Texto: João Manuel Neves
Presos Políticos naturais ou residentes em Peniche
Desde sempre se manifestaram em Peniche fortes sentimentos antifascistas. Foi importante a contribuição dos trabalhadores e da população de Peniche para a conquista da Liberdade e da Democracia.
Importantes lutas foram travadas: pelos pescadores, pelas conserveiras, pelos calafates e pela população. As Greves e as concentrações de pescadores frente à Capitania, as comemorações do 1º de Maio, a Revolta Popular de 1935, são alguns exemplos dessas lutas.
Em diferentes lutas travadas contra o fascismo, encontramos sempre naturais de Peniche: na frente sindical, temos dirigentes sindicais participantes nas reuniões que deram origem à constituição da Intersindical (Filomena das Neves e Maria Júlia dos Santos); na luta estudantil, temos dirigentes associativos (Carlos Mota, Miranda Ferreira, João Matos Bilhau); na organização do 3º Congresso da Oposição Democrática, temos membros na comissão nacional (Carlos Mota e João Neves, tendo este último discursado na sessão inaugural); nas eleições de 1973, temos um candidato na lista da CDE de Leiria (Carlos Mota).
Os resistentes antifascistas que, em Peniche, e durante todo o período de ditadura fascista, lutaram pela Liberdade, pela Democracia, contra a Guerra Colonial, pela Paz e por melhores condições de vida, eram vigiados, presos, torturados e um foi mesmo assassinado (Francisco Sousa).
Houve resistentes antifascistas naturais de Peniche que lutaram na sua terra e outros que lutaram fora dela. Muitos presos políticos de Peniche passaram pelas prisões do Aljube, de Caxias, de Angra do Heroísmo, do Tarrafal e de Peniche.
O levantamento dos presos políticos de Peniche continua em atualização. Não estão incluídos, neste levantamento, os nomes dos 45 presos aquando da Revolta de Peniche de 1935.
Até esta data, a lista de nomes de presos políticos naturais ou residentes em Peniche é a seguinte:
Alberto de Jesus Salsinha, Álvaro dos Santos Martins, Ana da Piedade Gervásio, Antero Pereira Teixeira, António Evaristo de Miranda, António Germano, António de Jesus Ferreira, António Marreiros Veiga, António Pereira Freire “Chalica”, Augusto de Abreu ou Augusto Silveira de Abreu “O Cabo de Mar”, Carlos Leiria Júnior, Estefânio de Sousa, Ferrer Pereira de Sousa, Fernando Mariano Silva Costa, Francisco Horta Catarino, Gentil Vicente ou Gentil Vicente Henriques, Guilherme Águeda da Copa, Isidro Coutinho “O Chucha”, Joaquim José Valente, Jacob Pereira, João Francisco da Graça, João Nunes dos Santos, João Paulino de Sousa, João Pedrosa das Neves “Carola”, José Ascensão Leitão Júnior, José Augusto César, José do Carmo Figueiredo, José da Costa “Zé Padeiro”, José Henriques Sales, José Maria Mota, Júlio Lourdes Bicho, Leonel Santos Madeira, Manuel Saraiva da Costa Júnior, Manuel de Sousa Pedrosa, Maria Júlia dos Santos, Mariano Fernando Rasteiro Calado Mateus, Miguel Lino Franco, Octávio Sérgio Boaventura, Olinda Lopes Rodrigues Fernandes, Palmira de Sousa, Paulino Patrício, Saúl Gonçalves (Tio), Saúl Gonçalves (sobrinho), Silvino dos Santos, Virgínia de Faria Moura e Zulmira Manjolinha Gonçalves.
É de destacar três nomes: Saúl Gonçalves (Tio), esteve 9 anos preso, 6 dos quais no Tarrafal; João Paulino de Sousa, esteve 6 anos preso, 5 dos quais no Tarrafal; José da Costa “Zé Padeiro”, esteve 3 anos preso.
A Oposição Democrática em Peniche
Em Peniche, decorreu, também, uma intensa atividade da Oposição Democrática: nas eleições de Norton de Matos e de Humberto Delgado para a Presidência da República, nas eleições de 1969 e de 1973 para a Assembleia Nacional, e uma participação ativa no 3º Congresso da Oposição Democrática, que se realizou em 1973, em Aveiro.
