“Adriano Correia de Oliveira deixou-nos cantigas e músicas que se prolongarão no tempo. Ele foi o grande trovador da sua geração, o homem e o artista fraterno e generoso que fez da viola e das canções a sua arma e forma principal de intervenção”, disse José Pedro Soares no almoço de comemoração dos 80 anos do nascimento do cantor.
Organizado, dia 27 de Novembro, na Casa do Alentejo, pela URAP e Casa do Alentejo (com quem a URAP tem um protocolo) e com a colaboração da Comissão das Comemorações dos 80 Anos de Adriano Correia de Oliveira, o almoço reuniu 200 pessoas e foi presidido por César Roussado, do Conselho Directivo, que usou da palavra para agradecer as muitas presenças.
“É esse amigo, companheiro e camarada inesquecível, o grande cantor da resistência antifascista e da Revolução de Abril, que hoje aqui lembramos. Por isso, como naquele dia silencioso e triste de despedida, de novo te dizemos: Obrigado Adriano e até sempre! 25 de Abril Sempre! Fascismo nunca mais!”, afirmou a terminar o coordenador da URAP.
O primeiro orador da sessão foi João Proença, presidente da Direcção da Casa do Alentejo, que manifestou grande satisfação pela Casa do Alentejo ter participado na organização, em conjunto com a URAP, desta iniciativa e deu uma nota da situação actual da Casa do Alentejo pós pandemia. “Realizaram-se eleições, foram eleitos novos corpos sociais e agora a situação está regularizada”, garantiu.
João Mascarenhas, da Comissão Executiva das Comemorações dos 80 Anos de Adriano, agradeceu a realização da sessão, mais uma a somar às muitas que se têm realizado por todo o país, contou alguns factos engraçados de Adriano quando estudante de Coimbra e finalmente leu uma saudação da direcção do Centro Artístico, Cultural e Desportivo Adriano Correia de Oliveira.
Na sua intervenção, José Pedro Soares considerou que a URAP não podia deixar de se associar “à evocação e homenagem nacional pela passagem dos 80 anos do nascimento de Adriano Correia de Oliveira, o grande cantor, o companheiro, o camarada e o amigo que nos deixou há já 40 anos” e lembrou que o cantor “teve uma vida curta, mas cheia o suficiente para nos deixar tantas e tão inesquecíveis baladas e canções, uma obra de dimensão intemporal”.
“Partiu muito novo, mas deixou-nos a sua obra, os inconfundíveis registos da sua música, a singularidade da sua voz e a riqueza poética das suas trovas e canções que nos cantou em encontros e tertúlias, em grandes e pequenas salas, em ruas e praças, em acções populares e de luta, entre amigos, e sempre aquela voz ímpar, com liras, sonhos, trovas para unir, motivar e despertar para as causas e as lutas no nosso tempo”, recordou.
José Pedro Soares afirmou ainda que “Adriano Correia de Oliveira foi, com José Afonso e outros cantores da nova música portuguesa, na última década do regime opressor e nos primeiros da Revolução de Abril, um dos grandes animadores do movimento popular e da juventude, a força e o conteúdo das suas cantigas, foram e são, para todos nós, um imenso património”.
O orador deu alguns dados biográficos de Adriano que “nasceu em 1942 em Avintes, concelho de Vila Nova de Gaia, e cedo se ligou ao associativismo na União Académica de Avintes, frequentou o Liceu Alexandre Herculano, no Porto, cidade onde mais tarde acabaria por gravar todos os seus discos, e aos 17 anos foi para Coimbra, onde nos anos seguintes conheceu José Afonso e outros músicos e poetas, iniciando aí outra fase da sua vida”.
“Nessa cidade do Mondego torna-se membro do CITAC, foi coralista no Orfeão Académico e também atleta na Associação Académica de Coimbra”, acrescentou.
Depois de afirmar que “é por isso natural, que os que lhe foram mais próximos, recordem quanto foram interessantes as tardes e noites de conversa e convívio a ouvir as suas canções”, José Pedro Soares dirigiu-se na primeira pessoa a Adriano para falar dos seus companheiros que não puderem estudar e mais tarde vieram para as cidades, dos tempos do obscurantismo salazarista, agradecendo o papel destes e dele na revolução de Abril.
“Os que nas fábricas, nas universidades e nos quartéis, a malta de todos esses sítios que em 25 de Abril encheu ruas e praças, cercaram as sinistras cadeias do fascismo enquanto os seus, os presos políticos, não fossem todos libertados, dias luminosos onde, em vez de balas, dessa vez, como te recordarás, as espingardas ergueram cravos”, enfatizou, aludindo ainda ao revés que ultimamente se tem dado no processo democrático pelo qual Adriano tanto lutou.
O almoço foi acompanhado por uma parte cultural, que contou com um número maior de pessoas que se juntaram ao evento, com Manuel Diogo a dizer poemas dedicados a Adriano ou musicados por ele, de Ary dos Santos, Manuel Alegre e Manuel da Fonseca.
Em seguida actuou o grupo “Amigos de Abril” com canções populares de poetas da Resistência, entre os quais Adriano, e encerrou com o grupo de Cante Alentejano “Fora d’Oras” de Montemor-o-Novo.