Texto de António Borges Coelho para a inauguração do MNRL

Texto de António Borges Coelho para a inauguração do Museu Nacional da Resistência e Liberdade

Os museus guardam os objectos e as memórias que marcaram o nosso quotidiano, a nossa história e a do Mundo, prendem os olhos e os sentidos na beleza das artes, exercitam e alargam os horizontes da nossa cultura e humanidade. Mas este Museu da Resistência de Peniche é um museu singular, um museu destinado a resgatar a memória daqueles que ousaram oferecer a sua vida para resgatar a liberdade roubada durante quarenta e oito anos de repressão e obscurantismo.
Os presos chegavam de todos os lados e de todos os grupos sociais. Sepultavam-nos dentro das grossas paredes da Fortaleza que assentam sobre o mar. Ali ficavam. Os anos sucediam-se aos anos. Sem notícias, sem o alimento dos acontecimentos da vida social e familiar que ocorria lá fora, era um tempo sem sinais, um tempo quase sem memória, Os dias sucediam-se aos dias ao ritmo dos apitos e da formatura à porta das celas.
O mar bramia por baixo da fortaleza, respirava com ruído elevando pelas frinchas altos jactos de água. Era o companheiro fiel dos dias.

“Os nossos olhos são asas de gaivota
roçando a flor das águas afagando-as
em cada círculo ou rota
ou pousados balouçando
seguindo o movimento
deste mar tão brando
e logo tão violento.”

Na tarde de 20 de Maio de 1962 saiu da Fortaleza um preso com duas malas nas mãos e seis anos e meio de cárcere, os guardas e o chefe acompanharam-no até ao fim do passadiço. Uma mulher do Largo aproximou-se sem medo. -Está a sair da Fortaleza? -Sim. -Deixe-me dar-lhe um abraço.
O preso pousou as malas e abraçaram-se profundamente.
Nunca mais esqueceu aquele abraço. Hoje alarga-o a todo o povo de Peniche

António Borges Coelho

27 de Abril de 2024

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