A União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) tem nova direcção para o biénio 2021/2023 e aprovou o Plano de Actividades para 2021, em Assembleia Geral realizada, dia 10 de Abril, na Casa do Alentejo, em Lisboa.
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Coordenadora durante mais de uma década, Marília Villaverde Cabral deixou o cargo, embora vá integrar agora a Assembleia Geral. José Pedro Soares e César Roussado referiram-se ao seu trabalho e dedicação, motivando uma grande salva de palmas dos participantes.
José Pedro Soares sublinhou que Marília Villaverde Cabral “deixa de ser coordenadora, mas não deixa o trabalho da URAP” e lembra que nestes 45 anos de vida da organização esta “teve altos e baixos”. “Ser antifascista hoje é não deixar apagar a memória e lutar no presente. Ir à luta todos os dias, pois queremos a liberdade em todo o seu conteúdo”, afirmou.
O novo coordenador da URAP será eleito na primeira reunião do recém-eleito Conselho Directivo.
A AG contou com a presença de cerca de uma centena de pessoas que apreciaram e votaram o Relatório de Actividades de 2020 e o Relatório das Contas de 2020 e respectivo parecer do Conselho Fiscal.
Antes de apresentar o relatório de 2020 e o plano de actividades para 2021, Marília Villaverde Cabral interveio, destacando os tempos difíceis em que vivemos devido à pandemia e a adaptação a uma nova forma de “prosseguir a luta contra o branqueamento do fascismo, evocando antifascistas para que não esqueçamos os seus sacrifícios, dando a conhecer a muitos o que foi a resistência e denunciando as ideias racistas, xenófobas e fascistas que têm surgido”.
A coordenadora da URAP elencou algumas actividades em 2020 como a luta contra a criação do “Museu Salazar” e a homenagem aos Tarrafalistas, lembrando que “para a URAP esta iniciativa não é só a comemoração de uma efeméride. Para a URAP é um dever. Temos sempre presente as palavras de Francisco Miguel: Amigos, Democratas, Amantes da Liberdade, não nos esqueçam”.
Depois de realçar a importância dos protocolos e parcerias que a URAP estabeleceu com organizações e organismos oficiais, dos quais evidenciou o Protocolo com a Direcção-Geral do Património sobre o Museu Nacional Liberdade e Resistência e outros com várias câmaras e juntas de freguesia, referiu a inauguração de uma peça escultórica, evocativa da libertação dos presos políticos, da prisão de Caxias, fruto do trabalho conjunto com a Câmara do Oeiras.
As sessões em escolas destinadas a alunos e professores, presenciais ou on line, e as visitas guiadas aos Museus do Aljube, de Peniche e ao Projecto museológico “Do Heroísmo à Firmeza” no Porto, foram igualmente aludidas.
Marília Villaverde Cabral falou da actividade diversificada dos núcleos, “organizando sessões, ciclos de cinema seguidos de debates, homenageando militantes antifascistas (…)”, e do trabalho organizativo com “a actualização do ficheiro, o melhoramento de todo o trabalho das contas e a recolha de quotas” e saudou os 80 novos associados que aderiram à URAP.
Referindo-se ao Plano de Actividade para 2021, que designou de “bastante ambicioso”, a coordenadora da URAP referiu a realização de “visitas guiadas ao Porto, a Badajoz e zonas fronteiriças” e o “projectado convite ao secretário-geral da FIR – Federação Internacional de Resistentes para vir a Portugal para uma sessão sobre a situação internacional e o fascismo na Europa”.
A actividade editorial, como o Boletim e os novos livros em finalização ou já no prelo - sobre mulheres presas, a prisão de Caxias, e as Fortalezas de Angra do Heroísmo – serão, tal como os anteriores, “uma grande ajuda para o contacto com as populações”, disse a coordenadora, acrescentando que “com a sua apresentação, temos percorrido o país e assim fortalecendo e prestigiando a URAP”.
Apelou à participação nas comemorações do 25 de Abril, a cuja Comissão Organizadora a URAP pertence, e do 1º de Maio, anunciando que haverá, como habitualmente, “um pequeno pavilhão na Alameda D. Afonso Henriques”. E ainda do aniversário da URAP que constará da “realização de convívios em várias terras do país”.
No campo das homenagens a realizar, evocou “a Seara Nova nos 100 anos de publicação” e o 100º aniversário do Partido Comunista Português, “pelo seu papel único na Resistência contra a ditadura fascista”.
