"Celebramos 40 anos de Abril, com a alegria que nos vem da confiança de que o caminho de progresso, desenvolvimento e paz aberto em 25 de Abril de 1974 será prosseguido com a nossa determinação e capacidade de luta na defesa das conquistas da Revolução", disse Maria José Ribeiro junto às antigas instalações da PIDE, no Porto.
A concentração naquele local, actual Museu Militar, organizada pela URAP, antecedeu a manifestação do 25 de Abril que percorreu a Avenida dos Aliados, onde para além de Maria José Ribeiro, da URAP, discursou a jovem investigadora e bolseira, membro da direcção da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) Sónia Duarte.
Depois de revelar que ainda não tinha nascido em 1974, Sónia Duarte referiu-se especificamente às conquistas no âmbito da educação e investigação que Abril trouxe a Portugal e do perigo que actualmente se corre de as ver destruídas.
"Com efeito, conquistas como a da escola pública, com tendência à gratuitidade de todos os graus de ensino e ao alargamento e democratização do acesso aos graus mais elevados, têm vindo a ser postas em causa por razões de classe e por limitações económicas, como acontecia antes da revolução", disse.
"A procura do conhecimento e a construção da cultura (...) são, em si mesmas, dois traços que marcaram o processo revolucionário iniciado com o 25 de Abril e que ficaram registados no texto constitucional que herdámos", afirmou ainda Sónia Duarte, para apelar ao cumprimento da lei fundamental.
"Com efeito, é inquietante que, chegados aos 40 anos da revolução, em vez de estarmos simplesmente a celebrar a sua maturidade e orientados para o seu aprofundamento, estejamos antes na necessidade de defender as suas conquistas mais elementares e, até mesmo já no processo de tentar recuperar algumas delas, significando isso um profundo atraso político", sublinhou.
A jovem investigadora traçou ainda um perfil do quadro geral de alheamento das funções sociais do Estado nas escolas e nas faculdades, tal como na educação e na cultura em geral.
Maria José Ribeiro, por seu lado, endereçou uma saudação aos "homens, mulheres e jovens, que nas prisões fascistas do Aljube, de Caxias, de Peniche do Tarrafal e, no edifício do Heroísmo, sofreram para além da perda da liberdade, a tortura e o assassinato, foram humilhados e ofendidos, dando de forma generosa e despojada de interesses próprios o contributo indispensável para que o 25 de Abril acontecesse".
Lembrou que «o núcleo do Porto da URAP tem, há anos, um projecto – já entregue às entidades competentes - que visa implementar, neste edifício, que foi delegação da PIDE durante 40 anos e onde, segundo os registos oficiais, estiveram presas 7.600 pessoas, muitas delas várias vezes, um memorial expositivo designado de "Do Heroísmo à Firmeza – percursos na memória da casa da Pide, no Porto entre 1930 e 1974", que levante do esquecimento milhares de vítimas do fascismo».
A cerimónia terminou com a colocação de uma coroa de flores junto ao edifício ao som da canção "Grândola Vila Morena".