José Pedro Soares, coordenador da União de Resistentes Antifascistas Portugueses, proferiu hoje o discurso de abertura da Conferência Internacional promovida pela URAP, "Democracia, paz e liberdade. Fascismo nunca mais", que decorre em Lisboa, destacando entre os seus objectivos a Revolução de Abril e a memória da resistência antifascista.
“É propósito desta Conferência abordar a Revolução de Abril, o que significou todo o processo revolucionário que derrubou o regime fascista em Portugal e realizou profundas transformações democráticas, com a conquista da liberdade, da paz, de enormes avanços e conquistas políticas, económicas, sociais e culturais, (…) que representou igualmente o fim da guerra colonial, (…) e a conquista da libertação nacional e independência dos povos irmãos africanos de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe”, disse José Pedro Soares.
“É também seu propósito abordar as repercussões da Revolução de Abril no mundo, sobretudo, junto dos povos que igualmente lutavam contra regimes opressores”, afirmou.
“Como é seu propósito abordar a história e a memória da resistência antifascista e as experiências de luta libertadora do povo português e de outros povos, tendo presente as preocupações do tempo presente, a análise, a reflexão, a leitura política dos fenómenos relacionados com o recrudescimento de forças de direita e extrema-direita no nosso Pais, na Europa e no mundo”, concluiu.
A conferência reúne um grande número de convidados nacional e estrangeiros, destacando entre estes Ulrich Schneider e de Filippo Giuffrida Répaci, respectivamente secretário geral e vice-presidente da Federação Internacional da Resistência (FIR); Ana Prestes, do Brasil; Marina Teitelboim Farias, Embaixadora do Chile; Williy Meyer, de Espanha; Sebastiaen Laborde, de França; de Andrea Catone, de Itália; e ainda amigos da Catalunha, Badajoz e Uelba.
O coordenador da URAP fez ainda uma análise do que era Portugal antes de 1974, caracterizado pelo “enorme atraso económico, social, cultural e civilizacional, dominado por uma ditadura terrorista dos monopólios – associados ao imperialismo estrangeiro – e dos latifundiários”, acrescentando que a ditadura “durante 48 anos, perseguiu, prendeu, torturou e assassinou os antifascistas que lutaram pela liberdade, pela democracia, pela paz (…)”.
“(…) só entre 1961 e 1973, empurrou mais de 1 milhão e meio de portugueses para a emigração e o exílio; uma ditadura que condenou o povo português ao analfabetismo e ao obscurantismo; que servindo os interesses dos grupos monopolistas nacionais e estrangeiros, impôs o colonialismo e a guerra colonial ao povo português e aos povos africanos, que provocou milhares de mortos e mutilados”, prosseguiu.
Depois de assinalar que o 25 de Abril de 1974, foi “um levantamento militar, protagonizado pelos heróicos militares do Movimento das Forças Armadas, o MFA, imediatamente seguido de um levantamento popular”, José Pedro Soares designou a Constituição da República de 1976 “como uma das mais progressistas e avançadas no mundo”.
As conquistas que o povo português obteve “na base da aliança POVO-MFA, o ´motor da Revolução´”, como a “melhoria das condições de vida em todos os domínios; dos serviços de saúde; do direito à igualdade, de reunião, associação, de manifestação; a liberdade de organização e acção sindical e de greve, a proibição do lock-out; bem como, a constituição de partidos políticos, o direito ao voto, o fim da censura”, foram destacados.
“Foi instituído o poder local democrático. Foi extinta a criminosa polícia política, a PIDE/DGS, e posto fim à guerra colonial, reconhecendo-se o direito à independência dos povos colonizados pelo regime fascista português”, afirmou ainda.
Após falar no retrocesso destes últimos anos devido a governos de direita, José Pedro Soares disse que a luta contra quem quer “enterrar o legado da Revolução de Abril” está em curso e que é também “objectivo desta Conferência debater as causas e razões porque neste nosso tempo se verifica o recrudescimento de forças de direita e extrema-direita, racistas, xenófobas, fascistas e fascizantes, alcançando representações em parlamentos e em governos”.
O coordenador da URAP apontou as causas dos conflitos internacionais como “o que se verifica com o massacre e o genocídio do povo palestiniano ou a guerra na Ucrânia”, para realçar “a desinformação veiculada nos órgãos de comunicação social, nas redes sociais, no sistema de ensino, por centros de produção e difusão ideológica”.
“Esse é também um objectivo da nossa Conferência. Celebrar os 50 anos da Revolução de Abril e, ao mesmo tempo, procurar perceber melhor quais são hoje os perigos para a liberdade e a democracia, mas também para a paz – porque como nos ensina a história a promoção das concepções reaccionárias e fascizantes são acompanhadas da promoção da violência e da guerra”, garantiu.
“Daqui, desta Conferência, expressamos a nossa solidariedade ao povo palestiniano e reafirmamos a exigência do cessar-fogo imediato e permanente, da urgente ajuda humanitária e do reconhecimento e efectiva concretização do Estado da Palestina, conforme determinam as resoluções da ONU”, disse, acrescentando que lamentamos que as autoridades portuguesas – de um país que há 50 anos se libertou do fascismo e pôs fim à guerra e ao colonialismo – não tenha uma palavra de condenação dessa escalada criminosa levada a cabo por Israel, que não seja claro relativamente à criação do Estado da Palestina, como já outros estados o fizeram”.
“O mundo precisa de uma nova ordem mundial de paz e cooperação entre todos os povos do mundo, que traga esperança e confiança num futuro melhor, que respeite os princípios da Carta da ONU”, declarou José Pedro Soares.