A União de Resistentes Antifascistas (URAP) festejou o 47º aniversário com um almoço, seguido de um momento político e cultural, dia 13 de Maio, na Casa do Alentejo, em Lisboa, onde compareceram cerca de 200 pessoas, subordinado ao tema “Democracia sim, Fascismo Nunca Mais”.
José Pedro Soares fez um balanço da actividade da URAP desde a sua formação, no mesmo ano em que foi aprovada a Constituição da República Portuguesa, por muitos ex-membros da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos e de vários tarrafalistas, lembrando que uma das iniciativas da URAP é a romagem anual ao cemitério do Alto de S. João para homenagear os tarrafalistas ali sepultados num mausoléu em sua memória. Para o coordenador da URAP, só esta acção valeria para justificar a existência da organização.
As iniciativas em que a URAP participou este ano, com destaque para as sessões nas escolas do país que “começaram em Fevereiro em Almada e nunca mais pararam”; a actividade editorial assídua – com um novo livro sobre a prisão de Caxias, no prelo -, que assenta também nas informações colhidas na Torre do Tombo, onde uma equipa investiga os nomes dos presos políticos do fascismo; a participação, pela primeira vez, no 18 de Janeiro, na Marinha Grande; e as comemoração dos 50 anos do III Congresso de Aveiro, com uma sala a abarrotar e milhares de pessoas a percorrerem a cidade até ao cemitério para homenagearem Mário Sacramento e outros democratas, foram salientadas pelo orador.
José Pedro Soares falou da situação política que Portugal vive, do importante papel do movimento sindical, da luta de massas contra a maioria absoluta, que não resolve os problemas do país. Veja-se a luta dos professores, dos enfermeiros e muitas outras lutas que não aparecem na comunicação social, afirmou.
A acção da URAP ao longo dos tempos e a nível internacional foi também valorizada pelo coordenador da URAP que lembrou o “Comboio dos 1000”, visitas aos campos de concentração; e a Tocha da Paz da FIR, para comemorar o fim da II Guerra Mundial.
Com um apelo à participação, daqui a 15 dias, na Assembleia Geral da URAP que irá traçar as linhas de orientação para o ano que se avizinha, o do 50º aniversário da Revolução, José Pedro Soares afirmou, para terminar: “Vamos continuar a luta, porque é necessária numa situação em que vivemos com o crescimento de forças fascistas, vamos defender a Paz e a solidariedade para com os povos subjugados”.
A sessão do 47º aniversário da URAP foi apresentada por Ana Pato, do Conselho Directivo, que destacou que a organização foi fundada a 30 de Abril de 1976, oriunda da antiga Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos.
À pergunta “para quê criar em 1976 uma organização antifascista, uma vez acabado de derrubar o regime fascista em Portugal, uma vez conquistada a democracia?”, Ana Pato responde que “os dias de hoje dão uma cabal resposta positiva a essa questão e demonstram o acerto de tal decisão”.
“Democracia é a liberdade de expressar livremente o pensamento, mas é também a liberdade de agir, a liberdade de organização, o direito ao trabalho com direitos e a um salário digno, o direito a ter comida na mesa, o direito a poder ter cuidados de saúde, o direito a ter uma casa, o direito a ter tempo, tempo para criar os filhos, tempo para a cultura e para praticar desporto”, afirmou.
Depois de questionar, com exemplos, o que é democracia e liberdade nos tempos que vivemos, cita o poeta e dramaturgo Brecht, quando este diz “examinai, sobretudo, o que parece habitual”, para afirmar que se considerarmos os atentados diários que sofremos como normais, “vamos constatar que, escondido sob um manto tingido a várias cores e de corte de falsa modernidade, o que está em causa é o ataque à democracia”.
Deste modo, conclui que “a URAP é necessária. E é por o sabermos que estamos aqui, ao fim de 47 anos de existência” para construir “uma URAP mais forte e preparada para a batalha da defesa da democracia”.
Para encerrar houve um momento musical com Ruben Martins, que cantou Adriano Correia de Oliveira e terminou com a “Pedra Filosofal” de Gedeão; Isilda Maria Andrade, que cantou fados tradicionais e terminou com “Abandono” e “Lisboa Menina e Moça”; Júlio Mesquita, que disse o poema de Augusto Belchior “Abril”; Simon Frankel, que declamou Gabriel Calaya e Sophia de Mello Breyner; e por fim o Grupo Valu, que cantou várias canções de sua autoria, e uma de Sérgio Godinho.