Vinte e cinco sócios e amigos do núcleo da URAP de Sta Iria de Azóia deslocaram-se a Palmela, dia 31 Outubro, numa visita guiada que contou com a colaboração da Junta da União de Freguesias de Santa Iria de Azóia, São João da Talha e Bobadela e da Câmara Municipal de Palmela.
Com a finalidade de conhecer referências antifascistas e aspectos culturais, sociais e até gastronómicos, o grupo, acompanhado por um guia local e por um amigo da URAP deslocou-se às casas onde foram presas duas antifascistas: Georgette Ferreira (que residia com António Dias Lourenço) e Maria Luísa Costa Dias.
Georgette Ferreira, hoje com 90 anos, foi detida pela PIDE na casa de Monte Moraventos, Palmela, às 3:00 de 17 de Dezembro de 1949. Foi a primeira mulher a evadir-se enquanto presa.
A 4 de Outubro de 1950 fugiu do Hospital de Santo António dos Capuchos, fuga essa organizada com a colaboração de elementos do Partido Comunista, a que pertencia, membros da família e o médico. Voltaria a ser detida em Dezembro de 1954.
Com a saúde muito debilitada foi libertada em 1959. Saiu então clandestinamente para Praga, Checoslováquia, e depois para Paris.
No 25 de Abril de 1974 encontrava-se clandestinamente na região de Setúbal, onde prosseguia a luta antifascista.
Dirigente do PCP, a que aderiu na década de 40, quando era operária têxtil, foi influenciada politicamente pelo seu padrinho e relacionou-se com Alves Redol, Carlos Pato e Soeiro Pereira Gomes.
Em 1944, Georgette Ferreira foi uma das organizadoras em Alhandra e Vila Franca de Xira das greves de 8 e 9 de Maio e da marcha do dia 8, que culminou com a prisão de várias mulheres nas Praças de Touros de Vila Franca de Xira e do Campo Pequeno, tendo algumas sido remetidas, a 11 de Maio, para Caxias, onde permaneceram até Agosto.
Após a revolução, foi deputada na Assembleia da República e membro da URAP.
Maria Luísa da Costa Dias (1916-19759) foi presa em Palmela a 3 de Dezembro de 1953 e esteve no Forte de Caxias até 18 de Dezembro de 1954.
Novamente presa e torturada em 5 de Dezembro de 1958, saiu a 20 de Abril de 1962 depois de uma campanha nacional e internacional a favor da sua libertação. Pesaria então pouco mais de 30 quilos.
Em Maio de 1961, Maria Luísa da Costa Dias, médica e católica, foi autora de uma das 13 cartas incluídas num manifesto, enviado clandestinamente da Prisão de Caxias, dirigido às "organizações femininas e democráticas do mundo inteiro", em que fazia a denúncia das torturas e das condições em que as mulheres estavam presas:
"Fui julgada ao fim de dois anos de prisão preventiva e condenada a dois anos de prisão correccional e medidas de segurança. Tal condenação foi-me aplicada em contradição com as conclusões expressas pelo próprio tribunal que, tendo negado a comprovação dos factos essenciais de que era acusada pela PIDE, me condenou, agravando ainda a pena com medidas de segurança, apesar de me encontrar tão doente que tive de ser dispensada pelo tribunal de assistir ao julgamento.
O meu estado de saúde está profundamente abalado por doença grave e sem nenhum tratamento, dado que a assistência de que necessito não pode ser ministrada na prisão e é-me negado internamento hospitalar. Em Agosto de 1960 tive de ser submetida a uma intervenção cirúrgica urgente consequência daquela ausência de tratamento. As torturas psíquicas que então me foram infligidas pela PIDE, os violentíssimos choques que com ela tive de travar nas vésperas da operação e durante os escassos dias que estive hospitalizada, provocaram-me um estado de extremo depauperamento físico, um grave esgotamento nervoso que [se] mantém passado oito meses, encontrando-me ainda incapacitada de realizar qualquer actividade intelectual.
Neste estado precário de saúde foi-me aplicado, assim como a todos os outros presos da cadeia, alguns dos quais gravemente doentes, um castigo de dois meses em regime de subalimentação, cortes de visitas e de lanches.
Neste estado de saúde, de há três meses, tenho sido sujeita arbitrariamente a longos períodos de isolamento que fortemente têm abalado a minha saúde".
Membro do Partido Comunista Português, tinha pertencido ao Movimento de Unidade Democrática. Com o seu marido, Pedro Soares, dirigente do PCP, esteve na clandestinidade em Portugal e viveu no estrangeiro em países como Moçambique, Argentina, Brasil, Chile, Argélia e Checoslováquia, onde representavam o partido.
Integrou, depois de Abril de 1974, a delegação portuguesa à Assembleia Geral da ONU (Setembro de 1974).
Morreu com o marido, Pedro dos Santos Soares, num acidente de viação ocorrido a 09 de Maio de 1975, quando tentavam salvar uma terceira pessoa.
Maria Luísa da Costa Dias é autora do livro "Crianças Emergem da Sombra: Contos de Clandestinidade".