cenário de um palco, onde efectuaram o espectáculo musical “As cores da liberdade”, dia 27 de Abril, com alunos, professores e convidados que cantaram canções da revolução.
Organizaram mais cinco oficinas: a Oficina do Crachá, onde cada aluno desenhou e construiu o seu crachá; a Oficina da Escrita, onde escreveram uma quadra, frase ou palavra alusiva à Liberdade; a Oficina do Cinema, onde exibiam e comentaram dois filmes – “O lápis azul” e “Os Capitães de Abril”; a Oficina de Actividade física e desporto para todos, com os jogos de Boccia , o projecto "incluir-te " para as turmas regulares e os jogos tradicionais com apoio da Federação Portuguesa dos Jogos Tradicionais; e a Oficina da Música, que culminou com o já referido espectáculo musical no Pavilhão Desportivo, que teve como cantores todas as turmas do 2° ciclo, alunos e professores tocaram um instrumento e contou também com um grupo convidado "Em Alma", constituído por Mária, professora de música do agrupamento, e o acordeonista Emanuel Soares.
Patente ainda exposições de caricaturas digitais realizadas pela turma do Programa Individual de Educação Formação (PIEF) subordinado ao lema: "Da ditadura à Democracia!"; e o Estendal da Liberdade, que contou com a exposição dos jornais originais publicados no dia 25 de Abril e seguintes, expostos na Biblioteca Escolar, cedidos pelo Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra, e ainda trabalhos realizados pelos alunos do 8° ano de recolha de notícias dos jornais de todo o mundo em diversas línguas.
O 49º aniversário do 25 de Abril em Abrigada foi um ensaio admirável e muito amplo para As Portas que Abril Abriu na celebração dos 50 anos da Revolução dos Cravos, que ocorrerá no próximo ano 2024.
Em Pinhel, distrito da Guarda, dia 24 de Abril, alunos do 9º ano e do ensino secundário do Agrupamento de Escolas de Pinhel, António Vilarigues, do Conselho Nacional da URAP, contou o que foi o regime fascista, com exemplos concretos - como eram as escolas, a vida no dia a dia, as lutas estudantis, as prisões, a guerra colonial, situação da mulher, a clandestinidade – e o que se conquistou - Constituição de 1976, direitos, o que é preciso defender e o que falta aplicar.
Num auditório de 240 lugares, quase cheio, a sessão foi presidida pelo director do Agrupamento professor José Vaz, e apresentada pelos professores Céu Ferreira e Manuel Perestrelo.
Em Sobral de Monte Agraço, entre 17 e 20 de Abril, por iniciativa da Câmara Municipal e do Agrupamento de Escolas Joaquim Inácio da Cruz Sobral, foram realizadas três sessões denominadas “Diálogos com História” para as seis turmas do 9º Ano.
Cada sessão teve a participação de cerca de 45 alunos, quatro professores, o Director da Escola, a presença da vereadora da Câmara Carla Alves, e de responsáveis dos Serviços de Educação.
Pela URAP estiveram António Ricardo, Dolores Parreira, Eduardo Baptista, e Maria Alexandrina Reto, e ainda José Marcelino, do Conselho Nacional.
Presentes os professores Eduardo Reis, Hugo Martins, Jorge Amaro, Maria Galrito, Patrícia Lopes, Rita Parreiral, Sandra Luís, Sandra Venâncio e Teresa Silva. Da Câmara Municipal assistiram a vereadora Carla Alves, Cátia Almeida e Patrícia Freitas dos Serviços de Educação.
Em cada uma das sessões, os convidados da URAP apresentaram a sua experiência de vida de antes do 25 de Abril durante o regime fascista de Salazar e Caetano, da luta de cada um contra esse sistema, das condições que se criaram para que surgisse o 25 de Abril e, por fim, o que foi a revolução que permitiu a liberdade, a democracia, a conquista de direitos dos trabalhadores, das mulheres, que acabaram por ser consignados na Constituição da República de 1976.
Foi abordado também a vida nas fábricas, no campo, as lutas estudantis, que enfrentaram a repressão e as prisões pela PIDE, a guerra colonial e o Movimento das Forças Armadas, que com o apoio da luta popular criou Autarquias ao serviço do povo, Comissões de Trabalhadores e Sindicatos, Comissões e Associações de Moradores, Colectividades e as várias organizações populares que consolidaram a defesa da democracia e do 25 de Abril.
Foram oferecidos ao director da Escola, para a Biblioteca, três livros da URAP: “A caminho do 25 de Abril – 50 anos do 3º Congresso de Aveiro”, “Elas estiveram nas prisões do fascismo” e “Os presos e as prisões de Angra do Heroísmo”.
Em Miraflores, freguesia de Algés, dia 24 de Abril, Marília Villaverde Cabral, vice-presidente da Assembleia Geral da URAP, e José Coelho, do Conselho Nacional, falaram numa sessão organizada pela escola intitulada “Escolas à Descoberta de Abril”, às turmas 9º B, H e 12º H1 da Escola Secundária de Miraflores. A professora bibliotecária Zelinda Ferreira Baião dirigiu a sessão.
