Realizou-se em Maio de 2012 uma viagem organizada ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau que juntou 1000 jovens de toda a Europa. Entre eles, estiveram 108 portugueses. Esta viagem foi organizada pela Federação Internacional de Resistentes (FIR - Associação Antifascista) - organização de que a URAP é membro - em colaboração com o Instituto dos Veteranos (INIG) e a Fundação Auschwitz.
Sabe mais aqui sobre o Comboio dos 1000 e conhece o dia a dia da delegação portuguesa, as fotos e os vídeos...
Por que razão assinalam os jovens portugueses a derrota do nazi-fascismo nos dias de hoje?
Quem foi a delegação portuguesa?
O Comboio dos 1000 foi um encontro internacional de juventude que se realizou entre os dias 5 e 10 de Maio de 2012 que assinalou o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota do nazi-fascismo, homenageando as suas vítimas. O comboio, reservado especialmente para a ocasião, partiu de Bruxelas em direcção a Auschwitz. Nele viajaram jovens de vários países europeus, bem como sobreviventes de campos de concentração e outros veteranos, permitindo assim o contacto directo entre os jovens e os protagonistas da luta antifascista.
Esta viagem foi sobre a memória e o compromisso com a história. A visita a locais históricos e o contacto directo com as vítimas do fascismo contribuiu para o desenvolvimento da consciência democrática e dos valores dos direitos humanos dos participantes.
Esta viagem comemorou a vitória das forças democráticas sobre o nazi-fascismo. Foi uma massiva e simbólica mobilização de jovens de toda a Europa, juntos pela defesa da democracia.
Esta viagem permitiu a visita aos campos de concentração e de extermínio de Auschwitz I e II (Birkenau), dando a conhecer o sistema nazi de genocídio, contribuindo, assim, para a preservação da memória e denunciando esta experiência de negação dos direitos humanos.
A viagem que fizemos pretendeu lembrar-nos os horríveis crimes a que levam os regimes apostados na exploração e na guerra. O nazismo alemão e o fascismo, que sucederam, sobretudo na Europa, no seguimento da Primeira Grande Guerra visaram, por um lado e por parte do capitalismo, reprimir as ameaças que para ele representavam os movimentos progressistas dos trabalhadores e dos democratas que lutavam no caminho da libertação da exploração, pela liberdade e por uma sociedade mais justa. Por outro lado, e prosseguindo no caminho imperialista da exploração de outros povos, visaram alargar a sua influência e desencadear uma guerra de conquista em que as matérias-primas, territórios, mercados, países e povos fossem entregues aos mais fortes. Tudo e todos quantos constituíssem obstáculos a estes desígnios teriam de ser reprimidos e eliminados.
O nazi-fascismo é assim uma ditadura terrorista, baseada nos interesses do capital e na exploração do trabalho, imperialista ou sua aliada nas guerras de conquista e no colonialismo.
Estes regimes, consoante os países e o seu desenvolvimento desigual, tiveram as suas particularidades nacionais. Surgindo pela primeira vez no poder em Itália, tendo à sua frente o ditador Benito Mussolini, ex-dirigente socialista, constituiu uma fonte formal da organização do Estado que, por exemplo, foi copiada, em Portugal, por Salazar, no seguimento do golpe militar de 1926.
A crise do sistema capitalista internacional deu origem à reprodução deste tipo de regimes, apoiados nas forças mais obscurantistas e repressoras e, sobretudo, contando com o apoio dos monopólios que os financiaram, recolhendo depois os lucros que tal sistema lhes ofereceu (Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, Áustria, Grécia, Roménia, Argentina, Brasil, etc.).
Por que razão assinalam os jovens portugueses a derrota do nazi-fascismo nos dias de hoje?
A URAP considera que, 67 anos passados sobre a vitória dos povos sobre o nazi-fascismo, a defesa dos valores da liberdade e da democracia, em todas as suas vertentes, mantém toda a actualidade. Portugal, que viveu a sua própria experiência da ditadura fascista, conhece bem o peso da censura, das prisões políticas, da tortura, dos assassinatos, da guerra colonial, da pobreza, da exploração.