Por fim, Marília Villaverde Cabral destacou a continuação do trabalho de investigação e recolha de elementos que a URAP efectua na Torre do Tombo “que tem sido muito importante para a realização de diversas actividades, como a preparação dos livros e outros materiais, e para figurar no arquivo da organização, a fim de podermos responder a pedidos que, em número cada vez maior, jovens estudantes nos fazem para as suas teses de mestrado ou de doutoramento”.
Os núcleos e órgãos directivos
A secretária da Mesa da Assembleia-Geral Celestina Leão presidiu à sessão, devido à ausência por motivo de doença do presidente, Levy Baptista, acompanhada por Eulália Miranda e Mário Araújo. Encontravam-se presentes representantes dos núcleos de Alenquer, Almada, Amadora, Aveiro, Barreiro, Évora, Lisboa, Queluz, Mem Martins, Moita, Montemor-o-Novo, Peniche, Porto, Queluz, Rio de Mouro, Seixal, Setúbal, Silves, Vila Franca de Xira e Viseu, muitos dos quais usaram da palavra.
Do Conselho Directivo interveio Ana Pato que deu conta de toda a actividade informativa, destacando o boletim, a página e as redes sociais usadas pela URAP.
Por seu lado, José Pedro Soares informou o andamento da construção do memorial que se perspectiva para Caxias de homenagem aos presos políticos; o levantamento do nome dos presos na Torre do Tombo; de um percurso de memória, a 27 de Abril, entre Caxias e Peniche; do 25 de Abril em Lisboa; da preparação dos oradores que fazem sessões nas escolas e da iniciativa de homenagem ao PCP por ocasião do 100º aniversário deste partido, património da luta antifascista.
Francisco Canelas centrou a intervenção nas questões internacionais e nas relações com a FIR, que a URAP integra, relatando o último congresso, em Itália, onde participou, no qual se abordou o ressurgimento de forças fascizantes na Europa; na homenagem em Dreznica; no plano de retoma de contactos com organizações em Espanha, referindo a edição em castelhano do livro sobre Peniche; na deslocação de uma delegação ao Parlamento Europeu para falar de antifascismo, lembrando que o antifascismo é internacionalista.
Ainda da direcção, César Roussado referiu as questões de organização. Valorizou o trabalho dos núcleos; a campanha de angariação de mais 150 sócios, em andamento, 14 dos quais na presente AG; a situação financeira equilibrada com a recolha de quotas - mais do dobro do que em 2019, que mereceu um elogio do Conselho Fiscal - e diversos contributos, apesar da pandemia.
Do Conselho Nacional falou Adelino Pereira da Silva, lembrando que sem memória não há futuro. Sublinhou os esforços para termos hoje o Museu de Peniche, e a importância dos museus sobre a temática do fascismo que ajudam a desmontar a hipocrisia e as mentiras dos populistas, racistas e xenófobos e são simultaneamente a garantia de uma correcta informação e uma forma de formação para a democracia. Realçou ainda a importância das sessões nas escolas destinadas aos jovens.
Vítor Dias informou sobre preparação do livro “Elas Estiveram nas Prisões do Fascismo”, dedicado às mulheres antifascistas, realçando que com a publicação deste livro, a URAP cumpre um compromisso e resgata o relativo esquecimento a que estas combatentes foram delegadas na história do antifascismo, muitas das quais ainda vivas.
Álvaro Contreiras, presidente do Conselho Fiscal, apresentou o Relatório das Contas e o Parecer do Conselho Fiscal, informando que a URAP teve 40 000 Euros de receitas e 39 000 Euros de despesas, sendo as receitas provenientes sobretudo de quotas e donativos. Destacou que as quotas pagas são 150 por cento superior às do ano anterior. A outra fonte de receitas são donativos, chegando ao fim do ano com uma saúde financeira como URAP nunca teve.
O terceiro ponto da Ordem de Trabalhos visou a eleição dos novos órgãos e foi apresentada por César Roussado. Apreciou o trabalho quotidiano de todos, para quem pediu um aplauso, e apresentou as alterações em relação à lista cessante. Na lista há elementos que integram pela primeira vez a direcção, outros que passam da direcção para a Assembleia Geral, como a actual coordenadora, Marília Villaverde Cabral, e outros ainda que vão para o Conselho Nacional, como – Diamantino Torres, Feliciano David, José Manuel Vargas e Maria José Ribeiro – órgão esse que sofre um aumento exponencial, de 28 para 60 membros, devido ao alargamento do número de núcleos, do Algarve a Braga.
Todos os documentos foram aprovado por unanimidade e aclamação.
Na Assembleia Geral da URAP houve ainda a aprovação de uma Moção, lida por Palmira Areal, na qual foi votada o envio de duas saudações às comemorações do 25 de Abril e do 1º de Maio, “datas que todos os democratas se honram em participar”.


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