Cultura > Poesia
Fernando Namora
O apito da fábrica,
silêncio de sangue,
uma dor de punhais
rasgando entranhas.
O apito da fábrica,
vozes sem grito,
gestos desfraldados
a um vento morto.
O apito da fábrica.
Um a um, escuros e lentos, bichos
nas grades de um circo,
os homens
foram devorados pelas máquinas.
É bom o sol, quando há flores
e liberdade.
Nos dias pardos uma blasfémia se faz nuvem
no céu da cidade.
Fernando Namora em Frias Madrugadas.