Intervenção de Carla Sousa - 50 anos do III Congresso da Oposição Democrática

Intervenção de Carla Sousa - 50 anos do III Congresso da Oposição Democrática
1 de Abril de 2023

 

Tamanho foi o êxito do III Congresso da Oposição Democrática, realizado aqui, em Aveiro em Abril de 1973, apesar do clima de forte violência repressiva fascista, que veio a tornar-se num importante marco na política nacional e no caminho da luta antifascista que culminou em Abril de 1974. Representou uma enorme e fundamental vitória para as forças democráticas contra o fascismo e preconizou a força unitária das massas como o motor capaz de efetivamente fazer frente às forças opressoras.


Entre os que se envolveram no processo de construção do III Congresso estavam muitos, muitos jovens, alguns dos quais, 50 anos depois, aqui estão hoje. Para eles o nosso abraço e homenagem!


Não se cingiu essa grande acção apenas à luta geral contra o fascismo e pela liberdade de uma vida democrática. As suas preocupações, os seus objetivos assentaram largamente nos problemas efectivos que atingiam o povo, os trabalhadores e também a juventude - a guerra colonial, o salário miserável de 15$00, a luta pelo direito à educação e pelo direito ao voto aos 18 anos.


Foi a luta concreta que nos levou a Abril! Que abriu horizontes de esperança. Que trouxe ao nosso País e ao nosso povo uma vida melhor.


Analisando as Conclusões do III Congresso da Oposição Democrática, volvidos 50 anos, é inconcebível que algumas das reivindicações do presente tenham ainda contornos tão semelhantes.


E é por isso que esta comemoração não é apenas olhar para o passado! Comemorar estes 50 anos é falar do presente.


Do nosso presente, em que nos é negado o pleno direito à Saúde e à Educação, acentuando o fosso da desigualdade, em que procuram sentenciar as crianças e jovens das famílias mais desfavorecidas a um círculo vicioso de escassez; em que condenam os trabalhadores a empobrecer, com um pavoroso contraste entre a magreza dos nossos salários e a deterioração das condições de vida e os lucros e luxos assombrosos de uns poucos grupos económicos, em que a especulação imobiliária nos empurram para cada vez mais longe das nossas cidades; em que a precariedade, os abusos laborais e a desregulação dos horários de trabalho, se tornaram regra; em que muitos os jovens, sem perspectiva de dignidade na vida e no trabalho no nosso país decidem emigrar, em que se eternizam discriminações e desigualdades, em que continua o desrespeito pelo ambiente.


E tudo isto apesar da Constituição e do projecto progressista que comporta que, se cumprido, garantiria uma vida imensamente melhor.
Estou aqui enquanto jovem e mãe trabalhadora, a dizer que a aflição é uma condição constante, a cada minuto do dia, e que nenhum de nós pode aceitar continuar a viver assim, porque isto não é a Liberdade pela qual o povo português lutou, conqusitou e continua a defender.


Lembramos, quando tantos se esforçam para rever a História, que a contra-revolução se operou precisamente contra Abril, que estas nossas dificuldades e problemas não são fruto de Abril, mas culpa dos seus inimigos e das suas políticas que não aceitaram o país de direitos, desenvolvimento, soberania e paz – as portas que Abril abriu.


Lembramos que, dos debates aqui realizados, da romagem então reprimida, da luta e da resistência que vinha de trás e que lhe seguiu, da acção por um País novo, nasceu essa extraordinária arma que aponta a um futuro melhor. Nasceu a Constituição da República Portuguesa, que é minha, que é dos meus filhos, que é nossa e que não deixaremos destruir.


Olhemos para a determinação dos milhares que se apresentaram em Aveiro para o III Congresso da Oposição Democrática, dos que sofreram as represálias da violência fascista, dos que se insurgiram contra ela, dos que se mantiveram firmes, essa determinação que nos deixou uma clara mensagem e um claro exemplo de que vale a pena lutar, de que unidos em objetivos comuns sairemos vitoriosos.


Façamos desse exemplo ainda mais motivação e força nesta luta que continuamos a travar para derrubar quem nos explora e empobrece, para fazer valer os direitos e sonhos da juventude e trazer a justiça ao nosso povo e a todos os que sofrem ao nosso lado e no mundo.


Façamos dos Valores de Abril a nossa bandeira e, com eles, a construção de todas e cada uma das aspirações da juventude.


Viva o III Congresso da Oposição Democrática.
Viva a luta da juventude!

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