As atividades culturais desenvolvidas pela Associação da Juventude de Peniche, pelo CICARP (Círculo de Iniciação Cinematográfica, da Associação Recreativa de Peniche) e pela Cooperativa Húmos, contribuíram para a elevação do nível cultural dos seus participantes e para a sua consciência social e política.
O suplemento do jornal “A Voz do Mar”, que tinha como título “Novos Horizontes” e como subtítulo “Por Uma Nova Peniche”, teve um papel importante numa nova abordagem da realidade de Peniche e o apontar de novos caminhos para o seu desenvolvimento. Este suplemento foi proibido, assim como as atividades desenvolvidas pelo CICARP e pela Húmos.
No início de 1973, associando o trabalho político legal e ilegal desenvolvido pela Oposição Democrática, foi criada uma ampla comissão de democratas de Peniche, que tinha como objetivo promover a inscrição nos cadernos eleitorais de cidadãos de Peniche e iniciar a preparação das eleições para a Assembleia Nacional, que se iriam realizar em outubro de 1973. A “Comissão de Informação e Promoção do Recenseamento Eleitoral” era composta pelos seguintes nomes:
Adelino José Barradas Leitão, Afonso Pereira Santos, Alfredo Manuel Jesus Simões, Aníbal Boto de Jesus, Ana Maria Rebelo Pena, António Joaquim Carriço Barros, António Machado, António Mateus, Avelino Jorge Pereira Correia, Belmiro dos Santos Alves, Carlos Alberto dos Santos Alves, Carlos Casimiro Marques Vital, Carlos Francisco Alves Costa, Carlos Jorge Gonçalves do Amaral Domingos, Carlos José Hugo dos Santos, Carlos Norberto Freitas Mota, Desejável António Pereira Barradas, Dionísio Machado Amador, Duarte Nuno Simões Vicente, Emídio Luís Dias Rico, Fernando Gonçalves das Neves, Filipe Jorge Monteiro Costa, Francisco António Miranda Ferreira, Francisco Maria Dias, Hernâni Manuel dos Santos Leitão, Horácio do Carmo Bombas, Ilídio Joaquim Canhoto Coiteiro, Jaques Correia Carvalho, João Arnaldo dos Santos Dias, João Manuel Cordeiro Brazão, João Matos Bilhau, João Viola, Joaquim Antunes Gomes, Joaquim Costa Henriques, Jorge Alberto Boto Machado, Jorge Manuel Marques Neves, Jorge Santos Carvalho, José André, José Brigue Henriques Dias, José da Costa, José Maria Leitão Silva, José Rosa Albino Vasco, Julieta Conceição Nascimento Henriques, Justiniano Paulo Viralhadas, Lino Sebastião de Oliveira, Luís Filipe Frazão Gomes, Luís Leonardo Santos, Manuel Rodrigo da Silva Santos, Manuel Rodrigues Martins, Maria Adelaide Mesquita Vital, Maria Madalena Nogueira Amador, Maria Manuela Cervantes Fernandes, Maria Odete P.T.B. Machado, Maria Rodrigues dos Santos, Nuno Paulo Cruz Santos, Rui Lino da Carvalho, Silvino Manuel da Silva Viola, Soledade Maria Batalha C. Grilo e Vitor Manuel Curado.
A Comissão Concelhia de Peniche da CDE-Comissão Democrática Eleitoral, para as eleições de 1973, a composição era a seguinte:
Adelino José Barradas Leitão, Afonso Pereira Santos, Aires M. Vieira Franco, Álvaro dos Santos Martins, Amadeu M. Rodrigues Pinho, André Mota, António José Barradas Leitão, António José Dias Cação, António José Miranda Ferreira, António M. Rodrigues Mendes, António Machado, António Mateus, António Pires de Carvalho, Belmiro dos Santos Alves, Carlos A. Rijo Cordeiro, Carlos Casimiro Marques Vital, Carlos Norberto Freitas Mota, Carlos F. Batista Antunes, Carlos Vieira, Desejável António Pereira Barradas, Dionísio Machado Amador, Duarte Nuno Simões Vicente, Elísio dos Santos Caneira, Floriano Sabino, Francisco António Miranda Ferreira, Francisco Castro Malheiros, Francisco Franco Duarte, Francisco Germano Vieira, Francisco Petinga, Horácio do Carmo Bombas, Jaques Correia de Carvalho, João Américo Sales Pereira, João Carlos Grilo, João Firmino Rosendo, João Manuel Matos Bilhau, Jorge Manuel Marques Neves, José António Leitão da Silva, José António Varela, José Avelino A. Patriarca, José de Castro Malheiros, José Jaime S. Varela, José Maria R. Franco, José Rosa Albino Vasco, Júlio Leiria, Lino Sebastião de Oliveira, Luís Leonardo Santos, Maria Adelaide Mesquita Vital, Maria de Fátima M. Carvalho, Mariano Calado Marques, Mário Manuel C. Silva, Norberto Mota, Raul Fernando C. Santos, Silvino Manuel da Silva Viola, Silvino das Santos, Vicente da Conceição Pedro.
