Conceição Matos, antifascista, ex-presa política e sócia da URAP foi homenageada, dia 30 de Maio, e tornou-se “sócia honorária d´A Voz do Operário”.
A distinção é atribuída anualmente por esta instituição centenária - 138 anos - a uma personalidade de mérito reconhecido nas áreas da política, cultura ou desporto.
Com a presença de uma delegação da URAP, constituída pelo coordenador, José Pedro Soares, Celestina Leão e Maria da Purificação Araújo, entre muitos outros democratas, esta heroína da resistência recebeu o galardão e falou comovidamente aos presentes.
Presa pela PIDE duas vezes, barbaramente torturada e humilhada, Conceição Matos foi e é um ser humano cheio de dignidade que travou uma luta sem tréguas contra o fascismo e está na primeira linha da construção do Portugal livre e democrático.
Residente no Barreiro em jovem, cedo começou a lutar contra a injustiça e a exploração reinante, integrou o Movimento de Unidade Democrática Juvenil (MUDJuvenil). Iniciou a sua actividade como todos os jovens democratas da época, fazendo pichagens nas paredes, distribuindo o Avante! clandestino, indo a reuniões, encontros e manifestações.
Para Conceição Matos, “ser sócia honorária d'A Voz do Operário é uma honra pelo que representa como instituição na defesa dos interesses dos trabalhadores e da liberdade. Esta homenagem, tendo como justificação o meu passado como resistente antifascista, é também uma homenagem a todos os homens e mulheres que lutaram para que Portugal fosse um país livre. É também um alerta para os perigos que nos ameaçam hoje, como o renascer do fascismo”.
Conceição Matos não gosta muito de contar as torturas por que passou. Quando vai às escolas falar com os alunos para lhes relatar o que foi o fascismo é sempre muito penoso. Com efeito, ela foi das presas mais torturadas e vexadas que passaram pelas cadeias do fascismo.
No primeiro interrogatório, obrigaram-na a urinar e defecar na sala durante um interrogatório que durou três dias e três noites. Teve a menstruação e não tinha como se proteger, foi espancada com pontapés, murros, e flash nos olhos. Confessa que mais do que as torturas físicas, lhe doeram mais as torturas morais. Doeu-lhe terem-na despido à frente de todas aqueles PIDEs, que chegaram a ser dez.
No segundo interrogatório despiram-na completamente. No anterior tinha ficado em combinação. Depois, passados uns dias mandaram-lhe a roupa suja num papel pardo que teve de lavar no lavatório, dado não ter mais roupa nenhuma com ela.
Em Caxias, onde esteve isolada mais de dois meses, os presos da cela ao lado batiam na parede – cada pancada correspondia a uma letra - e ela conseguiu perceber que diziam: «Coragem hoje, abraços amanhã».