Hoje, num momento em que as consequências da crise do sistema são transferidas para as costas do povo, nomeadamente das novas gerações, trazendo consigo a pobreza, o desemprego, os baixos salários, a limitação dos direitos; num momento em que o empobrecimento da democracia - económica, social, cultural e política - convive com tentativas de branqueamento dos crimes do fascismo em Portugal e no mundo, a URAP apelou à mobilização e à participação dos jovens portugueses para a defesa da memória e para a construção de um mundo de paz.
Quem organizou?
A FIR-Federação Internacional de Resistentes - Associação Antifascistas, o
Instituto dos Veteranos - Instituto Nacional dos Inválidos de Guerra (Bélgica) - (IV-INIG) e a
a Fundação Auschwitz.
Em Portugal, a coordenação dos esforços para uma presença de jovens portugueses foi pela URAP.
A viagem de comboio iniciou-se no dia 5 de Maio de 2012. Largas centenas de estudantes belgas e outros jovens europeus - sobretudo oriundos de países de organizações membro da FIR - iniciaram a sua viagem a partir de Bruxelas para a Polónia, com o objectivo de estarem presentes no campo de Birkenau no dia 8 de Maio, data da capitulação alemã. Houve algumas paragens no caminho, onde entraram outros grupos. Outros jovens chegaram directamente à Polónia para participar neste encontro.
Na Polónia houve um programa intensivo de viagens guiadas a memoriais, contactos com sobreviventes dos campos, eventos comemorativos e também espectáculos de música e de teatro e muito convívio entre os jovens.
O programa da delegação portuguesa incluiu ainda uma visita ao Parlamento Europeu, a convite dos deputados do PCP eleitos nesta instituição.
Quem foi a delegação portuguesa?
A coordenação dos esforços para uma presença de jovens portugueses foi pela URAP. Entre os 108 portugueses encontravam-se estudantes do ensino básico, secundário - que participam em grupo e viajaram acompanhados pelos seus professores - estudantes do ensino superior, jovens trabalhadores e jovens representantes do movimento associativo, nomeadamente movimento juvenil, estudantil e sindical.
Participaram estudantes da
Escola Básica Bento Carqueja, em Oliveira de Azeméis
Escola Secundária Alfredo dos Reis Silveira, no Seixal
Escola Secundária Emídio Navarro, em Almada
Escola Secundária Fernão Mendes Pinto, em Almada
e representantes de
ABIC - Associação dos Bolseiros de Investigação Científica
AEESCD - Associação de Estudantes da Escola Secundária Calazans Duarte, Marinha Grande
AEFLUL - Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Associação "Os Pioneiros de Portugal"
CPPC - Conselho Português para Paz e Cooperação
FENPROF - Federação Nacional de Professores
Fronteiras - Associação para a Defesa dos Direitos e Liberdades Democráticas
JCP - Juventude Comunista Portuguesa
OPE - Organização para a Promoção dos Ecoclubes
PEV - Partido Ecologista "Os Verdes"
SEP - Sindicato dos Enfermeiros Portugueses
URAP - União de Resistentes Antifascistas Portugueses
USL - União dos Sindicatos do Distrito de Lisboa
USP - União dos Sindicatos do Distrito do Porto
USS - União dos Sindicatos do Distrito de Santarém
Connosco viajou também José Pedro Soares, veterano antifascista, ex-preso político português. José Pedro Soares, actualmente dirigente da URAP, resistiu à ditadura fascista em Portugal.
Esteve nas prisões fascistas de Caxias e de Peniche entre 1971 e 1974. Foi condenado a três anos e meio de prisão e perda de direitos políticos por nove anos. Foi sujeito a um total de 820 horas de interrogatórios, barbaramente tratado com espancamentos, tortura da estátua e do sono, no total 33 dias e noites (6+6+2+8+11) sem lhe ser permitido dormir, ameaças de morte. Permaneceu isolado de 1 de Julho a 17 de Setembro. Em 25 de Abril de 1974, a Revolução de Abril restitui-lhe a liberdade e os direitos fundamentais.
