A actriz e encenadora Fernanda Lapa, antifascista com participação em eventos da URAP, morreu hoje, dia 6 de Agosto, aos 77 anos, em Cascais, onde estava hospitalizada.
Maria Fernanda Mamede de Pádua Lapa nasceu em Lisboa a 11 de Maio de 1943 e era directora artística da Escola de Mulheres-Oficina de Teatro desde a sua fundação, em 1995, criada para romper com o panorama teatral português, em relação à forma como as mulheres eram olhadas.
Considerou uma lacuna grave o facto de não haver representações de textos de autores femininos, haver poucas encenadoras e a maioria das peças exibidas darem da mulher imagens estereotipadas ou idealizadas, sendo os elencos maioritariamente masculinos.
Deste modo, Fernanda Lapa privilegiou sempre o trabalho de encenadora e as questões das mulheres na cultura. Defendia, nas suas palavras, que "o teatro reflecte todas as contradições, avanços e recuos do papel da mulher na sociedade contemporânea."
A sua carreira teve início em 1962, no Teatro dos Alunos Universitários de Lisboa. Foi uma das fundadoras da Casa da Comédia, em Lisboa, estreou-se como actriz na peça de Almada Negreiros Deseja-se Mulher, em 1963. Mais tarde, em 1972, tornar-se-á encenadora com esta mesma peça. Dirigiu, em seguida, peças de teatro, "teatro-dança" e óperas, desenvolvendo paralelamente acções pedagógicas nas áreas do teatro e do cinema.
Enquanto estudante no Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa, onde obteve o bacharelato e teve como professor o médico e dramaturgo Bernardo Santareno, Fernanda Lapa conseguiu, em 1979, uma bolsa da Secretaria de Estado da Cultura, frequentando então a Escola Superior de Encenação de Varsóvia. Nesta escola diplomou-se em Encenação, realizando em seguida estágios no Teatro Laboratório de Grotowski, no Teatro Contemporâneo de Wroclaw e no Teatro Stary de Cracóvia.
Actriz multifacetada, ao longo dos anos viria a encenar inúmeras produções de teatro e ópera, com textos de Almada Negreiros, Paula Vogel, Tadeuz Rozewits, Lucia Sanchez, Eurípedes, August Strindberg, Per Olov Enquist, Orlando Costa, entre muitos outros. Foi, até 2012, professora catedrática convidada, e directora do departamento de artes cénicas da Universidade de Évora, para além da escola profissional de Cascais e Universidade Intergeracional.
No cinema participou em várias longas-metragens, tendo protagonizado Recompensa, de Arthur Duarte (1979), e Solo de Violino, de Monique Rutler (1992), além do trabalho com os realizadores Fernando Vendrell e Margarida Gil. Participou em dezenas de peças produzidas ou adaptadas para a televisão e integrou o elenco de séries como Ballet Rose, A Raia dos Medos, O Processo dos Távoras ou Pedro e Inês, além da participação esporádica em novelas. Com Sinde Filipe foi co-autora de Cancioneiro (1975), programa de poesia na RTP1.
Recebeu o Globo de Ouro (2005) pela produção de A Mais Velha Profissão, de Paula Vogel. Foi distinguida nesse mesmo ano com a Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura.
A URAP apresenta à sua família e amigos as mais sentidas condolências.