"A União de Resistentes Antifascistas Portugueses, como organização que congrega homens e mulheres que resistiram durante o fascismo, e outros mais jovens que lutam para que este não volte a Portugal, organizou esta sessão para celebrar o centenário do Partido Comunista Português, a força que exemplarmente se bateu, como nenhum outra, décadas seguidas, contra o regime fascista”, afirmou o coordenador da URAP no auditório da Escola Secundária de Camões, em Lisboa.
José Pedro Soares falava, dia 27 de Novembro, numa sessão pública destinada a “evocar e celebrar os 100 anos do PCP” como partido que “se bateu contra o fascismo, mas também, depois, para que a Revolução triunfasse e o fascismo fosse derrotado, para que direitos e conquistas sociais, políticas, culturais, económicas fossem alcançados, se realizassem eleições, e se elaborasse e promulgasse a nova Constituição que viria a inscrever todas essas importantes conquistas”.
Outro orador do evento seria Manuel Rodrigues, da Comissão Política do Comité Central do PCP e director do jornal “Avante!”, que com José Capucho, do Secretariado e da Comissão Política do Comité Central do PCP constituíam a delegação presente na cerimónia.
Manuel Rodrigues saudou “a URAP pela homenagem aos 100 anos do PCP, associando-se desta forma às comemorações do centenário deste partido, que tiveram o seu ponto culminante a 6 de Março de 2021, e prosseguem até 6 de Março de 2022 com a realização do comício do seu 101.º aniversário, no Campo Pequeno, em Lisboa”.
Depois de mencionar a “relevante intervenção (da URAP) de que são exemplos significativos as sessões, debates, conversas, em particular com os jovens, edição de livros e outros materiais e o extraordinário papel desenvolvido na concretização do Museu Nacional Resistência e Liberdade na Fortaleza de Peniche”, o orador lembrou
que a organização foi “fundada por resistentes antifascistas com quem partilhámos muitos combates na luta contra o fascismo em Portugal, luta que prossegue na actualidade pelos ideais e valores de Abril (…)”.
“Permitam-me que de entre os membros da URAP que tanto das suas vidas deram quer na luta de resistência ao fascismo, quer na luta pelos extraordinários avanços da Revolução de Abril, quer pelos muitos combates em defesa das suas conquistas, entre tantos outros destacados combatentes da URAP, aqui evoque, dois dos seus membros recentemente falecidos, Sérgio Carvalhão Duarte – que militou nos movimentos contra a ditadura, como o MUD e o MUNAF, participou nas campanhas eleitorais para a Presidência da República de Norton de Matos e Humberto Delgado, e esteve envolvido nas lutas dos médicos por diversas causas de classe –, e Luísa Irene Dias Amado – que foi militante antifascista desde a juventude, pertenceu ao MUD Juvenil e ao MUD, foi autora dos versos “Cantemos um novo dia”, que uma vez musicados por Lopes-Graça se viriam a tornar no Hino do MUD Juvenil, e que pertenceu igualmente à Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, a quem prestamos sentida homenagem”, disse.
Na presença de mais de uma centena de pessoas, foram apresentados vídeos que mostravam variadas lutas nas quais esteve envolvido o PCP; a chegada de Álvaro Cunhal a Lisboa; o cortejo fúnebre dos presos mortos no Tarrafal para o cemitério do Alto de S. João; imagens do 25 de Abril de 1974; da libertação dos presos políticos de Caxias e Peniche; e de manifestações no pós 25 de Abril.
Estas exibições foram entrecortadas por depoimentos de Maria José Ribeiro, da direcção da URAP e do núcleo do Porto; Levy Baptista, presidente da Assembleia Geral da URAP; e ainda os jovens de Nicole Santos, Ruben Martins e Seyne Torres.
Para o coordenador da URAP, há uma similitude entre o trabalho “contra todas as formas de exploração e opressão, de desrespeito pelos direitos humanos, contra o branqueamento do fascismo, o racismo e a extrema-direita”, desenvolvido pela organização e pelo PCP no passado, a que se junta agora o trabalho presente, muito dele levado a cabo por jovens que são o futuro de Portugal.