Este dia foi o primeiro dia de viagem para os portugueses. O primeiro encontro entre os participantes foi no aeroporto de Lisboa. A delegação portuguesa seguiu em dois voos diferentes para Bruxelas, onde ficou alojada.
Bruxelas cresceu de uma fortaleza no século X, fundada por um descendente de Carlos Magno, para uma metrópole de mais de um milhão de habitantes. A área metropolitana da cidade tem uma população de mais de 1,8 milhões de habitantes.
Aquando da ocupação nazi da Bélgica em 1940 (e que se estendeu até 1945), o povo belga organizou-se em mais de uma dezena de grupos de resistência armada. Ao mesmo tempo, nos campos de concentração, os prisioneiros belgas organizaram a resistência. Foram mais de 40 mil prisioneiros políticos aos quais se juntaram mais de 30 mil outros resistentes belgas presos pelos nazis.
Este foi o dia de embarque no Comboio dos 1000. Quando os portugueses chegaram à Gare de Schaerbeek, encontraram já lá muitos jovens.
A estação de comboios de Schaerbeek foi usada pelos Nazis na Segunda Guerra Mundial para reunir prisioneiros políticos e enviá-los para os campos de concentração alemães como, por exemplo, o de Buchenwald.
Houve ainda tempo para uma foto de grupo! (Será que todos conseguiram aparecer na foto?)
Na Gare houve uma cerimónia e uma sessão de boas-vindas aos participantes. O espaço foi pequeno demais para acolher tantos jovens!
Enquanto esperávamos a partida do Comboio, o tempo foi aproveitado para conversas entre os vários participantes. Aproveitámos a presença do José Pedro Soares para conhecermos a sua experiência e ouvirmos o seu testemunho.
Começou o embarque. Muitas horas de viagem nos esperavam. O Comboio fez algumas paragens para recolher mais participantes. Cada minuto das paragens do Comboio era aproveitado ao ar livre.
O tempo foi aproveitado para o convívio e para que os participantes travassem conhecimento entre si. Houve quem jogasse às cartas, quem cantasse, quem dormisse e quem tivesse contado o tempo que demorava a percorrer o comboio de uma ponta à outra: 10 minutos!
O transporte dos prisioneiros para os campos de concentração era frequentemente realizado em condições horríveis, usando vagões ferroviários de carga, abarrotados e sem quaisquer condições sanitárias. Normalmente os vagões na Europa podiam transportar 6 cavalos ou vacas e neles eram amontoados de 60 a 100 presos. Cada um tinha a sua passagem paga pela SS (Schutzstaffel - organização militar do nazismo) à companhia ferroviária alemã. Em alguns casos os judeus enganados com a promessa de recolocação para trabalho pagavam a sua própria passagem para a morte. Mais de 350000 judeus húngaros pagaram passagens em vagões de passageiros de segunda classe para serem levados a Auschwitz. A organização logística envolvida no transporte ferroviário de milhões de pessoas com registos cuidadosamente catalogados e arquivados foi uma tarefa de um considerável grupo de membros da SS e das companhias ferroviárias dos países de deportação ou passagem. As listas de passageiros da SS foram destruídas, mas as das companhias civis foram preservadas e hoje encontram-se em arquivos, sendo a origem da identificação de alguns milhões de vítimas.
Ao fim de 31 horas de viagem, chegámos a Cracóvia, na Polónia. O grupo português seguiu para três hotéis diferentes. A viagem foi cansativa e soube bem recarregar as baterias.
Cracóvia, antes da guerra, era um influente centro cultural para os aproximadamente 68 000 judeus que ali residiam. A perseguição da população judaica começou logo depois das tropas alemãs entrarem na cidade em Setembro de 1939 e pouco depois os judeus começaram a ser enviados para campos de trabalho forçado. Mais tarde, entre sinagogas forçadas a fechar e relíquias e objectos de valor entregues a autoridades nazis, todos os judeus a partir de 12 anos usavam braçadeiras de identificação. Em 1940 foram ordenadas as primeiras deportações maciças de judeus - tendo sido apenas 15 000 trabalhadores e famílias autorizados a ficar. Outros foram expulsos da cidade e realojados em regiões rurais.
