O lançamento do livro “Elas estiveram nas prisões do fascismo” decorreu, dia 19 de Junho, na Cooperativa Árvore, no Porto, e contou com várias intervenções de responsáveis da URAP e um concerto de guitarra portuguesa interpretado por Manuel Soares.
Teresa Lopes, do Conselho Directivo, lembrou a fundação da URAP e o contributo nos seus 45 anos de existência para que a memória do que foi o fascismo não seja apagada, nem branqueada. Fez ainda um breve apontamento do conteúdo daquela que é uma laboriosa obra colectiva que traz a público, pela primeira vez, o levantamento e a listagem das 1 722 mulheres que estiveram encarceradas nas várias prisões do fascismo, a partir dos 148 livros do Registo Geral de Presos e outros registos disponíveis na Torre do Tombo.
Maria Alcina Fernandes, autora do texto sobre O Estatuto Jurídico da Mulher sob o Fascismo, falou da brutal discriminação a que as mulheres portuguesas estiveram sujeitas em todos os planos das suas vidas. Exemplificou com o caso da enfermagem só poder ser exercida por mulheres solteiras ou viúvas sem filhos, considerando-o paradigmático, bem como as disposições especiais para o trabalho feminino no “Estatuto de Trabalho Nacional”. Mesmo quando a norma legal parecia ser mais igualitária, a prática imposta pelo regime superava a norma legal e através dessa prática concretizava-se a interpretação das leis que mais interessavam ao Estado Novo.
Maria José Ribeiro, ex-presa política, uma das fundadoras do MDM em 1968, traçou o percurso duro, mas firme, da luta das mulheres em organizações como o Conselho Português das Mulheres Portuguesas, a Associação Feminina Portuguesa Para a Paz e o MDM, que censuradas ou mesmo reprimidas, nunca deixaram de erguer a sua voz em defesa da emancipação, dos direitos da mulher e da Paz.
Lembrou a experiência vivida no Porto, em 1962, um ano após o início da guerra colonial e a chegada dos primeiros soldados mortos, a iniciativa da Comissão Democrática de Mulheres em comemorar o 8 de Março com uma manifestação que tinha entre outras consignas “Pela Paz, Não à Guerra”.
Sónia Teles e Silva e Paulo Hernâni falaram de seus pais - Maria Armanda Teles e Hernâni Siva -, unidos na vida e na luta desde muito jovens, sofrendo perseguições e prisões, que no caso do Hernâni foram de extrema violência. Maria Armanda contou que, ainda menor, foi denunciada e acareada por distribuição de propaganda, foi interrogada durante vários dias consecutivos, oito horas por dia. Por se negar a colaborar, toda a família, que vivia com ela, foi detida.
José António Gomes, professor e escritor, leu vários poemas, seleccionados por si e insertos no livro, e contextualizou cada um dos poemas no processo de resistência ao fascismo das suas autoras, completando ainda com alguns dados biográficos.
Já no final, na assistência, Daniela Sousa, a filha de Albina Fernandes, uma das muitas mulheres presas constantes no livro, deu testemunho da luta intensa sofrida pela mãe, da sua vida na clandestinidade, da ligação afectiva que, apesar de anos e anos de afastamento, sempre mantiveram.
“Elas estiveram nas prisões do fascismo” aborda a situação jurídica das mulheres entre 1933 e 1974, as condições prisionais que enfrentaram, as lutas sociais e movimentações democráticas em que participaram, bem como um breve historial das organizações femininas de orientação democrática.
O próximo lançamento decorrerá às 15:00 do próximo dia 26 de Junho, na Casa do Alentejo, em Lisboa.