Nikias Skapinakis, um dos nomes maiores da pintura portuguesa da segunda metade do século XX, antifascista desde a juventude, morreu dia 26 de Agosto, em Lisboa, aos 89 anos.
Combatente antifascista, este artista plástico foi militante do Movimento de Unidade Democrática (MUD Juvenil), candidato da Oposição Democrática, nas eleições para a Assembleia Nacional, nas décadas de 1950 e 1960 e foi preso pela PIDE em 1962 na cadeia do Aljube.
Em 1961, em representação da "Seara Nova", havia participado na elaboração de um documento comum da oposição, o "Programa para a Democratização da República".
Filho de pai grego e de mãe portuguesa, Nikias Skapinakis nasceu em Lisboa, em 1931. Começou por estudar Pintura e Desenho, nos cursos da Sociedade Nacional de Belas-Artes (SNBA), seguindo-se o curso de Arquitectura, de que foi expulso, pelo regime, por motivos políticos.
Desde a década de 1940 dedicou-se quase exclusivamente à pintura. Expôs pela primeira vez em 1948, na SNBA, nas mostras colectivas dos jovens artistas. Fez trabalhos em litografia, serigrafia e ilustração.
Segundo o próprio Skapinakis escreveu na introdução ao catálogo da mostra antológica "Presente e Passado, 2012-1950", que o Museu Colecção Berardo, em Lisboa, lhe dedicou em 2012, as suas obras revelam um processo de conhecimento e indagação, que reconhece na "história da pintura desde o seu remoto passado até ao presente".
Cita neste texto várias influências que "educaram [o seu] olhar e guiaram [a sua] mão". Desde a primeira Escola de Paris de Marc Chagall, passando pela contemporaneidade de De Chirico e Morandi e a expressões ancestrais, que remontam a El Greco ou Zurbarán, aos frescos de Pompeia, à pintura italiana de Quattrocento, mas também à literatura, à poesia de Cesário Verde e da Presença, e à realidade em volta, "a pressão claustrofóbica e entediante do ambiente português das décadas de 1950 e 60", em plena ditadura, que combateu e influenciou a sua vida.
A sua vasta obra foi exposta em diversos museus e galerias em Portugal ao longo dos anos, tendo realizado a última em Setembro do ano passado, a série "Descontinuando", mostrada no Teatro da Politécnica, em Lisboa, dos Artistas Unidos, companhia dirigida por Jorge Silva Melo, que em 2007 dirigiu o documentário "Nikias Skapinakis: O Teatro dos Outros".
Está representado nas principais colecções de arte em Portugal, como a da Gulbenkian ou de Serralves. Como lhe chamou o crítico João Pinharanda, Nikias Skapinakis foi "Um Pintor no Século".
Nos anos 70 pintou obras icónicas como "Retrato dos Críticos" (1971), um dos painéis da Brasileira do Chiado, "Encontro de Natália Correia, Fernanda Botelho e Maria João Pires" (1974), "As Metamorfoses de Zeus e os Enlevos de Miss Europa", ou os "Retratos de Ausência", no conjunto de "Pessoas, Ninfas, Bichos, Frutos e Manequins", que estendeu por mais de 40 anos, desde 1960.
Em 2005, para a estação de Arroios, do metro de Lisboa, que se mantém em obras de ampliação, concebeu o painel "Cortina Mirabolante" - do "pintor mirabolante" que também se assumiu -, pensado para a área central, antecedendo o acesso aos painéis originais de Maria Keil.
Obteve também diversos prémios e condecorações entre as quais a Ordem de Santiago de Espada (Grande Oficial), em 2006, no Dia de Portugal. Foram-lhe atribuídos ainda o prémio AICA/SEC, instituído pela Associação Internacional de Críticos de Arte e a Secretaria de Estado da Cultura, em 1990, o Grande Prémio Amadeo de Souza Cardoso, da Câmara Municipal de Amarante, em 2005, o primeiro prémio do Casino da Póvoa de Varzim, em 2006, entre outros.
A URAP apresenta à família e amigos do artista as mais sentidas condolências.