A pintura Aborto (1997-1999) surge para criticar o resultado do primeiro referendo ao aborto, realizado em Portugal em 1997, pelas mãos da pintora Paula Rego, que morreu em Londres aos 87 anos de idade, no dia 8 de Junho.
Recebida com algum escândalo pela sociedade portuguesa conservadora, muitas outras das suas pinturas retrataram a mulher como figura principal por esta artista que partilhou a sua vida entre Portugal e o Reino Unido, considerada um expoente máximo da pintura contemporânea mundial.
Em 1994, realizou a série de pinturas a pastel intitulada Mulher Cão, que marcou o início de um novo ciclo de mulheres simbólicas. Menina mãe, amiga, enfermeira e amante, num jogo de sedução e de dominação que continua em obras posteriores.
Com a morte do seu marido, o pintor Victor Willing (1928-1988), com quem se casou em 1959, assina obras como O Cadete e a Irmã, A Partida, A Família ou A Dança, privilegiando ainda e sempre a figura feminina, bem como a Ericeira onde viveu largos anos numa mansão familiar.
Depois de participar em exposições colectivas no Reino Unido, a partir de 1960, entusiasma a crítica ao expor individualmente, pela primeira vez, na Galeria de Arte Moderna da Escola de Belas-Artes de Lisboa, em 1966.
Em 1975 é bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian para fazer pesquisa sobre contos infantis, que se traduz em 11 figuras que apresenta na exposição Arte Portuguesa desde 1910 (1978), dominadas pelas colagens.
Numa pintura livre e directa retrata o mundo intimista e infantil, inspirado em dados reais ou imaginários, com figuras de um teatro de crianças de Victor Willing (o macaco, o leão e o urso). A obra literária de George Orwell inspira-a em seguida no painel Muro dos Proles (1984), com mais de seis metros de comprimento, onde estabelece um paralelismo com as figuras de Bosch.
Em 2009, Portugal homenageia a artista com a abertura da Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, um museu dedicado à obra de Paula Rego, com projeto arquitectónico de Eduardo Souto de Moura, que, desde então, acolheu inúmeras e importantes exposições da sua obra.
Ninguém melhor que Paula Rego para clarificar, com simplicidade desarmante, o âmbito temático do seu trabalho, que por múltiplas formas que tome, tem sido invariável, como se pode ler nas suas palavras: “Mandar nas pessoas. Obediência. Subversão. Fazer bem às pessoas más, fazer mal às pessoas boas. Poder. Desigualdade entre os sexos. Os homens mandam nas mulheres em geral. As mulheres às vezes mandam, mas é de outra maneira. A relação entre os sexos. É isso. Não é preciso mais”.
Paula Rego recebe ao longo da vida muitos títulos honoríficos, como: Mestre honoris causa em Arte pela Winchester School of Art, Hampshire, Reino Unido (1992); Doutora honoris causa em Letras pela University of St. Andrews, Fife, Escócia, Reino Unido (1999); Doutora honoris causa em Letras pela University of East Anglia, Norwich, Reino Unido (1999); Doutora honoris causa em Letras pela Rhode Island School of Design, Rhode Island, Estados Unidos da América (2000); Doutora honoris causa em Letras pelo The London Institute, Londres, Reino Unido (2002); Grã-Cruz da Ordem de Sant'Iago da Espada, concedida pelo Presidente da República, Portugal (2004); Doutora honoris causa em Letras pela Oxford University, Oxford, Reino Unido (2005);. Doutora honoris causa em Letras pela Roehampton University, Londres, Reino Unido (2005).
Em 2001-2002, seis litografias da série Jane Eyre são usadas pela Royal Mail para edição de uma colecção de seis selos, Reino Unido. Em 2010 é Dame Commander of the Order of the British Empire pela sua contribuição para as Artes pela Rainha do Reino Unido; e no mesmo ano é eleita Personalidade do Ano pela Associação de Imprensa Estrangeira em Portugal, Portugal e recebe o prémio Penagos de Dibujo atribuído pela Fundación MAPFRE, Madrid, Espanha.
Recebe o título de Doutora honoris causa proposto pela Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa, Portugal (2011); o Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso (Consagração) no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, Amarante, Portugal (2013);
eleita Membro Honorário do Murray Edwards College, Cambridge, Reino (2013);
recebe o título de Doutora honoris causa em Letras, University of Cambridge, Reino Unido (2015); a Medalha de Honra da cidade de Lisboa (2016); o Prémio Maria Isabel Barreno (2017); a Medalha de Mérito Cultural do Governo português (2019); e foi distinguida com Prémio Carreira pela revista "Harper's Bazaar".
Maria Paula Figueiroa Rego nasceu em Lisboa, em 1935, no seio de uma família da alta burguesia, de tradição liberal e republicana. Após concluir o ensino secundário, foi incentivada pelo pai a prosseguir os estudos fora do país e longe do regime salazarista, tendo partido aos 17 anos para Londres, onde estudou na Slade School of Fine Art até 1956.
Em 2017, o seu filho, Nick Willing, realizou e fez exibir o documentário biográfico Paula Rego - Secrets and Stories.
A morte de Paula Rego ocorre quando expôs com enorme êxito mediático em Paris, (Orangerie, 2018/19), Londres (Tate Britain, 2021) e no Kunstmuseum den Haag (2021/22). Recentemente inaugurou uma mostra no Museu Picasso Málaga, e tem uma representação especial na Bienal de Veneza. Actualmente integra também a exposição “Tudo o que eu Quero. Artistas Portuguesas de 1900 a 2020”, em Tours.
Governo português vai decretar luto nacional pela morte da artista, "com isso reconhecendo o papel e a centralidade de Paula Rego para a cultura portuguesa, internacional e universal", disse o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.
A URAP lamenta a morte da artista e apresenta à família sentidas condolências.