A Federação Internacional de Resistentes (FIR), de que a URAP é membro, levou a cabo, dias 24 e 25 de Outubro, uma conferência internacional, em Belgrado, dedicada ao tema: “Antifascismo hoje e o perigo das politicas de direita na Europa”.
A delegação portuguesa, constituída por José Pedro Soares, coordenador da URAP, e ainda Teresa Lopes, do Conselho Directivo, e Helena Barbosa, para além de fazer uma análise da situação política, com destaque para a guerra na Ucrânia, apontou as razões para o recrudescimento da direita em Portugal e no mundo e endereçou um convite à FIR para estar presente nas comemorações do 50º aniversário da Revolução dos Cravos.
Após a abertura da conferência, na manhã 24, os delegados intervieram da parte da tarde, e à noite realizou-se um jantar oficial. No dia seguinte, visitaram o cemitério de Belgrado, onde decorreu uma cerimónia comemorativa do aniversário da libertação da cidade e visitaram a cidade.
José Pedro Soares, depois de saudar Vilmos Hanti e Ulrich Schneider, presidente e secretário-geral da FIR, respectivamente, e todos os participantes na conferência, lembrou “o levantamento popular de há 80 anos dos povos da Jugoslávia contra o nazi-fascismo” e a sua derrota nos Balcãs.
Depois de sublinhar que “na primeira metade do século passado, os regimes de numerosos países europeus, na América Latina e em outras partes do mundo recorreram à mais dura violência, à tortura, à guerra e à morte de milhões de seres humanos com a instauração de regimes fascistas”, lembrou que “após a II Guerra Mundial e a derrota nazi, diversos governos reconheceram o regime fascista de Franco em Espanha”.
“Ao mesmo tempo recusaram ajuda e assistência a resistentes e a antifascistas espanhóis, muitos dos quais tinham ajudado a libertar Paris frente ao exército de Hitler integrando as Brigadas Internacionais”, acrescentou.
O coordenador da URAP referiu que Portugal foi então “chamado para o pequeno núcleo de países fundadores da NATO” e que mesmo após a II Guerra Mundial e a derrota do nazi-fascismo “o fascismo continuou em Portugal, Espanha e Grécia, sem esquecer a martirizada América Latina, onde é conhecido o papel da CIA e dos Estados Unidos da América em tantos golpes militares fascistas”.
“Com a derrota da experiência socialista a leste e o desenvolvimento da globalização capitalista, o poder financeiro e económico do grande capital acentuou o domínio e o controle de poderosos meios de comunicação e alargou a sua influência ideológica”, afirmou, acrescentando que “o fascismo é um fenómeno inerente à própria natureza do capitalismo e assim vai assumindo novas expressões com o próprio desenvolvimento deste sistema e o desenrolar das suas crises”.
Para José Pedro Soares, “os grandes interesses económicos procuram controlar governos, instituições, meios de comunicação social, num domínio que querem absoluto, deixando claro a manipulação e a sua natureza agressiva e exploradora”, situação que se “agravou com a guerra na Ucrânia (conflito que se desenvolve desde pelo menos 2014), onde a pressão e a influência da comunicação social se tornou dominante e raramente deixa que se oiçam opiniões diferentes.”
O orador garantiu que os “democratas e antifascistas (portugueses) são contra a guerra e pela paz, pela negociação e resolução pacífica dos conflitos, tal como preconiza a Constituição da República Portuguesa” e “não podem ignorar que os Estados Unidos da América, a NATO e a União Europeia têm imensas responsabilidades neste conflito”.
José Pedro Soares condenou as sanções, o fornecimento de armas e o apoio à continuação da guerra em detrimento de medidas para a paz, para dizer que “para muitos de nós, os povos da Rússia e da Ucrânia estão sim a ser vítimas desta estratégia agressiva, ideológica e de domínio mundial”.
As consequências indirectas da guerra, como o aumento dos lucros das multinacionais e o volume das encomendas às fábricas de armas, o aumento da inflação e dos preços dos bens de primeira necessidade foram apontados, para sublinhar que “só a luta, o esclarecimento e a intervenção democrática permanente poderá travar e derrotar esta ofensiva imperialista pelo domínio do mundo”.
Após a análise da situação internacional, o conferencista falou da situação de Portugal, onde “o fascismo e o colonialismo foram derrotados com a Revolução do 25 de Abril de 1974”, e no surgimento de “grupos de direita, uns camuflados pelo que chamam de liberalismo, outros, mais arrogantes, anti-emigrantes, racistas e mesmo neofascistas, que se aproveitam de dificuldades, de erros e da política muitas vezes enganosa e de direita da governação praticada ao longo de anos para terem maior protagonismo e assim conseguirem, sobretudo como aconteceu nos últimos processos eleitorais, alcançar representação parlamentar e autárquica”.
Abordou igualmente o trabalho da URAP-União de Resistentes Antifascistas Portugueses em prol do “esclarecimento o povo, sobretudo dos mais jovens, denunciando os projectos reaccionários e as políticas de direita”; editando livros e documentos sobre o fascismo e os presos políticos, dados que obtém junto dos Arquivos Históricos Nacionais; ajudando a criar novos espaços de memória, nomeadamente museus da resistência, nas antigas cadeias do fascismo nas cidades de Lisboa, Porto e Peniche.
Para finalizar, o coordenador da URAP falou das comemorações, em 2024, do 50º aniversário da Revolução do 25 de Abril de 1974, e convidou a FIR a vir a Portugal para festejar esta data memorável. Prevê desde já diversos actos, como: desfiles nas ruas de Lisboa e Porto; uma sessão com representantes de diversos países membros da FIR; inauguração do Museu Nacional Resistência e Liberdade, na Fortaleza de Peniche.
No segundo dia de trabalhos da conferência internacional da FIR, dia 25 de Outubro, realizou-se a cerimónia comemorativa do aniversário da libertação da cidade de Belgrado, no Cemitério dos Libertadores de Belgrado 1944.
A Libertação de Belgrado permanece como um dos mais heróicos episódios da História de resistência e luta contra a ocupação nazi. Entre os dias 11 e 22 de Outubro de 1944, e após quatro anos de resistência à invasão das forças fascistas da Alemanha e da Itália, uma concentração de forças sem precedentes do Exército de Libertação Popular da Jugoslávia e do Exército Vermelho, com o importante apoio popular no auxílio aos combates, derrotou o invasor e libertou a cidade, pondo termo a 1287 dias de ocupação. Este episódio, para além de ter restabelecido o ânimo e a confiança das forças antifascistas e dos povos pela Libertação final, criou um amplo território livre que se constituiu como retaguarda estável, fundamental para as operações militares subsequentes levadas a cabo pelas forças soviéticas no cerco à Alemanha.
Nos combates de Outubro de 1944 foram mortos 2953 soldados do Exército de Libertação da Jugoslávia e cerca de 1000 soldados soviéticos, enterrados em locais dispersos da cidade. Dez anos depois, em 1954, é inaugurado o Cemitério dos Libertadores de Belgrado, onde são depositados os restos mortais dos soldados caídos em combate, perante uma assistência de mais de 10 mil pessoas, sendo este um dos mais importantes monumentos de memória da resistência ao fascismo no país. As portas da entrada no cemitério exibem um grande mural que retrata o momento da chegada das tropas soviéticas à cidade para ajudar os combatentes do Exército de Libertação.
A cerimónia culminou com a deposição de flores no monumento situado no interior do cemitério, designado “Chama Eterna”, que representa o desejo e o compromisso dos povos em continuar a luta antifascista. Em seguida as delegações estrangeiras visitaram a cidade de Belgrado.