Em Arraiolos, distrito de Évora, dia 24 de Abril, o coordenador da URAP, José Pedro Soares conversou com os alunos da EB 2,3 e Escola Secundaria de Arraiolos. Segundo o Município de Arraiolos, a intervenção de José Pedro Soares “acrescentou valor a todos os alunos ao escutarem na 1ª pessoa o que foi a ditadura fascista e o que se criou após a derrota da mesma, bem como a força, resiliência e convicção dos que lutaram e arriscaram a vida por todos nós”.
Em Peniche, distrito de Leira, as sessões continuaram a realizar-se nas várias escolas do concelho. No dia 27 de Abril, na Escola Secundária de Peniche, houve poesia e música, e falou-se sobre a Revolução de Abril para 150 estudantes. João Neves, do Conselho Nacional da URAP, participou.
Em Moimenta da Beira, distrito de Viseu, António Ramos esteve no dia 28 de Abril na Escola Secundária para falar com alunos do 9º Ano acerca do 25 de Abril de 1974, tendo já agendado uma sessão para comemorar o 50º aniversário da Revolução dos Cravos. Estiveram presentes professores, o director do Agrupamento de Escolas, e cerca de 110 alunos muito interventivos e interessados em saber como foi o final de uma ditadura que tornou o país no mais pobre da Europa, como se conquistou a liberdade e os vários direitos alcançados.
No Seixal, depois de já ter estado na Escola Secundária José Afonso, Álvaro Pato, ex-preso político, voltou ao Seixal, desta vez à Escola Secundária Alfredo dos Reis Silveira para participar numa palestra sobre o fascismo e a revolução, no passado dia 28 de Abril, dirigida a alunos do 10º ano, com a originalidade de ser também destinada a alunos de uma escola da Corunha, através de videoconferência.
Esta iniciativa foi realizada na biblioteca da escola, no âmbito do "proxecto25" de História Contemporânea Peninsular entre as escolas do Seixal e Corunha.
Em Almada, continuaram as sessões, desta vez na freguesia de Vale Figueira, com Bárbara Judas que participou na iniciativa “Cidadania e Participação”, no passado dia 28 de Abril. Bárbara Judas, resistente antifascista, realizou duas sessões com os alunos dos 1º e 2 º anos e com os 3º e 4ºanos tendo abordado o passado, o presente e o futuro da revolução de Abril e partilhou a sua experiência na prisão de Caxias. Estiveram presentes cerca de 100 alunos e os quatro professores da escola.
No Porto, no dia 17 de Abril, os resistentes antifascistas Domingos Oliveira, ex-preso político, e Manuel Barra, antigo membro do MJT, estiveram numa aula para trabalhadores-estudantes na Escola Secundária Gonçalves Zarco. Ao abrigo de um protocolo com esta mesma escola, a URAP foi ao estabelecimento prisional de Santa Cruz do Bispo, num curso para reclusas, no qual participaram as antifascistas Teresa Lopes e Maria José Ribeiro, ex-presa política. Ainda nesse mesmo dia, os reclusos do estabelecimento prisional de Custóias puderam ouvir o ex-preso político António Graça. Já no dia seguinte, Teresa Lopes e Maria José Ribeiro falaram para alunos do 10º ao 12º ano. Nessa tarde, foi a vez de Avelino Gonçalves, ex-ministro do Trabalho, contar a sua experiência a alunos do 11º e 12º anos, os quais estavam a preparar uma peça de teatro chamada “Netos de Abril”, que viria a ser estreada no noite de 24 de Abril.
A Escola do Levante, na Maia, no dia 27 de Abril, recebeu Maria José Ribeiro e Bernardo Vilas Boas, também ele ex-preso político, numa sessão à qual compareceu um representante de Câmara Municipal. No dia anterior, a 26 de Abril, Teresa Lopes e Maria José Ribeiro estiveram na Escola Soares Bento em Oliveira de Azeméis.
Em Arouca, 120 alunos da Escola Secundária vieram ouvir Jorge Sarabando, da URAP, dia 20 de Abril, falar da Revolução de Abril e da conquista da liberdade.
Em Palmela, as lutas estudantis de 1962 e 1969 foi o tema escolhido para a realização de um colóquio, no âmbito das comemorações do 49° aniversário do 25 de Abril, no Auditório da Escola Secundária, dia 3 de Maio, integrado no projecto "Partilhar Memórias, Pensar Sustentabilidade"
Numa parceria da URAP com a escola e o apoio do Conservatório Regional e da Câmara Municipal,
cerca de 180 alunos, professores e entidades convidadas, encheram o auditório, e ouviram as intervenções de Luís Farinha, historiador, ex-director do Museu do Aljube, Rogério Palma Rodrigues, médico, e Canhoto Antunes, advogado, estes últimos dirigentes estudantis em Coimbra em 1969.
No final da sessão, assistiram a um espectáculo musical e declamação de poesia referente ao 25 de Abril.