Declaração da FIR - Fédération Internationale des Résistants
A 19 de Setembro de 2019, o Parlamento Europeu em Estrasburgo passou uma resolução que alegadamente tratava "O significado do passado europeu (ou consciência histórica europeia) para o futuro da Europa". 535 deputados votaram a favor desta resolução, 66 contra e 52 abstiveram-se.
A FIR e as suas federações associadas não podem de qualquer maneira concordar com esta resolução. O texto da declaração não mostra o futuro da Europa, mas é uma recaída ideológica para os piores tempos da Guerra Fria, que estão expressos nesta resolução, que surgiu por iniciativa dos Estados Bálticos e da Polónia. Contrariamente a todos os achados científicos, alega-se no texto que foi apenas com o Tratado de Não-Agressão Germano-Soviético que "ficou marcado o rumo para a Segunda Guerra Mundial".
A reconstrução dos eventos que conduziram à Segunda Guerra Mundial é limitada, tendenciosa, instrumental, e não tem qualquer base científica. Numa única reaproximação, junta opressores e oprimidos, vítimas e carniceiros, invasores e libertadores. A resolução é um texto grosseiro de propaganda ideológica, digna dos piores momentos da Guerra Fria.
Só perversa é a afirmação na resolução que "é de uma importância decisiva a unidade da Europa e dos seus povos pelo fortalecimento da resistência da Europa às actuais ameaças exteriores de que as vítimas dos regimes autoritários e totalitários são lembradas". Qual é a actual ameaça externa de que os parlamentares estão a falar?
A declaração criticou de facto um novo revisionismo histórico. Todavia, apesar de os membros do Parlamento Europeu condenarem em alguns estados europeus a glorificação das pessoas que colaboraram com os Nacionais Socialistas, ao mesmo tempo adoptaram a narrativa histórica dos mesmos estados europeus de que a Rússia alegadamente falsifica factos históricos e encobre os "crimes cometidos pelo regime totalitário da União Soviética".
A FIR e com ela todas as federações dos sobreviventes da perseguição fascista, os combatentes contra a barbárie nazi e todos os anti-fascistas dizem não a tais falsificações históricas.
Enquanto existe um perigo crescente de fascismo, racismo e nacionalismo, a resolução escolhe um caminho de divisão lacerante em vez de uma responsável e rigorosa unidade. A FIR apela ao Parlamento Europeu para transmitir, proteger e confirmar a sua própria autoridade e credibilidade, num sinal claro de mudança radical de pensamento, em linha com os princípios que inspiraram a criação de uma Europa Unida, filha do antifascismo e das Mulheres e Homens que se opuseram aos regimes nazi-fascistas. Recordamos por isso o discurso de abertura do novo presidente do parlamento.
A FIR rejeita a recente resolução do Parlamento Europeu onde equipara e condena nazi-fascismo e comunismo, em claro contraste com a sua antifascista, antinazi e anti-racista resolução de 25 de Outubro de 2018.
Mais ainda, relembramos o vencedor do Prémio Nobel da Literatura Thomas Mann, que avisou em 1945: "Colocar comunismo russo no mesmo nível moral que nazi-fascismo, porque ambos são totalitários, é, no melhor, superficial, no pior é fascismo. Aquele que insiste nesta igualdade pode ser um democrata; na verdade e no seu coração, ele já é um fascista, e vai seguramente lutar o fascismo com insegurança e aparência, mas só o comunismo com ódio completo".
Berlim, 24 de Setembro de 2019