O Gueto de Cracóvia, formalmente estabelecido em Março de 1941 no distrito de Podgórze, levou famílias polacas desalojadas dessa região a assumir as antigas residências dos judeus expulsos. Enquanto isso, 15 000 foram comprimidos numa área que abrigava anteriormente 3000 pessoas. Assim, cada apartamento passou a abrigar quatro famílias, enquanto os menos afortunados passaram a viver nas ruas. O gueto foi cercado por muros que o separaram do resto da cidade: todas as portas e janelas que davam acesso ao lado «ariano» foram fechadas com tijolos, restando apenas quatro acessos fortemente vigiados. A partir de maio de 1942 os nazis implementaram deportações sistemáticas do gueto para campos de concentração da região. Centenas de judeus foram transportados nos meses seguintes: o primeiro transporte reuniu 7000 pessoas e o segundo mais 4000. Em 13 e 14 de Março de 1943 foi organizada a «liquidação» final do gueto: oito mil judeus considerados aptos para o trabalho foram transportados para o campo de trabalhos forçados de Plaszow. Os considerados inaptos - cerca de 2000 - foram mortos nas ruas e os outros enviados para Auschwitz.
Em toda a Polónia, com o objectivo de destruir a resistência polaca, a ocupação nazi perseguiu e liquidou os seus inimigos políticos - activistas e dirigentes operários, particularmente os activistas e dirigentes comunistas.
Este foi o primeiro dia em que visitámos o campo de concentração. Saímos bem cedo para Auschwitz I que fica a cerca de 50 km de Cracóvia. Visitámos o campo e o museu.
A 27 de Abril de 1940, por ordem de Himmler, é criado um campo de concentração em Auschwitz (Oswiecim), Polónia, entre Katowice e Cracóvia. Auschwitz-Birkenau é o nome de um grupo de campos de concentração localizados no sul da Polónia, símbolos do Holocausto perpetrado pelo nazismo. Auschwitz I era o campo de concentração original que servia de centro administrativo para todo o complexo.
No portão principal de Auschwitz I, lê-se a frase Arbeit macht frei («O trabalho liberta»).
Foi aberto em 20 de Maio de 1940, a partir de barracas de tijolo do exército polaco. Os primeiros prisioneiros do campo foram 728 políticos polacos de Tarnów. Inicialmente, o campo foi utilizado para internar membros da resistência e intelectuais polacos, mais adiante foram levados para lá também prisioneiros de guerra da União Soviética, prisioneiros comuns alemães, elementos «anti-sociais» e homossexuais. No primeiro momento chegaram também prisioneiros judeus. Geralmente o campo abrigava entre treze e dezasseis mil prisioneiros, alcançando a quantidade de vinte mil em 1942.
Os prisioneiros do campo saíam para trabalhar durante o dia nas construções do campo, com música de marcha tocada por uma orquestra.
As SS geralmente seleccionavam prisioneiros, chamados kapos, para fiscalizar os restantes. Todos os prisioneiros do campo trabalhavam. As severas condições de trabalho aliadas à desnutrição e falta de higiene faziam com que a taxa de mortalidade entre os prisioneiros fosse muito elevada. O bloco 11 de Auschwitz I era a prisão dentro da prisão e ali se aplicavam os castigos. Alguns deles consistiam em prendê-los por vários dias em celas tão pequenas que não permitiam sentar. Outros eram executados, pendurados ou deixados a morrer de fome.
Durante a tarde, os visitantes puderam visitar a praça principal de Cracóvia.
A Rynek Glowny era a maior praça da Europa medieval, construída em 1257, e é, desde então, o coração de Cracóvia. Era um local pri vilegiado para o comércio, sendo actualmente um dos locais de maior atracção turística.
