António Borges Coelho, professor catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi distinguido, dia 31 de Maio, com a Medalha de Mérito Cultural, pelo seu percurso de vida "caracterizado pela intensa actividade política e académica".
A cerimónia decorreu no Palácio da Ajuda na presença da ministra da Cultura e muitas individualidades. A coordenadora da URAP, Marília Villaverde Cabral, esteve presente em representação da organização, da qual Borges Coelho já foi presidente da Assembleia Geral.
O historiador foi membro do MUD Juvenil e depois do Partido Comunista, do qual se desvinculou muitos anos mais tarde. Em 1956, foi preso e condenado no processo colectivo do MUD Juvenil a dois anos e nove meses de prisão maior, com medidas de segurança "por período não inferior a seis meses". Fica detido durante seis anos, tendo permanecido seis meses no isolamento. Em 1959, casou-se no Forte de Peniche com a namorada, Isaura Silva (sua companheira até hoje), que, havendo sido presa em 1953 e ficado vários anos na prisão de Caxias, não tinha até então autorização para o visitar ou escrever.
A condecoração foi entregue pela ministra da Cultura, Graça Fonseca, que destacou o percurso profissional e pessoal do historiador, poeta e ensaísta, enaltecendo o seu "constante compromisso com a cultura e língua portuguesas, nas quais e para as quais ajudou a preservar e a compreender, com a sua obra, uma parcela fundamental da memória nacional".
"Com os seus livros e a sua docência, o Professor António Borges Coelho construiu um edifício grandioso que retrata o percurso histórico nacional, dos grandes eventos e dos nomes que destes eventos ecoam, até às estruturas sociais, económicas e culturais. Uma história onde cabem todas texturas do homem, de todos os homens, porque a história nunca pode deixar de ser, também, política", disse a ministra na sua intervenção.
A finalizar, Graça Fonseca evocou o "poema do Professor António Borges Coelho, gravado no Memorial aos Presos Políticos na Fortaleza de Peniche". Para a governante, este "incita-nos a nomear um a um todos os nomes daqueles que lutaram e resistiram ´Nomeai um a um todos os nomes. Lutaram e resistiram. A liberdade guarda a sua memória nas muralhas desta fortaleza'. É o que esta medalha simboliza, no fundo: dizermos o nome do Professor António Borges Coelho, um nome que lutou, resistiu e dedicou a sua vida à memória de Portugal e, por isso, à cultura".
Borges Coelho nasceu em Murça (Vila Real), a 7 de Outubro de 1928. Para além da sua vida dedicada à luta contra a ditadura e um Portugal democrático, formou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, concluindo a licenciatura em 1969, com uma tese sobre Leibniz.
Em 1974, após a revolução, iniciou a sua actividade de docente no Departamento de História da FLUL, onde leccionou durante 24 anos. A sua "Última Lição" ocorreu no dia 11 de Dezembro de 1998.
A 9 de Junho de 1999, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada e, em 2018, foi distinguido com o Prémio da Universidade de Lisboa, tributo de consagração pelo trabalho que desenvolveu, recebeu o Prémio da Fundação Internacional Racionalista e a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. No mesmo ano, a Organização Concelhia de Cascais do PCP prestou homenagem na Parede (Lisboa) ao "ao professor, investigador e destacado antifascista".
A vasta bibliografia de António Borges Coelho inclui ensaio, poesia, teatro e ficção. Da investigação historiográfica resultaram obras como Raízes da Expansão Portuguesa (1964), A Revolução de 1383 (1965), e Comunas ou Concelhos (1973). Como ensaísta, é ainda autor de títulos como Alexandre Herculano (1965), Leibniz. O Homem. A Teoria da Ciência (1969), O 25 de Abril e o Problema da Independência Nacional (1975), e Questionar a História: Ensaios sobre a História de Portugal (1983). Nos anos 1970, organizou Portugal na Espanha Árabe (1972-1975), em quatro volumes, considerada uma obra de referência. Também fundou e dirigiu a revista História e Sociedade.
Como poeta publicou Roseira Verde (1962), Ponte Submersa (1969), Fortaleza(1974), No Mar Oceano (1981) e Ao Rés da Terra (2002), entre outros.
Escreveu ainda peças para teatro, como Príncipe Perfeito (1988), e, na área da ficção, Tempo de Lacraus (1999) ou Youkali é o País dos Nossos Desejos (2005).
Actualmente com 90 anos, António Borges Coelho continua a dedicar-se aos estudos de História e está a preparar uma antologia dos seus poemas.