História
A URAP esteve presente no encontro internacional de juventude, no campo de concentração de Buchenwald, por ocasião do 63º aniversário da sua auto-libertação. Para mais textos consulte-se História.
Contexto histórico: A Grande Guerra (1914-1918), a Revolução Socialista de Outubro de 1917, a ascensão do nazi-fascismo e a sua derrota no epílogo da II Guerra Mundial (1939-1945)
A Grande Guerra de 1914-1918 inaugurou decisivamente uma nova era mundial. A I Guerra Mundial envolveu todas as grandes potências, e na verdade todos os Estados europeus, com excepção da Espanha, dos Países Baixos, dos três países da Escandinávia e da Suíça.
As tropas do mundo além-mar foram, muitas vezes pela primeira vez, enviadas para lutar e operar fora das suas próprias regiões. Os Canadianos lutaram em França, os australianos e os neozelandeses forjaram a sua consciência nacional numa península do Egeu - Galipoli tornou-se o seu mito nacional - e, mais significativo, os Estados Unidos mandaram os seus soldados para a Europa, determinando assim a forma da história do século XX. Os Indianos foram enviados para a Europa e Médio Oriente, batalhões de trabalhadores chineses vieram para o Ocidente, os africanos lutaram no exército francês. Embora a acção militar fora da Europa não fosse muito significativa a não ser no Médio Oriente, a guerra naval foi mais uma vez global: a primeira batalha travou-se em 1914, ao largo das ilhas Falkland, e as campanhas decisivas, entre submarinos alemães e comboios aliados, deram-se sobre os mares do Atlântico Norte e Médio.
2.
Num momento de crise mundial a nível económico e com amplas repercussões nas sociedades europeias e nos EUA, tal como da decisão acerca da resposta a dar à crise do sistema liberal nas sociedades de então, quer fosse na superação pela construção de um regime ditatorial em reacção autoritária e nacionalista a essa crise, quer fosse pela vitória da revolução social que permitisse cumprir o desígnio da emancipação das classes trabalhadoras. Nos casos em que o sistema se conseguiu regenerar, como no centro do sistema económico capitalista europeu, houve a necessidade de cumprir a abertura dos respectivos sistemas políticos, nomeadamente com o acesso de maior número de cidadãos à política e ao sufrágio, caminhando no sentido do seu alargamento ou universalidade.
3.
Na Europa o período de entre as duas Guerras Mundiais promoveu um redesenhar do mapa da tipologia dos regimes políticos vigentes, com o primeiro papel a caber à vitória socialista dos bolcheviques na Rússia em 1917 e com repercussões em tentativas inspiradas no modelo revolucionário soviético que saíram derrotadas (revolta espartaquista de 1919 e de Hamburgo e Munique em 1923 na Alemanha; greve geral em Itália em 1919; triénio vermelho em Espanha entre 1917-1920). Em reacção ao perigo vermelho proclamado pelas classes dominantes e pelos grandes interesses capitalistas e financeiros europeus, assiste-se ao surto autoritário tendente à fascização logo em 1917, em Portugal, com Sidónio Pais; à ditadura do rei da Bulgária e à regência de Miklos Horthy na Hungria (1919); à chegada ao poder do general Josef Pilsudski em 1920 na Polónia; à marcha fascista sobre Roma, prenúncio da chamada ao poder de Benito Mussolini pelo rei, em 1922; à ditadura do general Primo de Rivera em Espanha (1923); à ditadura do general Theodoros Panglos na Grécia (1925); ao golpe militar de 28 de Maio de 1926 em Portugal, abrindo caminho ao fascismo em Portugal; à ditadura do rei da Jugoslávia (1928); à ditadura do rei da Roménia (1930). Este percurso pela Europa política desse período revela destinos que não foram semelhantes em todos os casos, existindo casos onde os movimentos operários organizados e as forças progressistas conseguiram barrar a ascensão do nazi-fascismo na Europa, como o sidonismo português que caiu em 1918, tal como Primo de Rivera em 1931, por exemplo.
4.
Mas com o fim das esperanças na ultrapassagem da crise económica mundial posterior à I Guerra Mundial e a Grande Depressão posterior a 1929 afirmaram-se definitivamente as soluções de força para os Estados. As classes médias, num contexto de empobrecimento social alargado e perante a crescente radicalização das posições do proletariado organizado por toda a Europa e as consequências desastrosas do avolumar da concentração plutocrata do capital nas camadas sociais dominantes, absorvem os ideais do radicalismo nacionalista agressivo e que se associa à desforra perante as humilhações nacionais infligidas através do diktat de Versalhes aos Estados derrotados da Grande Guerra.
5.
Recusando o socialismo e o bolchevismo, as doutrinas fascistas ou fascizantes constituíram uma expressão política de imposição aos povos de uma via que garantisse ao sistema económico capitalista um modelo político que beneficiasse uma minoria restrita de detentores do grande capital na Europa. Assim, o corporativismo foi apresentado como um suposto sistema económico de superação dos interesses particulares e de grupo e de favorecimento do poder irrestrito do Estado e do chefe carismático, únicos intérpretes fidedignos do interesse nacional. Mas, na realidade, o fascismo foi sustentado nas suas diversas confirmações históricas por um punhado de capitalistas que com esse poder terrorista e totalitário procuraram maximizar as suas mais valias económicas à custa da degradação das condições de vida dos trabalhadores e dos povos. À excepção da França, da Grã-Bretanha e dos países do Norte europeu, onde os mecanismos e a tradição democrática se haviam já consolidado de forma a barrarem o caminho ascensional aos regimes autoritários, esta seria a época dos regimes de tipo novo - fascista -, que encerrariam de vez um século de liberalismo e vários anos de ameaça bolchevista. O nazi-fascismo com as suas alianças e as suas acções de agressão externa haveria de congregar apoios militares e materiais aos insurgentes espanhóis no golpe militar que desencadeou a Guerra Civil de Espanha (1936-1939) e o cerco e derrube do governo legítimo e democrático da República Espanhola, prenúncio da II Guerra Mundial (1939-1945).
6.
Na conflagração mundial (1939-1945) morreram mais de 70 milhões de seres humanos, incluindo militares e civis. Entre militares e civis soviéticos os números ascenderam aos 27 milhões de cidadãos, justamente a população mais fustigada com o ataque criminoso do Exército nazi. No entanto, nos campos de batalha, nos países ocupados pelos Estados nazi-fascistas (Alemanha, Itália e Japão), nas resistências alemã, italiana e japonesa a esses regimes, nas prisões e campos de concentração e extermínio desses Estados existiram sempre homens e mulheres que, mesmo nas horas mais difíceis e quando parecia impossível essa resistência, recusaram a barbárie e lutaram pela libertação dos povos do nazi-fascismo.
David Pereira