Aí situa-se a Ig reja de Santa Maria (Kosciol Mariacki) do séc. XV de estilo gótico. Uma das grandes atracções de Cracóvia é o trom petista que, segundo uma lenda antiga, toca na torre mais alta, a todas as horas para cada direcção dos pontos cardeais.
O Sukiennice (Centro Comercial Medieval) foi construído em 1257, necessitando mais tarde de reconstrução e tornando-se uma obra-prima do Renascimento. Nos seus primórdios os comerciantes de todo o mundo iam lá trocar as suas mercadorias pelas especialidades de Cracóvia. Hoje o seu papel é o comércio tradicional.
À noite, houve um espectáculo de teatro chamado Kamp. Eram milhares de pequenos bonecos e marionetes que retratavam, de forma extremamente impressiva e comovente, a vida no campo de concentração.
Este é o dia da libertação! No dia 8 de Maio assinala-se o fim da 2ª Guerra Mundial, em 1945. Neste dia visitámos o campo Auschwitz II, em Birkenau. Partimos de manhã cedo. Os autocarros deixaram-nos na juden ramp a partir de onde todos os participantes caminharam até à entrada do campo, tendo, assim, percorrido o mesmo caminho que faziam os prisioneiros aquando da sua chegada durante os anos de funcionamento do campo. À semelhança do que acontecera no dia anterior, visitámos o campo acompanhados por guias.
Auschwitz II (Birkenau) é o campo que a maior parte das pessoas conhece como Auschwitz. O campo está localizado em Brzezinka (Birkenau), a 3 km de Auschwitz I. A construção iniciou-se em 1941 como parte da Endlösung der Judenfrage (solução final). O campo tinha uma área de 2,5 por 2 km e estava dividido em várias secções, cada uma delas separadas em campos. Os campos, como o complexo inteiro, estavam cercados e rodeados de arame farpado e cercas eléctricas (alguns prisioneiros utilizaram-nas para o suicídio). O campo chegou a ter 100 000 prisioneiros.
O objectivo principal do campo não era o de manter prisioneiros como força de trabalho (caso de Auschwitz I e III) mas sim de exterminá-los. Para cumprir esse objectivo, foi equipado com quatro crematórios e câmaras de gás. Cada câmara de gás podia receber até 2500 prisioneiros por turno. O extermínio em grande escala começou na Primavera de 1942.
Algumas vezes, logo após a chegada, os prisioneiros eram conduzidos imediatamente às câmaras de gás. Em outras ocasiões, os nazis seleccionavam alguns prisioneiros para ser enviados a campos de trabalho ou para realizar experiências. Geralmente as crianças, os anciãos e os doentes eram enviados directamente para a morte.
Aqueles que eram seleccionados para exterminação iam para um dos grandes complexos de câmara de gás/crematório nos extremos do campo. Dois dos crematórios (Krema II e Krema III) tinham instalações subterrâneas, uma sala para despir e uma câmara de gás com capacidade para milhares de pessoas. Para evitar o pânico, informava-se as vítimas que receberiam ali um duche e um tratamento desinfectante. Uma vez selada a entrada, descarregava-se o agente tóxico Zyklon B pelas aberturas no tecto. Os corpos eram levados por prisioneiros seleccionados para trabalhar na operação das câmaras de gás e fornos crematórios (chamados Sonderkommando), a uma sala de fornos anexa, para cremação.
As câmaras de gás de Birkenau foram destruídas pelos nazis em Novembro de 1944 com a intenção de esconder das tropas soviéticas as actividades do campo. Em 17 de Janeiro de 1945 os nazis iniciaram uma evacuação do campo. A maioria dos prisioneiros deveria partir para o Oeste. Aqueles muito fracos para caminhar foram deixados para trás. Milhares de prisioneiros foram libertados pelo Exército Vermelho em 27 de Janeiro de 1945.
No final da manhã foi a cerimónia oficial de comemoração do fim da Segunda Guerra Mundial. Nesta cerimónia intervieram o primeiro-ministro belga, o presidente da Fundação Auschwitz e o presidente da FIR.
