A URAP lembra, dia 8 de Setembro, os 84 anos da “Revolta dos Marinheiros”, data maior de um dos primeiros actos de resistência ao salazarismo, que levou a uma violenta repressão por parte das forças de segurança, com a prisão dos marinheiros revoltosos e o envio de muitos deles para o Campo de Concentração do Tarrafal.
Na noite de 8 de Setembro de 1936, culminando um intenso trabalho de agitação e manifestações contra a repressão fascista, um grande número de marinheiros, membros da Organização Revolucionária da Armada (ORA), iniciou uma acção que visava apossar-se dos navios “Dão”, “Afonso de Albuquerque” e “Bartolomeu Dias”.
O objectivo era fazer um ultimato ao governo de Salazar, tendo ao seu dispor o potencial de fogo próprio dos navios, que entretanto deveriam ser postos a salvo fora da barra, e obrigar a que fossem libertados e reintegrados 17 marinheiros, punidos após uma expedição do Afonso de Albuquerque a Espanha, em Agosto, pouco depois de ali ter eclodido a guerra civil.
Meses antes, tinham sido presos 30 marinheiros, entres os quais todos os dirigentes da ORA. Admitindo que o ultimato ao regime fascista falhasse, os revoltosos previam dirigir os navios para Angra do Heroísmo, onde aqueles seus camaradas estavam detidos, para os libertarem.
A revolta, ao fim de algumas horas, foi sufocada. O governo fascista, tendo conhecido antecipadamente o que estava em preparação, teve tempo para tomar as medidas de resposta.
Os bombardeamentos por parte das forças salazaristas contra os navios sublevados e a perseguição dos revoltosos fizeram 12 mortos; 208 marinheiros foram presos e demitidos, dos quais 82 condenados, sendo 44 enviados para a fortaleza-prisão de Angra do Heroísmo, quatro para o forte de Peniche e 34 fizeram parte do primeiro contingente de 150 primeiros presos políticos enviados para o Tarrafal.
A maioria destes, com penas que iam de 16 a 20 anos, saiu apenas quando o Tarrafal foi encerrado, em 1954. Cinco marinheiros acabaram por morrer no campo. Entre os sobreviventes alguns pertenceram à URAP.
No contexto internacional, Hitler tomou o poder em Janeiro de 1933 e preparava a guerra; a Itália fascista desencadeou a guerra na Abissínia. Em Portugal, o golpe militar de 1926, começava a repressão do movimento operário, e em 1933 institucionalizava o regime fascista, ilegalizando de imediato os sindicatos, o que levou à insurreição de 18 de Janeiro de 1934 na Marinha Grande.
Por outro lado, a criação de Frentes Populares em França e Espanha deram esperança e contribuíram para que estes marinheiros fizessem frente ao fascismo.
Mas com a Guerra Civil de Espanha, desencadeada nesse ano, que contou com o apoio do regime de Salazar que prestava um auxílio importante aos franquistas em armamento e outros abastecimentos, a situação foi alterada. Esse apoio foi mesmo decisivo para as vitórias de Franco nas batalhas da Extremadura que uniram os exércitos do norte e do sul. O porto de Lisboa era usado para desembarque de armamento de várias proveniências, nomeadamente da Alemanha, seguindo depois em colunas terrestres para as frentes de Extremadura, Andaluzia ou Castela.