O auditório da Torre do Tombo acolheu, dia 15 de Dezembro, uma sessão pública promovida pela URAP para celebrar o centenário da Seara Nova, importante e histórica revista de intervenção democrática, fundada a dia 15 de Outubro de 1921 por Aquilino Ribeiro, Augusto Casimiro, Azeredo Perdigão, Câmara Reys, Faria de Vasconcelos, Ferreira de Macedo, Francisco António Correia, Jaime Cortesão, Raul Brandão e Raul Proença.
A sessão, dirigida por José Pedro Soares, coordenador da URAP, contou com as intervenções dos seareiros Sérgio Ribeiro, economista, ex-preso político e antigo colaborador da revista; Catarina Pires, jornalista e actual redactora; Levi Baptista, advogado, membro da ID, presidente da Assembleia-geral da URAP e ex-director da Seara Nova.
Com a presença de cerca de 50 pessoas, os membros da mesa apresentaram e desenvolveram, em curtas intervenções, diversos aspectos relacionados com a vida, o percurso e a actividade da Seara Nova ao longo destes 100 anos. O actual director, João Madeira Lopes, usou igualmente da palavra, bem como outros assistentes ao debate.
Esta sessão, considerada obrigação e compromisso da URAP para com a memória histórica da resistência e da luta pela liberdade, teve como propósito homenagear a Seara Nova, os colaboradores, directores e seareiros que, no combate pelas ideias e ideais democráticos e antifascistas, enfrentando a censura e o fascismo, editaram durante várias décadas seguidas a revista.
Ao longo dos 100 anos de existência, pelas páginas da Seara Nova passaram muitos colaboradores frequentes, assinando páginas de grande qualidade, nomeadamente Adolfo Casais Monteiro, Agostinho da Silva, Alberto Vilaça, Alexandre Cabral, Alves Redol, Armando Castro, Augusto Abelaira, Bento de Jesus Caraça, Blasco Hugo Fernandes, Fernando Lopes Graça, Fernando Namora, Francine Benoît, Francisco Pereira de Moura, Gago Coutinho, Gilberto Lindim Ramos, Hernâni Cidade, Irene Lisboa, José Garibaldi, José Rodrigues Miguéis, José Saramago, José Gomes Ferreira, Magalhães Godinho, Magalhães Vilhena, Manuel Mendes, Manuel Machado da Luz, Mário de Azevedo Gomes, Mário Sacramento, Mário Sottomayor Cardia, Mário Ventura, Jorge Peixinho, Jorge de Sena, Pedro Ramos de Almeida, Rogério Fernandes, Rui Grácio, Sarmento de Beires, Vitorino Nemésio. Intelectuais de grande valor e carácter, cuja moral está espelhada nesta frase do editorial do primeiro número da revista: “Em democracia quem mente ao povo é réu de alta traição”.Esse mesmo editorial terminava com a aspiração de que ainda hoje a Seara Nova comunga: “Possam os homens de boas intenções de todas as Pátrias erguer um dia, sobre um mundo que ainda hoje se debate em miseráveis disputas nacionalistas, o arco-de-aliança de uma humanidade justa e livre, realizando na paz vitoriosa as conquistas da inteligência e da vontade desinteressada!”.
A Seara Nova foi sempre um espaço de diálogo, de abertura às ideias do progresso, de rigor ético, de investigação e de divulgação cultural, criando esse fenómeno ímpar que se tem designado por “espírito seareiro”.