Homenageando as vítimas, os participantes depositaram, cada um, uma flor no memorial. Jovens leram, nas suas línguas maternas, o juramento de Auschwitz: "Os sobreviventes de Auschwitz prometeram lutar para não aconteça mais nenhum Auschwitz. Nós tomamos o testemunho".
De entre a assistência, pôde ouvir-se em português "fascismo nunca mais".
À tarde, assistimos a um espectáculo de música Klezmer com os Kroke e, à noite, foram ainda muitos aqueles que tiveram coragem de ir à discoteca.
Neste dia, tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais de Cracóvia.
Visitámos o Castelo de Wawel que se situa na parte antiga da cidade e era a antiga residência dos reis, nas margens do rio Vístula.
Foi também utilizado pelos soldados austríacos e pelos nazis como quartel-general. No castelo é possível ver os aposentos reais, a vista para o rio e ver a cave do dragão da Cracóvia, com a sua estátua que deita fogo.
Passámos também pelo Kazimierz, o bairro judeu, que se encontra perto do centro histórico da cidade. Na Segunda Guerra Mundial a destruição do bairro, das sinagogas e todos os símbolos judeus foi visível. Muitas das cenas de A Lista de Schindler foram filmadas neste bairro.
No início da tarde, despedimo-nos de Cracóvia e embarcámos no regresso a Bruxelas.
No comboio, em nome de toda a delegação portuguesa, foi oferecido um presente simbólico aos organizadores do comboio.
Após a entrega dos presentes, houve a oportunidade para um encontro entre José Pedro Soares e a delegação portuguesa. José Pedro Soares falou aos participantes dos crimes do fascismo na Alemanha, mas também em Portugal. Referiu que em todos estes momentos foram os jovens as primeiras vítimas, mas também mostrou - e o seu testemunho pessoal é disso prova - que os jovens foram a primeira linha da resistência. Denunciou os ataques que hoje estão a ser desferidos contra os direitos democráticos e exortou os presentes a lutarem pela defesa da democracia.
Durante a viagem, quem esteve mais atento, também pôde ouvir, a voz de José Pedro Soares, na rádio do comboio.
Também foi com muita atenção que os participantes portugueses escutaram Paul Sobol, sobrevivente de Auschwitz, contar como era a vida (e a morte) no campo. E foi como emoção que conheceram a sua história de amor.
Depois de mais de um dia de viagem de comboio, chegámos a Bruxelas, à estação de Bruxelles-Midi. Depois de tão longa viagem soube bem encontrar a comida portuguesa que estava à nossa espera na casa do Sport Alma e Benfica. Depois das palavras da deputada no Parlamento Europeu, Inês Zuber, seguiu-se convívio com...DJ Morcelas!
O programa português do Comboio dos 1000 incluía uma visita ao Parlamento Europeu a convite dos deputados do PCP, do Grupo Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica (GUE/NGL), Inês Zuber e João Ferreira.
O encontro com os deputados, aberto com uma intervenção do deputado João Ferreira na qual relacionou o regime nazi-fascista com as suas raízes sociais e económicas, serviu para uma profunda troca de opiniões entre todos os participantes portugueses do Comboio dos 1000 sobre o significado desta experiência para cada uma das escolas e organizações representadas. O tempo foi curto para tanto que havia a ser dito e partilhado.
Momento importante foi a oferta pelos alunos da Escola Secundária Emídio Navarro de uma escultura da autoria das alunas Mariana Assunção e Carolina Jorge com título "O Agrilhoado Português do séc. XXI".
Seguiu-se uma visita ao hemiciclo e um almoço nas instalações do Parlamento Europeu.
Foi o início do regresso a casa...
Esta viagem vai ficar bem gravada na memória de todos os que participaram. Foi uma experiência única que de certo nos transformou a todos.
Deixou-nos os olhos mais abertos para a realidade, para tomar consciência do que nos rodeia.
Ensinou-nos a utilizar a história e o conhecimento do passado para mudar o presente e escrever o futuro.
Todos os participantes sabem hoje melhor que está nas suas mãos construir uma sociedade justa e digna e acima de tudo lutar para que fascismo nunca mais!