Maria da Conceição Moita, antifascista da resistência, que pertenceu ao grupo de católicos progressistas que organizou a vigília da Capela do Rato, participou na luta anticolonialista, e foi libertada da Fortaleza de Peniche com a Revolução de Abril, morreu hoje, 30 de Março, aos 83 anos, vítima de doença prolongada.
No dia 25 de Abril de 1974, Conceição Moita estava presa em Caxias e é uma das pessoas que aparecem à porta, na hora da libertação, acompanhadas dos advogados, e da delegação da Comissão de Socorro aos Presos Políticos.
Em entrevista datada de 1974, afirmou que na prisão não sabiam do golpe militar apenas perceberam que havia algumas alterações nas rotinas na cadeia. Um automóvel tentou comunicar através de sinais sonoros, a partir da auto-estrada, só percebemos as duas últimas palavras: “derrubado” e “coragem”.
“No dia 26 de Abril, [já passava da meia noite], fomos libertados depois de algumas diligências para que todos os presos políticos fossem libertados e não alguns, tal como inicialmente tinha sido anunciado.
Foi uma libertação que teve um significado pessoal enorme! Estava presa há seis meses. Tinha passado pela tortura, isolamento numa cela sozinha e finalmente com outras companheiras. Foi uma libertação única. Era a minha libertação pessoal depois de uma situação de cativeiro; a libertação do meu país, que tanto desejava; o fim da ditadura e a conquista da palavra ´liberdade´ que faltava; e depois a libertação dos povos das colónias, uma luta onde estava particularmente implicada”, contou.
A primeira acção de rua em que participou, quando ainda adolescente, foi em Fátima, num 13 de Maio. Nesse dia foram distribuídos milhares de panfletos em que se afirmava que “a mensagem de Fátima só podia fazer apelo à paz e que os católicos deviam assumir de uma maneira muito clara e muito firme a luta contra a guerra em África”.
Na vigília na Capela do Rato, a 30 de Dezembro de 1972, Conceição Moita estava no grupo dos seis organizadores que deram a cara. No fim da missa, Conceição Moita dirigiu-se aos microfones e leu a declaração que convocava a vigília de 48 horas de oração pela paz. Disse aos presentes que se comprometiam a ficar dois dias em jejum completo e em greve de fome, em solidariedade com as vítimas da guerra, como protesto contra situação de guerra que se vivia em Portugal e contra a ausência de tomadas de posição da hierarquia católica.
A polícia política entrou de imediato e muitas pessoas foram presas, algumas sem sequer estarem ligadas aos acontecimentos, sobretudo jovens.
Na altura foi interrogada pela PIDE, e continuaria na luta antifascista. Foi detida a 6 de Dezembro de 1973, tendo sido torturada, submetida a isolamento e ficado na prisão de Caxias até à Revolução de Abril de 74.
“Estavam a ser presas muitas pessoas ligadas a mim e eu achei que fazia sentido sair do país. Fui à TAP, comprei um bilhete de avião e a PIDE seguiu-me. Uma ou duas horas antes de partir, estavam na minha casa para me prender”, afirmou na mesma entrevista.
Participou em muitas acções antes e depois de Abril com nomes como Fernando Gomes da Silva, Manuela Silva, padre João Resina, frei Bento Domingues, Nuno Teotónio Pereira, este que no Estádio Primeiro de Maio, no 1º Dia do Trabalhador em liberdade, fez uma intervenção em que disse: “Nós os católicos estamos no meio do povo português, muito contentes como que aconteceu em Portugal. Mas está tudo por fazer! O 25 de Abril foi um grande clarão que aconteceu a todos, mas agora é tempo de… mãos à obra! E deixa de fazer sentido a designação de ‘católicos progressistas’. Agora somos portugueses que vamos trabalhar pelo nosso desenvolvimento, pelo bem-estar e pela qualidade de vida de todos!”.
Maria da Conceição Moita nasceu a 5 de Abril de 1937, em Alcanena. Foi educadora de Infância, tendo trabalhado na educação de adultos e na animação comunitária. Foi ainda professora de Religião e Moral em Liceus de Lisboa e no Barreiro. Trabalhou no movimento “O Ninho” com raparigas pobres que se entregavam à prostituição. Dirigiu uma secção da Casa Pia de Lisboa. Fez um Mestrado em Ciências da Educação. Nos últimos vinte anos de vida profissional, foi professora na Escola Superior de Educação de Lisboa. Manteve-se muito activa em iniciativas cidadãs ao longo da sua vida.
A URAP apresenta à família e amigos de Maria da Conceição Moita as mais sentidas condolências.
[foto: Maria da Conceição Moita à saída da prisão de Caxias na madrugada de 27 de Abril de 1974]