Joaquim Judas, do Conselho Nacional da URAP, lembrou dia 15 de Fevereiro junto ao Mausoléu dos Tarrafalistas no Cemitério do Alto de S. João, em Lisboa, o apelo que o revolucionário Francisco Miguel, último preso político português a sair do Tarrafal, lançou na intervenção que proferiu, em 1978, durante a inauguração do Memorial:
“Antifascista, democrata, homem progressista: quando pensares nos direitos da pessoa humana não esqueças o Tarrafal. Se queres defender a Liberdade e construir e consolidar a verdadeira democracia, faz alguma coisa para que o fascismo não possa voltar mais à terra portuguesa. O Tarrafal simboliza 48 anos de política criminosa. Nós, povo português, não podemos permitir que este crime se repita”.
O orador, que falava perante dezenas de pessoas que se deslocaram na romagem anual que a URAP organiza ao Mausoléu para homenagear os 32 tarrafalistas ali sepultados, apelou para que neste momento nos inspiremos nos presos no Tarrafal quando o mundo atravessa “uma ofensiva do grande capital e das forças políticas belicistas e fascistas”, sublinhando “que é difícil a luta dos trabalhadores e dos povos para o enfrentar”.
Depois de referir que “este ano ainda se comemoram 50 anos da Revolução de Abril, e é também o ano que foi alcançada e reconhecida a independência dos povos colonizados da Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Angola”, Joaquim Judas recordou que “o Campo de Concentração do Tarrafal, criado em 1936, teve como objectivo a destruição política, social, mental e física daqueles que o fascismo considerava os seus mais firmes e perigosos opositores”.
“Construído propositadamente num local isolado e insalubre, onde os presos mal alimentados eram submetidos a brutais maus-tratos e sevícias e não tinham acesso a medicamentos indispensáveis ao tratamento das doenças que contraiam, o Campo de Concentração do Tarrafal foi campo de morte. Campo da Morte Lenta como foi conhecido”, acrescentou.
“De 1936 a 1954 por lá passaram, enviados de Portugal, 362 homens, resistentes de filiação comunista, anarquista e outros antifascistas. Entre 1936 e 1954 lá foram assassinados pelas brutais condições a que estavam submetidos os 32 companheiros para aqui transladados em 18 de Fevereiro de 1978”, afirmou.A cerimónia, apresentada por Ana Páscoa, do Conselho Nacional, contou com um momento musical da autoria do Cancioneiro Clandestino.
A homenagem iniciou-se com o desfile de antifascistas de vários núcleos, a partir da porta do cemitério até ao mausoléu, onde foi colocada uma coroa de flores no monumento inaugurado há 47 anos.
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