Morreu Nelson Mandela. O resistente do ANC contra o apartheid, o preso político que viveu 27 anos na prisão, o presidente da República da África do Sul, o Prémio Nobel da Paz e, acima de tudo, o grande político e humanista do século XX morreu ontem, 5 de Dezembro de 2013, na sua casa de Joanesburgo aos 95 anos.
Mandela foi um herói que combateu um dos regimes mais hediondos do mundo – o apartheid – que discriminava as pessoas pela raça e cor da pele, transformando-as em sub-gente sem direitos civis e políticos, foi símbolo da paz, justiça e reconciliação, sentimento que só os grandes conseguem ter, após as sevícias de que foi vítima, bem como o seu país.
Madiba, como carinhosamente era chamado pelo seu povo, não só mudou a história da sua terra, como influenciou o continente africano e o mundo.
Durante a maior parte dos 27 anos que esteve preso ocupou a cadeia de uma ilha (Robben Island) , em isolamento, numa cela minúscula, húmida, onde não entrava luz. Tinha uma lâmpada sempre ligada, não sabendo portanto se era dia ou noite. Provocou-lhe problemas respiratórios que carregou toda a vida e seriam a causa da sua morte.
A dignidade das imagens da sua saída da prisão, a 11 de Fevereiro de 1990, de mãos dadas com a segunda mulher, a polémica Winnie Mandela, e perante uma multidão, disse: “Estou aqui não como um profeta mas como um humilde servo de vós, o povo, (…) ponho , por isso, os restantes dias da minha vida nas vossas mãos”.
Nelson Mandela nasceu em Qunu, no Transkei (Cabo Oriental) em 1918. O seu pai era conselheiro do rei dos thembu, que o criou, e descendente também de um antigo rei. Quando veio para Joanesburgo formou-se em advocacia – o que não era usual para um negro – e começou a luta contra o apartheid nas fileiras do Congresso Nacional Africano (ANC) – que depois foi banido -, tendo então passado à clandestinidade em 1961. Foi preso em 1962 e condenado a prisão perpétua.
Em 1990, disse numa entrevista: “Sim, valeu a pena. Ser preso por causa das nossas convicções e estar preparado para sofrer por aquilo em que se acredita vale a pena”.
Em 1994, realizaram-se as primeiras eleições livres na África do Sul - “um homem, um voto” - e Mandela foi eleito o primeiro presidente negro do país do arco-iris, com 50 milhões de habitantes.
Em 1998, casa com Graça Machel, ex-primeira dama moçambicana. Que o acompanhará até ao fim da vida.
Em Portugal, o Partido Comunista Português, depois de apresentar as condolências, destaca que “Mandela desde muito cedo se identificou com as aspirações de liberdade e justiça do seu povo, dedicando a sua vida à luta contra o regime explorador e opressor do apartheid na África do Sul. Participou desde 1942 no Congresso Nacional Africano, e foi fundador, em 1944, com Walter Sisulu e Oliver Tambo, da sua Liga Juvenil. Na sequência do massacre de Sharpeville, perpetrado pela polícia sul-africana, e da ilegalização do ANC, em 1960, Nelson Mandela conduziu a luta armada do ANC contra o apartheid”.
Nas Nações Unidas, o secretário-geral, Ban Ki-moon, considera que “Mandela mostrou-nos como é possível , no nosso mundo e em cada um de nós, acreditar, sonhar e trabalhar pela justiça e pela humanidade”.
Na África do Sul, o presidente sul-africano, Jacob Zuma, afirma que Mandela foi o “maior filho” do seu país.
Madiba será sepultado dia 15 em Qunu, num funeral privado, conforme sua vontade. Deixou uma África do Sul diferente, onde os homens e as mulheres de todas as cores e credos políticos caminham para a igualdade. Não conseguiu mudar o mundo mas lutou por isso e teve a lucidez de sonhar.