“É a essa batalha que, de forma esclarecida e firme, o PCP, “sem pressa, mas sem perder tempo”, como dizia Saramago, permanece fiel, empenhado em contribuir para acabar com as milenares injustiças e ajudar a libertar a humanidade das seculares formas de escravatura e exploração. Parece um sonho dirão, mas é também pelo sonho que o mundo avança”, acrescentou.
“Nesse sentido, é com imensa satisfação que acompanhamos - e muitos de nós estamos nela envolvidos - a intensa actividade do Partido Comunista Português, das suas organizações um pouco por todo o país, junto dos trabalhadores e das suas lutas, junto da população, nas autarquias locais, na Assembleia da República ou no Parlamento Europeu”, sublinhou.
“Inspiram-nos essa forma de estar e lutar sempre com os outros. É também assim que procuramos fazer nesta nossa associação de antifascistas na qual, desde a sua criação, muitos militantes comunistas se associaram para, em conjunto com outros democratas, antifascistas e a sociedade em geral, criar espaços de encontro e luta pela defesa das conquistas do 25 de Abril”, concretizou José Pedro Soares.
O representante do PCP considerou igualmente que o convite feito pela URAP para participar naquela sessão “nos honra ainda mais por, nas fileiras da URAP, intervirem muitos antifascistas comunistas, que, ao lado e em unidade com muitos outros democratas e patriotas, se entregaram à luta por um Portugal novo, e a essa luta dedicaram as melhores das suas forças, os melhores anos das suas vidas, e, não raras vezes, a própria vida”.
“Luta heróica e persistente em que, de facto, o Partido Comunista Português procurou sempre dinamizar a construção de espaços de unidade antifascista, envolvendo todas as forças que poderiam contribuir para o derrube do fascismo, em largas frentes e estruturas unitárias, de que foram expressão concreta, entre outros: o MND, o MUNAF, o MUD, o MUD Juvenil, a FPLN, os Congressos Republicano e de Oposição Democrática de Aveiro, a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, as CDE. De que foram expressão as grandes batalhas políticas em torno das candidaturas de Norton de Matos, Arlindo Vicente e Humberto Delgado à Presidência da República, entre outras. De que foram significativa expressão as incontáveis e intensas lutas que envolveram milhares e milhares de operários, pescadores, estudantes, assalariados rurais, camponeses, intelectuais de diversos quadrantes culturais, professores, estudantes, militares, jovens, mulheres, populações em geral”, afirmou.
“Lutas e combates decisivos para o derrube do fascismo, a conquista da liberdade e de tantas outras transformações democráticas e extraordinários avanços sob a propulsão da Revolução de Abril”, disse Manuel Rodrigues, para concluir que “podeis continuar a contar com o Partido Comunista Português em todos os combates pela liberdade, a democracia, a paz, o desenvolvimento e o progresso social, quaisquer que sejam as circunstâncias em que tenhamos que intervir”.
Na assistência, muito diversificada, estiveram presentes sócios de Almada, Amadora, Barreiro, Beja, Évora, Lisboa, Loures, Montemor o Novo, Peniche, Santa Iria da Azóia e Seixal. Estiveram também representantes de organizações como a JCP, Casa do Alentejo, CGTP, Associação Iuri Gagarine, e Intervenção Democrática. E ainda
assistiram pais e familiares do Coro Infantil da Universidade de Lisboa, que encerrou a sessão, dirigido pela maestrina Erica Mandillo.
Anteriormente foram entoadas canções de resistência e música por José Barros, Ruben Martins e Maria Anadon e Davide Zacarias; Regina Correia disse poemas de Ary dos Santos.
“Acordai”, com música de Fernando Lopes Graça e poema de José Gomes Ferreira encerrou a comemoração do centésimo aniversário do PCP.