O Capitão de Mar-e-Guerra Carlos Machado dos Santos, militar de Abril que dirigiu a operação de libertação dos presos políticos do Forte de Peniche em 26 de Abril de 1974, morreu dia 9 de Fevereiro em Lisboa.
O corpo do militar de Abril esteve na Igreja da Cova da Piedade, tendo-se realizado o funeral no sábado 11 de Fevereiro no cemitério de Vale de Flores, no Feijó.
Nascido em Lisboa, em 1943, Carlos Alberto Marques Machado dos Santos foi incorporado na Marinha, em 1960, e reformado, com o posto de Capitão de Mar-e-Guerra, CMG, em 1993. Era Engenheiro Hidrográfico.
Homem de elevada inteligência, desportista náutico desde a juventude, era um grande democrata e associativista, tendo sido dirigente em vários mandatos da Sociedade Filarmónica União Artística Piedense (SFUAP), da Associação de Iniciativas Populares para a Infância do Concelho de Almada (AIPICA) e fez parte da Assembleia Municipal de Almada, eleito pela CDU.
Amante da cultura, melómano, apoiante do Teatro de Almada, cidade onde residia, esteve presente em numerosas iniciativas da URAP, nomeadamente na Fortaleza de Peniche, onde dialogou com visitantes e ex-presos políticos, mesmo com a saúde já debilitada.
Em artigo publicado em 2017, Machado dos Santos relatou episódios da libertação dos presos de Peniche, destacando que o Movimento dos Capitães tinha como prioridade ´acabar com a guerra colonial, mas também derrubar o estado fascista, com a libertação incondicional dos presos políticos e a extinção da polícia política´.
"Finalmente, chegou-se ao largo fronteiro à Fortaleza de Peniche apenas pelas 22 horas (...). Lá, então, a multidão era muita, a ansiedade maior, os gritos, entre aclamações e críticas ao retardo, evidentes, as palavras de ordem profusas.
(...) Após visita prévia às instalações onde se encontravam os detidos, conduzida pelo Director da Prisão e por um dos oficiais da Companhia de Infantaria ocupante, no impedimento físico do Capitão, procedeu-se aos preparativos para o protocolo da libertação.
(...) Note-se que, no decorrer desta visita, se ouviu uma palavra de ordem clamada pelos presos das facções esquerdistas: «ou todos, ou nenhum», sintomática de que se encontravam conhecedores das reservas colocadas quanto à libertação.
A saída em liberdade dos detidos processou-se até cerca da meia-noite (...).", contou.
A URAP apresenta sentidas condolências aos familiares e amigos de Carlos Machado dos Santos.