A URAP organizou, dia 13 de Fevereiro, uma visita guiada ao Museu do Aljube, que abriu portas em 25 de Abril de 2015, a fim de homenagear os antigos presos políticos naquele estabelecimento prisional e todos os que combateram a ditadura em prol da liberdade e da democracia.
O grupo de 34 pessoas foi guiado por um ex-preso político muito especial: Domingos Abrantes, da Comissão Instaladora do Museu do Aljube. Membro do PCP, passou mais de 11 anos nas prisões fascistas e protagonizou a célebre fuga da Cadeia de Caxias, no carro blindado de Salazar. Deputado à Assembleia da República durante várias legislaturas (1976 a 1995), foi recentemente eleito para o Conselho de Estado.
O edifício do Aljube (do árabe "al-jubb" – poço sem água, cisterna, masmorra ou prisão) remonta ao período romano e islâmico, tendo sido quase sempre uma prisão: cárcere eclesiástico, prisão de mulheres e prisão política desde 1928 até 1965.
O edifício é composto por 5 pisos. O piso 1 aborda a ascensão e queda dos fascismos e disponibiliza uma breve história de Portugal entre 1890 e 1976, mostrando igualmente exemplos do que foi a censura sobre os meios de comunicação social e a produção livreira e discográfica durante a ditadura (1926-1974).
Mostra a importância da imprensa clandestina, como veículo de expressão livre de ideias, evoca a clandestinidade, enquanto modo de resistência, e ilustra o que foi a natureza da polícia política em Portugal e o papel dos tribunais políticos, meros executores das ordens da polícia e dos seus responsáveis.
O piso 2 é dedicado aos modos de organização da resistência antifascista em diferentes contextos sociais, políticos e ideológicos. Milhares de homens e mulheres dedicaram a sua vida ao combate contra o regime existente então em Portugal.
Resume o funcionamento conjugado do poder policial e judicial da ditadura, mostrando as suas diferentes etapas a partir do momento em que alguém era detido: identificação dos presos, interrogatório e tortura. apresenta ainda a complexa teia de prisões e campos de concentração instalados nas diferentes colónias, para onde era frequente a deportação arbitrária dos presos.
A resistência dos homens e mulheres encarcerados sempre se exprimiu de diversas maneiras, designadamente pela sua organização clandestina e pela preparação de fugas, individuais ou colectivas.
Finalmente recorda-se neste piso o isolamento prolongado em celas disciplinares ou, como foi o caso na Cadeia do Aljube, em celas de dimensões mínimas (os curros ou gavetas), que foi uma das práticas de tortura mais usada pela polícia política, tendo em vista destruir a capacidade de resistência dos presos.
O piso 3 dá a conhecer aspectos marcantes do colonialismo, das lutas de libertação dos povos coloniais e da guerra colonial e da solidariedade de muitos portugueses com essa luta.
Neste piso evocam-se ainda muitos companheiros que ficaram pelo caminho, vítimas do sistema repressivo da ditadura e a conquista da liberdade e da democracia a 25 de Abril de 1974.
O museu apresenta ainda aos visitantes, no piso -1 a História patrimonial do Aljube e alguns vestígios arqueológicos, no piso 0 espaço dedicado a exposições temporárias uma exposição designada Manifestação um direito e tem no piso 4 um Auditório onde Domingos Abrantes dialogou com o grupo da URAP.
Como se pode ler nos documentos do próprio museu, "o Museu do Aljube - Resistência e Liberdade é dedicado à memória do combate à ditadura e da resistência (...) pretende valorizar as memórias comuns de resistência e evidenciar os principais traços do regime ditatorial que submeteu o nosso país durante quase meio século. Pretende restituir a memória colectiva à cidadania, na sua pluralidade. Pretende, em suma, assegurar que o nosso futuro não seja amputado do nosso passado".