Na madrugada do dia 27 de Abril de 1974 os presos políticos foram libertados das fortalezas de Caxias e Peniche. Para celebrar a vida e a luta pela liberdade e pela democracia desses homens e mulheres, a URAP organizou, 47 anos depois, uma excursão a essas duas cadeias do fascismo.
Em Caxias, junto à peça escultórica em homenagem aos presos políticos, a cerimónia contou com a presença do vice-presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Francisco Rocha Gonçalves, e ouviu-se música de Rúben Martins e poesia lida por Fernando Marques.
Em nome da URAP falou Sérgio Ribeiro, ex-preso político libertado nesse dia. Depois de lembrar o assassinato pela PIDE de José Dias Coelho, a 19 de Dezembro de 1961, com quem se ia encontrar, recordou a sua primeira prisão, dois anos depois, na qual passou “pela terrível experiência da tortura da privação do sono, em que o torturado é, também, o torturador de si próprio, e sofre o que se lhe agarra à pele pelo lado de dentro. Para sempre!”
Viria a ser preso e enviado para uma cela no reduto-norte de Caxias, que dez anos antes tinha inaugurado, “a 18 de Abril de 1974, com 38 anos, onde me preparei para experiências conhecidas e sofridas, com uma apresentação-relâmpago ao que seria o mandante da banda, o chefe de brigada Tinoco, de triste e afamado currículo”.
Sérgio Ribeiro relata o dia 25 de Abril de 1974, o “todos ou nenhum”, em resposta ao general Spínola que impunha uma selecção dos presos, “e a porta aberta pelo lado de fora. Por quem, libertando-nos, se libertava. Os capitães de Abril. E os familiares. E os camaradas. E os amigos. Os militares povo”.
Os dois autocarros, com lotação sujeita às regras de segurança impostas pela pandemia, seguiram para Peniche, onde ao início da tarde foi evocada a libertação dos presos do forte, antiga cadeia de alta segurança por onde passaram 2 510 antifascistas entre 1934 e 1974, hoje Museu Nacional Resistência e Liberdade.
Depois de aberta a cerimónia pelo dirigente da URAP José Pedro Soares, ex-preso político naquela cadeia, Adelino Pereira da Silva, também elemento prisioneiro em Peniche, interveio dizendo que naquele dia “celebramos o acontecimento, recordando o corajoso Movimento dos capitães e militares de Abril, a que se juntou de imediato o maciço apoio popular na consolidação do triunfo da Liberdade. Era o fim do Portugal amordaçado, de tanta perseguição, de tanta repressão e torturas, de tantas perdas de vidas humanas”.
Lembrou que após a rendição “das forças da GNR e da PIDE-DGS, cercadas pelos militares de Abril, teve papel relevante neste processo de libertação dos presos políticos de Peniche o major Moreira de Azevedo e o comandante Machado dos Santos, a quem Vasco Gonçalves confiou a importante missão e a quem saudamos vivamente todos os anos em cada dia 27 de Abril”.
Junto ao Memorial, inaugurado a 27 de Abril de 2019, à entrada da Fortaleza, Adelino Pereira da Silva afirmou que “infelizmente, a maioria esmagadora dos milhares de presos políticos que por aqui passaram (…) ao longo da ditadura fascista, no cumprimento de repugnantes e sacrificadas penas, já não estão entre nós, nem viram o dealbar do dia que todos ansiavam. Recordamo-los com sentida homenagem pela entrega das suas vidas à luta pela dignidade, para que finalmente chegasse a madrugada de “Onde emergimos da noite e do silêncio”, no dizer da poetisa Sophia de Melo Breyner sobre o 25 de Abril”.
O orador recordou “com orgulho as numerosas acções de luta para que a antiga Cadeia do Aljube se transformasse no digno actual Museu do Aljube Resistência e Liberdade, inaugurado em 25 de Abril de 2015”, de cariz municipal embora com projecção nacional.
Em seguida, deixou três notas: a primeira de saudação aos funcionários do Museu Nacional Resistência e Liberdade de Peniche; a segunda de homenagem à colaboração entre este e a URAP, “ao qual queremos manifestar uma vez mais a nossa disponibilidade para colaborar (…), na sequência da relação protocolar anterior com a Câmara Municipal e o Museu de Peniche, que culminou com a escultura de José Aurélio feita em 2017, na simbólica homenagem aos presos políticos"; e a terceira “à construção de outros polos de museologia antifascista que estão a caminho de concretização, no Porto e em Angra do Heroísmo”.

A homenagem terminou com a poesia e as canções de Rúben Martins e Fernando Marques, as visitas à exposição sobre Aristides de Sousa Mendes, guiada pela directora do Museu Aida Rechena, e ao painel de azulejos no exterior feito por alunos, inaugurados a 25 de Abril.


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