A Solidariedade da População de Peniche
Ao longo do tempo de funcionamento da prisão política, na Fortaleza de Peniche, entre 1934 e 1974, foram muito importantes o apoio e a solidariedade da população de Peniche para com os presos políticos e as suas famílias. São inúmeros os exemplos da solidariedade e do apoio do povo de Peniche para com os presos políticos e suas famílias, de compreensão e das razões que os levaram a essas prisões. Havia o sentimento de que na Fortaleza estavam presos homens bons e lutadores pela liberdade e pela democracia. Pode perceber-se esse apoio, essa solidariedade e essa compreensão através de inúmeros exemplos: apoio no alojamento, no apoio dos comerciantes e dos restaurantes e nos convívios realizados, entre outros apoios. A solidariedade e o apoio, por parte de cidadãos de Peniche, também se manifestou no apoio às fugas que se verificaram na Fortaleza de Peniche, em 1938, 1954 e 1960.
A PIDE/DGS vigiava e controlava tudo o que se passava à volta da Fortaleza. Registava os nomes dos familiares ou de outras pessoas que visitavam os presos políticos e as matrículas dos carros em que se deslocavam. Controlava igualmente os locais onde os familiares comiam e dormiam e as pessoas de Peniche com quem conversavam, chegando a realizar buscas a essas casas e a submeter os seus proprietários a interrogatórios. Cidadãos de Peniche considerados desafetos ao regime e com ideias “subversivas” eram sujeitos a rigorosa vigilância e mesmo presos.
Foram muito importantes o apoio e a solidariedade da população de Peniche. Mesmo sabendo que iria ser vigiada e perseguida, a população manteve esse apoio até ao 25 de Abril de 1974. Destacamos alguns nomes de pessoas, que em Peniche, prestaram esse valoroso apoio: António Brás, Carlos Leiria, Carlos Mota, Celeste Rocha, Custódio Bombas, Dona Anunciada, Horácio Bombas, Jacinta Gonçalves, José da Costa “Zé Padeiro”, José Rufino, Maria Conceição Ribeiro, Maria Luísa Sequeira, Maria Rodrigues Mota (Bia), Rui Passos, Salvador das Neves, Sofia Manjolinho, entre outras.
Este apoio e solidariedade da população de Peniche, também foi um contributo importante para a luta pela Liberdade e pela Democracia. Os ex-presos políticos da Fortaleza de Peniche e os seus familiares, consideram que foi muito importante este apoio e a solidariedade recebida, por parte da população de Peniche, e manifestam o seu agradecimento.
Estes são apenas alguns exemplos da participação de naturais ou residentes em Peniche nas grandes batalhas pela liberdade, pela democracia e contra a guerra colonial. Outros haverá certamente.
Hoje, num tempo em que alguns tentam reescrever a história, fazendo o branqueamento do fascismo e da luta da resistência, assinalar os que lutaram, é uma importante oportunidade para lembrar o que foi o fascismo e o que foi a luta travada pela Liberdade, pela Democracia, contra a guerra colonial, por melhores condições de vida, por uma sociedade mais justa, mais igualitária, mais solidária e mais fraterna, para que, em particular, as novas gerações estejam atentas e possam gritar bem alto, Fascismo nunca mais!
[imagem: Museu Nacional Resistência e Liberdade – Fortaleza de Peniche, Col. Postais Adriano Constantino]