A 13 de Novembro assinala-se os 85 anos da Revolta Popular de Peniche, também conhecida por “Motim de Peniche” ou “Guerra das Espoletas”, uma das grandes lutas da resistência ao fascismo contra a repressão, a miséria e a fome.
O povo de Peniche, com destaque para os pescadores e suas famílias, revoltou-se em 13 de Novembro de 1935 contra a proibição da pesca durante um ano, dos barcos condenados, e a prisão de 62 mestres, tendo ocupado a vila, cortado as comunicações telefónicas e telegráficas e levantado uma barricada à saída de Peniche. Foi gritada pela população a palavra de ordem: “Sem pesca não há pão”.
Quando as camionetas se encontravam na Praça Jacob Rodrigues Pereira prontas para transportar os mestres para a cadeia das Caldas da Rainha, os sinos começaram a tocar a rebate, chamando a população à rua. O comércio e as escolas fecharam, as conserveiras aderiram à luta.
A população invadiu os carros destinados ao transporte dos mestres na tentativa de impedir a sua transferência. A massa humana segue para o Portão de Peniche de Cima, barra a estrada, cortando o trânsito, para impedir a saída das camionetas.
Na zona da Prageira (antigo Juncal) foram derrubados postes telefónicos e de telecomunicações, e cortados os fios. A GNR, reforçada com mais forças, vindas de outras localidades, reprime ferozmente estas acções, começando a disparar, matando a tiro o pescador Francisco Sousa e ferindo outros.
Após estes acontecimentos, a vila foi invadida por forças militares e outras forças da repressão (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, antecessora da PIDE), sendo decretado o “estado de sítio”. A PVDE realizou 45 prisões, sendo os presos enviados para a prisão do Limoeiro, em Lisboa.
Os presos foram os seguintes: Acácio Vagos Varina; Álvaro Ambrósio; Antero Pereira Teixeira; António Ceia; António Domingos Guincho; António Heitor; António Nobre “O Arsénio”; António Valnove Carvalho; Asselino Ginga; Augusto Santana Veloso; Carlos Leiria Júnior; Custódio Ramizo Soisinha; Domingos Mesquita “O Marreco”; Eduardo Vieira Simões; Francisco de Castro Gonçalves “O Farruca”; Francisco Leonardo Franco “O Carélia”; Idalino Gomes “O meia mão”; Inácio Eusébio; João Cupertino da Silva “João Vareia”; João Francisco Serpa “O João Vitória”; Joaquim André dos Santos; Joaquim de Jesus Godinho “O Guerra”; Joaquim Lares Couto; Joaquim Moura; Joaquim Nunes Carveiro; José Alves da Cruz “O Vienês”; José Amandio “José Mendonça”; José André Godinho “José da Gata”; José do Carmo Homem; José Domingos da Costa; José João; José Jaime da Cruz Varela; José Joaquim de Sousa Varela; José Luís Ferreira Brilha; José da Luz; José Madeira de Campos; José Maria Francisco; José Maria Ribeiro Borges; José do Rosário Serafim “José Catarino”; Luís de Sousa “O Lio”; Manuel Eusébio Serrano “O mala preta”; Manuel Eustáquio; Marcolino Eustáquio; Norberto Mota; Umberto Narciso.
Nos dias posteriores, o regime foi obrigado, pela força dos acontecimentos, e pela luta incessante da população, a libertar os mestres e os outros detidos e a permitir que os barcos pudessem ir ao mar. Foi também com esta jornada de resistência que se conseguiu que uma reivindicação antiga dos pescadores de Peniche fosse realizada: a construção do molhe Oeste.
A URAP-União dos Resistentes Antifascistas Portugueses pretende manter viva a memória histórica desta luta e assinalar os 85 anos deste acontecimento com a realização de uma sessão histórica evocativa, quando as condições de pandemia o permitirem; a feitura de uma brochura sobre este acontecimento; um Roteiro da Revolta, passando pelos locais da contenda; uma exposição que possa percorrer as escolas e as colectividades do concelho e uma escultura/monumento, que assinale este acontecimento, de homenagem ao pescador que foi morto, aos presos e à população de Peniche.
A luta antifascista não é um problema do passado, mas do presente. Está de novo em franco crescimento. Assistimos constantemente ao branqueamento do fascismo e ao apagar da importância da luta da Resistência. Cabe aos democratas e aos antifascistas transmitir com verdade e rigor, sobretudo às novas gerações, o que custou a conquista da liberdade, o que significou o regime fascista e valorizar a luta pela democracia e pela liberdade.