“Elas Estiveram nas Prisões do Fascismo” foi apresentado pela URAP, dia 26 de Junho, na Casa do Alentejo, em Lisboa, numa sessão onde intervieram três dirigentes da organização e se assistiu a um concerto intercalado por poesia.
O livro, que pretende ser um contributo para “resgatar de um relativo esquecimento o relevante papel das mulheres no combate à Ditadura fascista”, inclui em anexo uma listagem com o nome de 1.755 mulheres presas nas cadeias do fascismo, que constam, segundo Eduardo Brissos, no Registo de Presos (PVDE/PIDE), com cerca de 30 mil registos e nos arquivos da PIDE consultados na Torre do Tombo.
A equipa que elaborou esse trabalho, disse Brissos, tem a noção que está aqui apenas uma parte das mulheres que estiveram presas. Não inclui os anos de 1926 a 1934 e todas as prisões feitas pela GNR, pela PSP, pela Guarda Fiscal que não terminaram na esfera da polícia política, mas que foram feitas por motivos políticos. Por esse motivo, vai continuar-se o trabalho, procurando mais nomes em outros arquivos a nível nacional, garantiu.
Marília Villaverde Cabral, depois de agradecer às presas políticas ali presentes, e de ter mandado através do companheiro “um cravo” para Alice Capela, ausente por doença, referiu-se ao papel interventivo da mulher durante o fascismo, quer fossem trabalhadoras nos campos ou nas fábricas, nos escritórios, em profissões intelectuais ou estudantes.
A oradora lembrou que no Portugal de hoje apesar da igualdade estar plasmada na Constituição da República Portuguesa ainda não é uma realidade em muitos campos tal como na obrigatoriedade de a trabalho igual, salário igual.
Manuela Bernardino falou em nome dos coordenadores da edição, passando em revista os capítulos do livro, destacando inicialmente a fotografia da capa, na qual estão Albina Fernandes e o seu filho Rui Pato – este último presente na sala -, uma das muitas crianças detidas com os pais nas cadeias do fascismo.
“Elas Estiveram nas Prisões do Fascismo”, afirmou Manuel a Bernardino, é um estudo sobre a mulher sob o fascismo, nas cadeias e na participação em três fugas, nas lutas sociais e nos combates pela democracia.
O livro divulga ainda as organizações femininas existentes à época, cartas às organizações femininas e democráticas do mundo inteiro; fala das mães que caminharam para as prisões, de diversos aspectos da vida prisional e publica uma crónica de um tempo sombrio.
Termina com a chegada de Abril, da liberdade, da democracia, do reconhecimento legislativo da igualdade – na prática ainda não totalmente conquistada - e fornece alguns dados estatísticos para os anos de 1934 a 1974.
A parte cultural da sessão de lançamento contou com a actuação do Quarteto Zlatna, composto por Pedro Figueiredo (1º violino), Ana Dimitrova (2° violino), Alice Gorjão (viola de arco) e Ester Santos (violoncelo). Foram tocadas quatro peças: John Williams, tema do filme "A Lista de Schindler"; Rachmaninoff, Quarteto de Cordas nº 1 - 1º andamento; Beethoven, Quarteto de Cordas op.18 nº 4 - 1º andamento; Beethoven, Quarteto de Cordas op.18 nº 4 - 4º andamento.
A declamadora Regina Correia disse poemas de Ilse Losa, Sophia de Mello Breyner e Eugénia Cunhal.