José Pedro Soares, coordenador da URAP, apresentou na Casa da Cultura de Setúbal o livro "Os presos e as prisões políticas em Angra do Heroísmo", dia 1 de Julho, numa sessão na qual foram lidos excertos do livro e, pela primeira vez, a lista dos 645 ex-presos, nome a nome.
Na sessão, organizada pelo Núcleo de Setúbal da URAP com o apoio do Município de Setúbal, as cerca de 25 pessoas presentes ouviram Pedro Soares, do Conselho Nacional e do núcleo, que dirigiu a sessão, ler o editorial do Boletim da URAP, recentemente distribuído, “Em louvor do espírito crítico”, da autoria de Vítor Dias, também ele do Conselho Nacional.
José Pedro Soares contou o processo da elaboração deste último livro lançado pela URAP, destacando a minuciosa pesquisa, recolha de informação e testemunhos. Referiu a importância das viagens aos Açores realizadas pela URAP em 2015 e em 2018 para homenagear os ex-presos políticos que estiveram, entre 1933 e 1943, na Fortaleza de Angra e no Castelinho. Descreveu a deslocação a Angra do Heroísmo e Ponta Delgada, no passado mês de Junho, para apresentação da edição com a presença do presidente da Câmara de Angra, Álamo de Menezes.
Na sua exposição, José Pedro Soares contextualizou o fascismo salazarista, o início das atrocidades com a chegada de Hitler a Chanceler, e a Guerra Civil de Espanha. ´Foi nesse período negro em Portugal e na Europa que se iniciaram as sucessivas "levas" de presos para a Fortaleza de Angra do Heroísmo, local escolhido por Salazar para, longe de tudo e de todos, instalar uma das suas mais sinistras cadeias´, disse.
O coordenador da URAP falou ainda das condições em que eram alojados e viveram os presos, o rigoroso regime prisional, os castigos por tudo e por nada, e quando eram levados, individualmente ou em grupos, para a "Poterna" ou para o "Calejão", locais com água a escorrer pelas paredes, sem as mínimas condições, sem qualquer agasalho. Para ilustrar esse martírio convidou alguns dos presentes a ler pequenos extractos de testemunhos deixados por presos que lá estiveram.
O orador, numa abordagem mais ampla, a propósito do livro e destas cadeias insulares, mencionou o povoamento da Ilha Terceira, a construção da Fortaleza, as suas ocupações ao longo dos anos até à chegada da primeira leva de presos do fascismo salazarista em Dezembro de 1933.
Finalmente, referiu a importância e o dever democrático de, em colaboração com as autoridades locais, criarem-se espaços de informação expositiva acessível aos visitantes daqueles monumentos, hoje qualificados pela Unesco como património da Humanidade, onde a par dos nomes dos presos que por lá passaram, se exponham mais elementos sobre a crueldade do fascismo, e as vidas sacrificadas no longo caminho da luta da resistência até ao 25 de Abril de 1974.
No início e no encerramento, Filipe Narciso tocou e cantou alguns temas de José Afonso.